Nova carta apostólica do Papa sublinha necessidade de acompanhar famílias e pessoas em sofrimento.
O Papa Francisco publicou hoje a carta apostólica ‘Misericordia e mísera’, na qual manifesta a sua preocupação com o clima de “tristeza” que se vive em várias partes da sociedade contemporânea.
“Numa cultura frequentemente dominada pela tecnologia, parecem multiplicar-se as formas de tristeza e solidão em que caem as pessoas, incluindo muitos jovens”, adverte, no texto que assinala o final do Jubileu da Misericórdia (dezembro 2015-novembro 2016), o Ano Santo extraordinário encerrado solenemente este domingo no Vaticano.
Francisco alude a um futuro “refém da incerteza” e sem horizonte de estabilidade, gerando assim sentimentos de “melancolia, tristeza e tédio, que podem, pouco a pouco, levar ao desespero”.
“Há necessidade de testemunhas de esperança e de alegria verdadeira, para expulsar as quimeras que prometem uma felicidade fácil com paraísos artificiais”, defende.
A nova carta apostólica lembra a necessidade de apoiar as famílias nos momentos de “crise”, apresentando o matrimónio como “uma grande vocação”.
“A beleza da família permanece inalterada, apesar de tantas sombras e propostas alternativas”, sustenta o Papa.
Nas famílias, “lugar privilegiado da misericórdia”, existem dificuldades como “a traição e a solidão”, ou as preocupações dos pais com o “crescimento e formação” dos filhos, que exigem a atenção da comunidade católica.
“A experiência da misericórdia torna-nos capazes de encarar todas as dificuldades humanas com a atitude do amor de Deus, que não se cansa de acolher e acompanhar”, pode ler-se.
O documento fala num “vazio profundo” que pode ser preenchido pela esperança e pela alegria que nasce da fé.
“Nunca deixemos que nos roubem a esperança que provém da fé no Senhor ressuscitado. É verdade que muitas vezes somos sujeitos a dura prova, mas não deve jamais esmorecer a certeza de que o Senhor nos ama”, refere Francisco.
O pontífice argentino realça depois a importância de estar perto de quem sofre e de “enxugar” as suas lágrimas nos dias da tristeza e da aflição.
“Quanta dor pode causar uma palavra maldosa, fruto da inveja, do ciúme e da ira! Quanto sofrimento provoca a experiência da traição, da violência e do abandono! Quanta amargura perante a morte das pessoas queridas! E, no entanto, Deus nunca está longe quando se vivem estes dramas”, assinala.
Francisco elogia a capacidade de “silêncio” perante o sofrimento alheio, como um momento de força e de consolação.
Neste contexto, o Papa pede que a Igreja viva com particular atenção o “momento da morte”, na cultura contemporânea, como uma passagem que, “embora dolorosa e inevitável, é cheia de sentido”.
A carta apostólica ‘Misericordia et misera’ foi assinada publicamente este domingo, na Praça de São Pedro, após o final da Missa que encerrou o Jubileu da Misericórdia, 29.º Ano Santo na história da Igreja Católica.
G.I./Ecclesia:OC