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Esperamos o fim da guerra no mundo, para vivermos em paz todos os dias da nossa vida. Porque existem as guerras, as divisões, os conflitos, os ódios, a violência entre as pessoas e as nações?

A resposta é difícil de dar, porque no mundo de hoje existem muitas coisas que se sobrepõem ao ser, à felicidade, ao agir, ao realizar o maior bem da pessoa humana. Na sociedade atual há muitos interesses pessoais, nacionais, religiosos, políticos, económicos e sociais.

A humanidade está envolvida em tantas provações, dores, sofrimentos e vulnerabilidades, que acaba por ficar frágil e doente, contagiando a pessoa humana, alterando o equilíbrio do planeta e pondo em risco a harmonia universal da criação.

A guerra “aos pedaços”, que estamos a viver um pouco por todo o mundo, é um fenómeno complexo que não podemos ignorar, mas temos que fazer algo, tudo e até o impossível para alcançar a paz para o mundo.

Como afirma o Papa Francisco na sua última Exortação: “Todos nós devemos repensar a questão do poder humano, do seu significado e dos seus limites. Com efeito, o nosso poder aumentou freneticamente em poucos decénios. Realizámos progressos tecnológicos impressionantes e surpreendentes, sem nos darmos conta, ao mesmo tempo, que nos tornámos altamente perigosos, capazes de pôr em perigo a vida de muitos seres e a nossa própria sobrevivência. Pode-se repetir hoje, com a ironia de Soloviev: “Um século tão avançado que teve a sorte de ser o último”. É preciso lucidez e honestidade para reconhecer a tempo que o nosso poder e o progresso que gerámos estão a virar-se contra nós mesmos” (Laudate Deum, 28).

Uma guerra e conflitos, que se arrastem muito tempo, destroem a vida das pessoas, das instituições, aniquilam países e provocam a morte e o sofrimento de muitos seres inocentes. As Organizações Internacionais, outras Instituições não Governamentais e os responsáveis dos próprios países estão a ter dificuldade em negociar a paz e fazer acordos estáveis para pôr fim às guerras e aos conflitos sociais e assim cuidar da vida das vítimas da guerra.

Diante de tantos refugiados, inocentes e vítimas de guerra, é um ato de amor, de confiança, de justiça, de fraternidade e de solidariedade acolher e socorrer quem precisa. A grandeza plena da felicidade da pessoa humana está em dar-se, gastando a sua própria vida ao serviço dos outros.

Como diz o Livro dos Atos dos Apóstolos, a maior missão da pessoa humana é dar-se aos outros: “Há mais alegria em dar, do que em receber”. Esta afirmação torna-se hoje muito atual e desafiante para a relação humana e para a prática pastoral.

As pessoas dos nossos dias devem unir-se e saber todas, com consciência ética, o que significa o esforço pessoal e comunitário para construir a paz.

A paz não é a ausência de armas ou material bélico. A paz é dom do amor de Deus capaz de colocar no coração humano sentimentos de bem, para produzir frutos de cooperação, pondo em prática, nos nossos dias ameaçados pela guerra, a experiência do diálogo, do acolhimento, da oração e da fraternidade universal ao serviço das pessoas e dos povos.

A paz é um sonho de todos e um desejo dos povos, mas também uma promessa bíblica: “O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz” (Num 6,26). Também é a prece do salmista: “O Senhor abençoará o seu povo na paz” (Sl 28 [29] ).

Na plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, que nasceu de mulher (cf. Gal 4,4), a quem chamaram o Príncipe da Paz, o Emanuel, o Deus-Connosco.

Jesus Cristo, Salvador de toda a humanidade, é a nossa paz, que, pela força do amor e da prática da justiça, oferece aos seus discípulos o mandamento novo do amor.

Porque surgem as guerras? De onde vêm? Porque não terminam as guerras? Todas as guerras e conflitos armados são altamente destruidores da harmonia e da convivência dos povos entre si, do seu próprio desenvolvimento e do bem comum.

