Papa Francisco convida a reconhecer Jesus através das suas «chagas» para resistir à incredulidade.
O Papa Francisco celebrou hoje no Vaticano a festa da Divina Misericórdia com milhares de pessoas, incluindo missionários dos cinco continentes, sublinhando a centralidade desta proposta na vida da Igreja.
“Entrando hoje, através das chagas, no mistério de Deus, entendemos que a misericórdia não é mais uma das suas qualidades, entre outras, mas o palpitar do seu próprio coração. E então, como Tomé, já não vivemos como discípulos vacilantes; devotos, mas hesitantes; também nós nos tornamos verdadeiros apaixonados pelo Senhor”, disse, na homilia da Missa a que presidiu na Praça de São Pedro.
Uma semana depois da celebração da Páscoa, Francisco convocou os Missionários da Misericórdia – que criou no último Jubileu extraordinário (205-20016) – e movimentos ligados a esta devoção.
“Podemos considerar-nos e chamar-nos cristãos, e falar sobre muitos belos valores da fé, mas, como os discípulos, precisamos de ver Jesus tocando o seu amor. Só assim podemos ir ao coração da fé e, como os discípulos, encontrar uma paz e uma alegria mais fortes que qualquer dúvida”, declarou o pontífice.
A intervenção partiu do episódio entre o discípulo São Tomé e Jesus Cristo, após a ressurreição, sublinhando que os discípulos reconheceram Jesus “através das suas chagas”.
“Também a nós não basta saber que Deus existe: um Deus ressuscitado, mas longínquo, não preenche a nossa vida; não nos atrai um Deus distante, por mais que seja justo e santo. Não. Nós também precisamos de ‘ver Deus’, de ‘tocar com a mão’ que Ele tenha ressuscitado por nós”, assinalou o Papa.
“O Deus ferido de amor vem ao encontro das nossas feridas. E torna as nossas chagas miseráveis semelhantes às suas chagas gloriosas. Pois Ele é misericórdia e faz maravilhas nas nossas misérias”
Francisco convidou os católicos a não ter medo da Confissão, para que todos se possam “deixar-se perdoar” por Deus.
“Pergunto a cada um de vós: deixo-me perdoar?”, questionou.
O Papa defendeu que a “vergonha” das próprias falhas não deve ser uma “porta fechada” para Deus, mas um “primeiro passo” para o encontro.
“Diante de Deus, somos tentados a fazer como os discípulos no Evangelho: trancarmo-nos por detrás de portas fechadas. Eles faziam isso por temor e nós também temos medo, vergonha de abrir-nos e contar os nossos pecados”, assinalou.
A homilia alertou depois para a “resignação” que leva a renunciar à misericórdia divina, em vez de “receber o perdão de Deus, e seguir em frente, de perdão em perdão”.
O Papa falou de uma terceira “porta fechada” no coração dos crentes, o seu pecado.
“Quando cometo um grande pecado, se eu, com toda a honestidade, não me quero perdoar, por que o faria Deus? Esta porta, no entanto, está fechada só de um lado: o nosso; para Deus nunca é intransponível”, defendeu Francisco.
“Como Tomé, pedimos hoje a graça de reconhecer o nosso Deus: de encontrar no seu perdão a nossa alegria; na sua misericórdia a nossa esperança”, concluiu.
Centenas de missionários da misericórdia estão reunidos em Roma, de 7 a 11 de abril, num evento organizado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da nova Evangelização.
O programa inclui uma audiência com o Papa, esta terça-feira, no Vaticano, após a qual os missionários celebrarão a Missa na Basílica de São Pedro, ao meio-dia de Roma.
Francisco quis agradecer hoje o “serviço” prestado pelos missionários da misericórdia, no final da Missa, antes de deixar uma saudação às comunidades cristãs que, por seguirem o calendário juliano, celebram este domingo a Páscoa.
“Que o Senhor ressuscitado os encha de luz e de paz e conforte as comunidades que vivem em situações particularmente difíceis”, desejou.
G.I./Ecclesia:OC