O Papa Francisco disse ontem em Assis, durante um encontro inter-religioso pela paz, que nenhuma guerra é “santa” ou pode ser justificada com o “nome de Deus”.
“Não nos cansamos de repetir que o nome de Deus nunca pode justificar a violência. Só a paz é santa, só a paz é santa, não a guerra”, exclamou, na conclusão da iniciativa que levou representantes de várias comunidades cristãs e religiões, além do mundo da cultura e do pensamento, à cidade italiana que viu nascer São Francisco de Assis.
Perante centenas de responsáveis, o Papa aludiu aos “dramas” de quem teve de deixar a sua terra ou de quem foi vítima da violência.
“Todos eles têm uma grande sede de paz. Não queremos que estas tragédias caiam no esquecimento. Desejamos dar voz em conjunto a quantos sofrem, a quantos se encontram sem voz e sem escuta”, assinalou.
Na Praça de São Francisco, junto do Papa, estavam o rabino Abraham Skorka, da Argentina, seu amigo de longa data; Abbas Shuman, vice-presidente da Universidade Al-Azhar (Egito); e Gijun Sugitani, conselheiro supremo da Escola Budista Tendai (Japão).
Os participantes ouviram o testemunho de Tamar Mikalli, vítima da guerra na Síria, que teve de fugir da cidade de Alepo e chegou à Itália através de corredores humanitários, bem como o testemunho de um rabino, sobrevivente do Holocausto, e intervenções de vários representantes religiosos.
Francisco encerrou o encontro com uma reflexão sobre a importância da oração pela paz num mundo que vive “o paganismo da indiferença”.
“Não podemos ficar indiferentes. Hoje o mundo tem uma sede ardente de paz. Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas sempre causa de sofrimento e pobreza”, denunciou.
O Papa recordou, a este respeito, a sua viagem à ilha grega de Lesbos, juntamente com o patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu I, também presente em Assis.
“Vimos nos olhos dos refugiados o sofrimento da guerra, a angústia de povos sedentos de paz”, assinalou.
O pontífice argentino mostrou a sua confiança na força “humilde” da oração, dos que não têm armas, para que “cessem guerras, terrorismo e violências”.
“Paz, um fio de esperança que liga a terra ao céu, uma palavra tão simples e ao mesmo tempo tão difícil”, afirmou.
A presença de várias tradições religiosas, defendeu Francisco, mostra que a diferença não é motivo de “conflito”.
“Hoje não rezamos uns contra os outros, como às vezes infelizmente sucedeu na História. Pelo contrário, sem sincretismos nem relativismos, rezamos uns ao lado dos outros, uns pelos outros”, precisou.
No 30.º aniversário do primeiro encontro inter-religioso do género, promovido pelo Papa João Paulo II em Assis, Francisco pediu que todas as confissões se mobilizem para defender a “sacralidade da vida humana”, promover a paz entre e “salvaguardar a criação”.
“O nosso futuro é viver juntos. Por isso, somos chamados a libertar-nos dos fardos pesados da desconfiança, dos fundamentalismos e do ódio”, observou.
O Papa lamentou o “cinismo” ignora os problemas alheios e a “abordagem virtual” de quem “julga tudo e todos no teclado dum computador”.
“A nossa estrada é mergulhar nas situações e dar o primeiro lugar aos que sofrem”, realçou.
Francisco concluiu com um apelo aos chefes religiosos, para que sejam “pontes sólidas de diálogo, mediadores criativos de paz”.
“Que os crentes sejam artesãos de paz na invocação a Deus e na ação em prol do ser humano”, pediu.
O encontro internacional e inter-religioso pela paz em Assis, com o tema ‘Sede de paz. Religiões e cultura em diálogo’, termina com a leitura de um ‘Apelo de Paz’.
G.I./Ecclesia:OC