Digamos não à guerra, ao ódio, às mentiras, às injustiças, às perseguições e a tudo aquilo que contribui para uma cultura de morte.

O nosso Papa Francisco alerta para as situações desesperadas de guerra no Médio Oriente, em “Gaza, Israel, Cisjordânia” e noutras nações que começam a ficar esquecidas, como a “Ucrânia, a Síria, o Sudão”, mas onde a guerra continua a semear terror e morte.

Não queremos mais guerra, nem morte, nem ódio, nem violência, nem conflitos armados em nenhuma parte do mundo. Queremos a paz! Trabalhemos pela paz! Rezemos juntos pela Paz! Sejamos protagonistas da paz e do bem (Francisco de Assis).

Como se torna difícil compreender o fenómeno da guerra, numa sociedade tão desenvolvida como a dos nossos dias e desejosa de viver em paz.

A guerra nunca é a solução para nenhuma das partes. Por isso, ao olhar para todos os cenários de guerra, com tantas mortes, com tanta destruição, com tanta miséria e com tanta fome generalizada, vivo, num sonho, o desejo de que não fique na utopia: Acredito nas palavras do salmista: “O Senhor abençoará o seu povo na paz”.

Como ficariam felizes e contentes os povos da “Ucrânia e do Médio Oriente, incluindo “Israel e a Palestina”, a “faixa de Gaza”, a Terra Santa, onde Jesus nasceu, a cidade de Belém, se os anjos de novo cantassem o hino: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Jerusalém é chamada a cidade da Paz, mas muitos preferem a guerra em detrimento da paz. Como ouvi recentemente numa conferência, o nosso mundo deseja a ordem, mas está mergulhado numa grande desordem, que provoca o caos, a infelicidade e a guerra.

Como muitos desejam, a paz é urgente e necessária nos corações, na vida das pessoas, nas relações pessoais, institucionais e no princípio do respeito mútuo universal entre todos os povos. Só na paz verdadeira se constrói a justiça e o progresso capazes de criar e promover o desenvolvimento dos povos.

Precisamos de aprender a ser construtores da paz, protagonistas da esperança, respeitadores das diferenças, tolerantes diante dos mais fracos e indefesos, acolhedores e cuidadores dos vulneráveis e mais frágeis da sociedade.

Os cristãos, através da oração, do diálogo, do encontro entre os povos e das conversações internacionais, devem buscar caminhos novos, capazes de destruir as armas do ódio e fazer renascer das cinzas e dos escombros a felicidade da paz.

Como era bom que se cumprisse de novo a profecia, que hoje se cumprisse a Palavra do Evangelho que fala de uma criança que nasceu há dois mil anos, para ser o Príncipe da Paz. Todos juntos, saibamos dizer como Jesus: “Paz a vós”. (Lc 24,36); “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19-21); e ainda “Senhor dá-nos a tua paz, deixa-nos a tua paz”, para sermos felizes.

Não permitamos a destruição de mais cidades, vilas e aldeias, nem a morte de mais inocentes, o aumento da violência que gera a miséria, a fome, a destruição e a morte.

Saibamos nós cristãos e pessoas de boa vontade responder ao convite do Papa Francisco e dos nossos Bispos, para fazer do dia 27 de outubro de 2023 um dia de oração e de jejum pela paz, pedindo o fim da guerra em Israel e na Palestina, alertando para a “catástrofe” humanitária na faixa de Gaza.

Olhemos o mundo com esperança e, como São Francisco de Assis, sejamos construtores da paz em toda a parte. “Enfrentando o terror com o amor, trabalhemos a favor da paz” (Na Alegria, Papa Francisco p. 187).

Confiemos à Rainha da Paz, pelos méritos da oração e do jejum, o fim da guerra e o dom da paz no mundo.

Viseu, 20 de outubro de 2023

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

Artigo de opinião publicado na Ecclesia a 21/10/2023

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