O organismo diz que seria «uma traição democrática aprovar» a morte assistida, «num parlamento que não foi mandatado para isso».
A Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) reforçou a sua posição contra e eutanásia e contra o aborto, no âmbito do debate a decorrer no parlamento e quando passam 10 anos do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o presidente da AMCP, Carlos Alberto da Rocha, apelou ao “bom senso dos deputados” no sentido de “não aprovarem neste momento qualquer iniciativa que legalize a eutanásia em Portugal”.
Atualmente estão na Assembleia da República duas petições sobre a eutanásia, uma a favor, do movimento cívico ‘Direito a Morrer com Dignidade’, e outra contra, entregue pela Federação Portuguesa pela Vida e intitulada ‘Toda a vida tem dignidade’.
O presidente da AMCP frisa que “a posição dos médicos católicos é claríssima. Dar a morte a alguém pela eutanásia ou ajudar alguém a morrer através do chamado suicídio assistido” é atentar contra o valor da vida e “não podem ser de maneira nenhuma considerados atos médicos”.
“O médico existe, a sua vocação, é para cuidar, apoiar a pessoa doente e jamais terminar a sua vida”, sublinhou aquele responsável.
Por outro lado, o médico ginecologista recorda o “contexto em que o atual parlamento foi formado”, sem ter passado pelo escrutínio do “eleitorado”.
“Seria uma verdadeira traição democrática aprovar a eutanásia num parlamento que não foi mandatado para isso”, apontou.
Para Carlos Alberto da Rocha, “a alternativa válida, sólida e médica à eutanásia” tem que ser a “aposta” nos “cuidados paliativos”.
“Os testemunhos que tenho acompanhado têm sido todos no sentido de que bons cuidados paliativos têm muita eficácia”, salientou.
O responsável pelos Médicos Católicos abordou também a questão do aborto, numa altura em que passam 10 anos do referendo que permitiu a despenalização em Portugal da interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas.
No total, desde a despenalização do aborto até às 10 semanas de gravidez, em 2007, foram feitas mais de 150 mil interrupções.
Há 10 anos a Associação dos Médicos Católicos Portugueses esteve envolvida no referendo pelo lado do não.
Carlos Alberto da Rocha classificou os 10 anos deste referendo sobre o aborto como um aniversário “triste” e disse esperar que, “um dia, a maioria dos portugueses compreenda que esta medida não é solução e que daqui a mais 10 anos já não se fale nesta lei”.
O presidente da AMCP falou com a Agência ECCLESIA no âmbito de um encontro nacional dos Médicos Católicos, este sábado no Porto, que teve como tema ‘Médico – o Curador Ferido’, e abordou a realidade dos profissionais de saúde que também enfrentam a doença e a fragilidade.
Um dos desafios em foco, explicou Carlos Alberto da Rocha, foi o chamado ‘burnout’ na medicina, ou seja, “o excesso de trabalho e a exigência, a sobrecarga que é posta aos médicos”.
O até há pouco tempo bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, foi um dos oradores presentes no evento e confirmou a importância deste problema para a classe médica.
G.I./Ecclesia:JCP