PÁSCOA 2020
O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Aleluia!
1.Caríssimos padres, caríssimos irmãos e irmãs na fé, todos vós que através das novas tecnologias viveis e acompanhais na alegria do mistério da noite da Vigília Santa da Páscoa, esta celebração Eucarística. Uma celebração que culmina o Tríduo Pascal, mas que, ao mesmo tempo, sendo de festa e de alegria, nos entristece, porque ainda não vemos a Luz de Cristo Ressuscitado; ainda estamos cegos pelo nosso pecado e por isso ainda não O reconhecemos; sentimos o vazio das nossas igrejas porque faltais cá vós, irmãos e irmãs, que habitualmente vejo, cada um e cada uma no vosso lugar, sorrindo-vos, desejando-vos boas festas, dizendo-vos que vale a pena sermos bons, sermos cristãos.
2. Temos vivido uma Quaresma atípica. Estava a começar e surge esta epidemia que depois foi crescendo na sua evolução de espalhar terrificamente este vírus Covid-19 e se tornou, no dia 12 de março, pandemia, atingindo a maior parte do mundo, senão mesmo todos os lugares do mundo.
Que grande paradoxo!… Cristo Ressuscitado!… Ressuscitou para todos e para todo o mundo. E este vírus, inimigo e invisível, que se revoltou contra a criação, também tenta, naquilo que ele é de grave, ferir, magoar, destruir, matar a criação. Por isso, nesta Vigília, nesta noite Santíssima da Páscoa, sabemos que Cristo Ressuscitou, está no meio de nós, como ouvimos descrever no Evangelho o túmulo está vazio, Ele Ressuscitou…
As mulheres foram pela manhã para lhe prestarem a sua homenagem, para O adorarem, para cuidarem do seu Corpo Morto, mas, quando chegaram, encontraram um anjo que lhes disse que Ele já não estava ali, estava vivo. É e era o Vivente… há de continuar a sê-lo, porque Ele é de “ontem, de hoje e de amanhã”.
Pode ser, porventura, este vírus tão potente, tão destruidor. Poderíamos dizer, dando tanto trabalho aos investigadores, aos homens da ciência, aos homens da farmacologia. Um dia dará que fazer também aos historiadores e também a nós, porque havemos de perguntar-nos: Porquê, Senhor, esta pandemia?
3. Iniciámos esta Liturgia Santa, da noite da Páscoa, benzendo o Lume novo; acendemos o Círio Pascal, que transportámos festivamente. Esta luz que se acendeu simboliza Cristo, Luz do mundo, o Ressuscitado; Aquele que quer iluminar a terra inteira. Ouvimos o canto do Precónio Pascal, um canto de louvor à criação. E por isso, na primeira leitura, tirada do livro do Génesis, ouvíamos a história e o relato da Criação: Deus criou; criou por amor e para o bem; e criou, por fim, o homem. E tudo o que Ele criou era bom.
Sentimos, neste início do século XXI, que algo de maléfico, que vem também da natureza, se revolta contra o homem. Referimo-nos a este vírus, que vitima milhares de irmãos e de irmãs, uns pelo sofrimento, outros pelo medo, outros pela própria morte.
4. Pela vossa Santa Ressurreição, pela Luz que dissipa as densas trevas, fazei com que surja no mundo em que vivemos essa nuvem de fogo, que conduzia o Povo de Israel através do Mar Vermelho e que se afaste essa nuvem densa e pesada desta epidemia para que novos tempos, novos dias, surjam para a humanidade.
Por isso é que estamos a celebrar a Páscoa – palavra que significa passagem –; Cristo, vencendo o pecado e a morte, passou para a Vida Nova, a sua Vida, a Vida que tinha antes junto do Pai.
Por isso, Ele, com o Espírito, pode renovar todas as coisas, como ouvimos na terceira leitura do Livro de Ezequiel. Ele, com o Seu Espírito, pode renovar todas as coisas.
E é nesta procura da bondade do Senhor, como cantávamos no primeiro salmo – ó hino da vitória sobre o mal, o pecado e esta pandemia –, que nós, como o povo de Israel, cantamos este hino em honra do Senhor, porque Ele venceu e derrotou o cavalo e o cavaleiro. Também no terceiro salmo nos convidava a buscarmos a Água Viva que é o próprio Cristo.
5. Nós estamos a viver na nossa Diocese um ano dedicado ao Batismo, caminho de santidade; estamos a debruçar-nos sobre a Iniciação Cristã, para que no Batismo, na Confirmação e na Eucaristia encontremos a força da palavra da leitura de Paulo aos Romanos: “Todos vós que fostes batizados em Cristo, sois chamados a morrer para o pecado para viver a vida nova da graça”. Este é que é o caminho da santidade: morrer para o pecado e viver para a graça de Deus.
Nestes tempos difíceis do nosso mundo e da nossa história, encontramos a criação doente, e, por isso, temos que pedir ao Senhor que cuide da casa comum.
Ele que criou todas coisas e criou o homem para conduzir os destinos da terra, dê aos investigadores, aos médicos, aos profissionais de saúde, todo o saber, toda a inteligência, todo o cuidado terapêutico e também cuidados humanos. Pedimos também os bens espirituais para todos aqueles que, vítimas desta pandemia ou de outras doenças graves, requerem o cuidado humanizador e humanizante da pessoa humana.
Caríssimos irmãos e irmãs, nesta noite Santíssima da Páscoa, em que se elevou o Círio Pascal, ao ser cantado o Precónio era-nos dito que essa luz há de brilhar sempre e sem cessar, porque ela dissipou as trevas e fez surgir o dia. Vamos pedir ao Senhor que nos ajude a todos a viver santamente esta Páscoa e a encontrar, na luz que é Cristo, o verdadeiro caminho da vida, para podermos levar aos irmãos os votos de Santas Festas de Páscoa.
6. Em isolamento social, mas em comunhão espiritual, celebramos a mãe de todas as vigílias, a Vigília Pascal, porque tudo vem do Mistério Pascal e tudo caminha na vida cristã para a Páscoa.
Que Aquele que esteve morto e foi sepultado, mas cujo túmulo agora está vazio, porque Ele Ressuscitou, dê ânimo, força e esperança a cada um de nós.
Talvez, porventura, sintamos também aquilo que sentiram as mulheres ao dirigirem-se ao túmulo: por um lado, a alegria; por outro, o temor. Alegria porque temos fé, porque temos esperança e queremos ser próximos e caritativos; mas também temor porque pedimos a Deus o auxílio e a graça para que seja erradicada do nosso mundo esta pandemia, que já vitimou tantos irmãos e irmãs.
Àqueles que partiram, que o Senhor, o Ressuscitado, os faça participar da sua glória.
Aos doentes e aos seus cuidadores e às famílias, a toda a nossa Igreja diocesana o Senhor dê a força e a graça para reencontrarmos o verdadeiro caminho da fé cristã. Esse será sempre o caminho do Batismo como esperança de santidade.
Cristo Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Aleluia!
Boas Festas a todos e a todas, e às vossas famílias. Em família, em comunhão. Aleluia!
Viseu, 11 de abril de 2020
+ António Luciano, Bispo de Viseu