Rostos femininos que «em nome da fé e do amor, deram a sua vida», realça o padre Tony Neves.
O Superior Provincial da Congregação dos Missionários do Espírito Santo em Portugal recorda, neste Dia Internacional da Mulher, a história de “tantas mulheres que, em nome da fé e do amor, deram a sua vida”.
“Há muito quem creia que isso do martírio é só para homens. Mas a história da Igreja desmente-o”, sublinha o padre Tony Neves, num texto que poderá ler esta sexta-feira, na edição digital do Semanário ECCLESIA.
Como missionário espiritano, o sacerdote teve ocasião de testemunhar vários momentos de sacrifício e de entrega, protagonizados por mulheres que “não guardaram as suas vidas porque acharam mais importante oferecê-las para que houvesse mais justiça, paz, fraternidade e liberdade no mundo”.
Na memória guarda por exemplo o tempo de missão em Angola, quando “a guerra civil fazia razias entre as populações pobres e indefesas”.
“Nos momentos mais quentes dos combates, quem podia fugir não pensava duas vezes e punha-se a mexer para terras mais calmas. Mas as missionárias e os missionários decidiram partilhar a má sorte de um povo mártir e ousaram ficar para ser a voz dos silenciados pelos senhores daquela terra e daquela guerra”, lembra aquele responsável.
O padre Tony Neves deixa o nome de duas mulheres, de duas “missionárias mártires” cujo legado merece ser alvo de “homenagem” neste Dia Internacional da Mulher.
A Irmã Lurdes Aguiar, uma religiosa teresiana natural do Marco de Canavezes, na Diocese do Porto, “assassinada a 4 de dezembro de 1992” quando participava na Missão do Canhe, nos arredores do Huambo.
“Tinha 72 anos de vida e 43 de Angola. O seu coração, com a largueza do mundo, distribuía comida e roupa todos os dias aos pobres que lhe batiam à porta. E foi para defender o armazém que enfrentou os bandidos armados que a matariam naquele trágica noite”, conta o Superior Provincial dos Espiritanos.
Outro nome é o da Irmã Maria Joaquim, precisamente uma religiosa Espiritana, natural de Tondela, na Diocese de Viseu, cuja história também ficou intimamente ligada a Angola e à cidade do Huambo.
Foi durante a ‘batalha dos 55 dias’, um conflito entre as forças do MPLA e da UNITA que arrasou o Huambo em 1992, que esta missionária perdeu a vida, atingida por uma bomba em casa.
De acordo com o padre Tony Neves, tratava-se de uma mulher que “não olhava a perigos” e que mesmo no pico dos combates “ia, diariamente da Comunidade Espiritana à destruída pediatria do Hospital Central para acompanhar as crianças que ali enfrentavam a morte por doença e guerra”.
“Presto homenagem a todas as muitas mulheres da minha vida, sobretudo às que deram tudo para que o mundo fosse melhor”, conclui o sacerdote.
O Dia Internacional da Mulher, assinalado hoje, tem estado em destaque na edição mais recente do Semanário ECCLESIA, que partilha vários testemunhos de mulheres com responsabilidades em instituições católicas em Portugal, a nível nacional e diocesano.
Rostos femininos da Igreja em Portugal é a proposta do dossier introduzido por duas intervenções do Papa Francisco, que tem pedido desde o início do seu pontificado uma presença efetiva das mulheres nos locais de decisão, na Igreja e na sociedade.
G.I./Ecclesia:JCP