Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

“Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que cada um de nós os ouve falar na sua própria língua?” Mas eu me pergunto poderá a Igreja sobreviver, se não falar a língua dos homens?

Tem-se falado muito, nestes últimos tempos, de que a Igreja é sinodal. Que quer isso dizer? Basicamente isto: uma Igreja que dialoga. E dialoga dentro de si e dialoga com o mundo. E para falar é preciso usarmos um código de linguagem em que os interlocutores se possam entender…

Imaginemos a cena narrada dos Atos (At 2, 1-11) e que termina com o Espírito a abalar as estruturas da casa onde estavam os Apóstolos e Maria. Lá fora havia festa, com muita gente, gente de todo o lado… Mas os apóstolos e as mulheres não estavam a participar. E não participavam porquê? Porque ainda estavam de luto por Jesus. Ainda recordavam o quão bom era quando Jesus estava ali com eles. Ele estava, mas não estava da forma como eles estavam habituados a vê-l’O. E estavam com saudades da imagem antiga de Jesus.

Também a Igreja se agarra muito ao “antigamente é que era bom… havia igrejas cheias… gente muito devota…” Mas agora já não existe assim, desse modo… A Igreja está de luto…

E eis que um vento forte abala os alicerces daquela casa alicerçada no medo e no saudosismo, estagnada no tradicionalismo, no “sempre se fez assim”.

O rugido fez lembrar uma trovoada. O vento é um vento de mudança. The Wind of Change, cantavam os Scorpions em 1990. Ele traz mudanças. Uma delas, extraordinária. Os apóstolos são capazes de encetar uma conversa com todos, agora que os muros foram derrubados e eles estão no meio das outras pessoas e não isolados. Cada um, do ponto de observação em que se encontra, da sua tribo, da sua linguagem fechada… entende o que a Igreja diz e, por sua vez, a Igreja acolhe “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias” (GS 1) de todos eles.

D. Tolentino de Mendonça dizia um dia o seguinte: “A linguagem oficial da Igreja é absolutamente incompreensível e ilegível para grande parte dos jovens. E isso é um problema muito grande porque, antes de tudo, coloca-se a questão da linguagem e do entendimento. (…) Nem sempre a Igreja tem tido a preocupação de se perguntar se aqueles para quem fala a entendem verdadeiramente.” (…)

Mas a palavra de Deus é uma só, e cada um pode ouvi-la na sua própria língua. E é assim que a Igreja é universal… não é só uma igreja de padres que falam para padres… ela é universal porque fala a língua de todos, mergulhando a sua mensagem nas diversas culturas, porque cada um de nós, do ponto de observação onde se encontra é “capaz de Deus”.

E muitas comunidades vão nascer, na diversidade das línguas e culturas, mas será uma só Igreja. A Igreja não é una porque fala a uma só língua. É una porque estamos todos ligados a Jesus e ao mesmo Espírito de Jesus, porque cultivamos os mesmos gestos de Jesus; porque tornamos Jesus vivo. Melhor: é o Espírito que torna vivo Jesus em nós! (…)

Uma Igreja sinodal constrói-se a partir daqui, a partir do Espírito que entra em cada um e confia a cada um a missão: anunciar o Amor. E não há Igreja se não for missionária, se não estiver orientada para fora de portas. E para estar aí fora, precisa de falar as línguas dos homens. (…)

Pe. Humberto Martins, Sacerdote Dehoniano

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