Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Em Vouzela, a festa de Corpo de Deus revestia-se de grande solenidade e era organizada pela Câmara Municipal. Havia missa solene com grande instrumental e um distinto pregador.
A seguir à missa, organizava-se uma procissão em que os “camaristas” tomavam parte, trajando a rigor, os funcionários públicos, associações locais, cruzes das freguesias vizinhas ornamentadas.
Nas varas do pálio pegavam as pessoas mais distintas da terra, das janelas pendiam ricas colgaduras e as pessoas arremessavam flores.
Depois da Implantação da República (1910), as Câmaras deixaram de fazer a festa, passando a ser organizada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora do Rosário.
Por volta de 1950 veio para a paróquia de Vouzela o Pe. António de Barros Barbosa, e nessa época apenas algumas ruas eram atapetadas com verdura que as pessoas iam colher nas margens do rio.
Então, o Pe. Barbosa lançou a ideia de alindarem as ruas com flores, o que começou a ser feito só em algumas ruas, propagando-se a todas as outras onde passava a procissão.
Cada rua faz os seus moldes, que preenchem com um combinado de cores das flores com o verde do bucho.
Por cada rua onde passa a procissão, os moradores reúnem-se formando equipas que, cinco ou seis dias antes, começam a recolher flores, deslocando-se às aldeias vizinhas, pedindo rosas que armazenam em lojas frescas e giestas amarelas. Em anos de pouca flor, alguns moradores vão buscar flores, no próprio dia de Corpo de Deus para além das serras, saindo por volta as 4H30 da manhã, em busca do amarelo das giestas.
À noite, as pessoas juntam-se e começam a desfolhar as flores. O bucho é colhido em sacos e levado para locais frescos, onde à noite é cortado miudinho. O bucho era cortado por homens, munidos de machadinhas que se sentavam em frente a uma tábua, a quem mulheres e crianças chegavam mãos cheias de bucho que eles iam cortando, produzindo um matraquear cadenciado. No final, havia um convívio em que não faltava um saboroso petisco.
No dia de Corpo de Deus, os trabalhos iniciam-se por volta das 14H30. Os Bombeiros passam com um carro, molhando todas as ruas por onde passa a procissão. De seguida, começam-se a tecer os tapetes. Os moradores juntam-se, já com as tarefas destinadas, coloca-se o molde no chão, e vão-se colocando as flores. Com os baldes de flores e bucho, vão-se construindo finos tapetes.
Todas as ruas têm desenhos diferentes, havendo até uma sã rivalidade entre as ruas, o que torna estes tapetes ainda mais ricos. Mas nesta “rivalidade”, também existe, e muito, a ajuda mutua entre os vários moradores, com a cedência de flores de quem tem mais a quem tem pouco. Nos cruzamentos e praças, são feitos tapetes redondos, artisticamente decorados com temas religiosos. Nos seus cerca de 2Km de procissão, nenhum espaço é deixado sem flores.
Às 17H30 há a Adoração do Santíssimo Sacramento na Igreja Matriz e às 18H inicia-se a imponente procissão. Nela tomam parte quase todas as Irmandades do concelho, juntando-se às Irmandades do Santíssimo Sacramento e do Castelo, bem como os Bombeiros, que fazem guarda de honra ao Santíssimo, que segue debaixo do pálio, e acompanhado por outros padres e Arciprestado, Crianças que fizeram a 1ª Comunhão, catequese dos vários anos, com faixa da Cruzada, Apostolado da Oração, Banda da Sociedade Musical Vouzelense e população.
Os moradores colocam colchas às janelas, lançando pétalas à passagem do Santíssimo.
A procissão sai da Igreja Matriz, aí regressando, onde se finaliza com a bênção do Santíssimo.
Pode parecer muito trabalho para apenas cerca de uma hora de procissão. Mas todo o amor e empenho que é dedicado neste dia na execução destas passadeiras floridas, torna a festa de Corpo de Deus de Vouzela um evento único na região, envolvendo toda a população. Muitos que moram noutras terras, vêm neste dia para ajudar nos trabalhos.
G.I./J.B.:Paula Carreira/Irmandade do SS Sacramento e Nª Sª Rosário

CategoryDiocese, Igreja, Paróquia

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