2017 é o ano do centenário das aparições em Fátima e também da revolução soviética.
O Santuário de Fátima recebe a partir de ontem a peregrinação dos bispos dos países de expressão russa, até dia 14, num ano em que se assinalam centenários de acontecimentos opostos, nomeadamente, as aparições de Nossa Senhora e a Revolução Comunista.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, o historiador José Milhazes considera que a conversão da Rússia, referida na mensagem de Fátima, “não é ao catolicismo” mas um regresso “ao mundo cristão” e à “civilização europeia”.
“A partir daí, começa um caminho de aproximação com outras Igrejas que será muito longo”, observa José Milhazes.
O historiador realça como primeiro passo o encontro do Papa Francisco com o patriarca ortodoxo de Moscovo Cirilo, com um abraço que ficou para a história na capital cubana.
“Considerei quase milagre”, adianta, frisando que a relação entre as duas Igrejas vai ser um “diálogo difícil, longo” porque têm “divergências fortíssimas”, como o papel do Papa, ou o facto de que a “Igreja católica é universal e a Igreja Ortodoxa é nacional, diria até nacionalista”.
Em 2017, celebra-se o Centenário das Aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos na Cova da Iria e também os 100 anos da Revolução Soviética e o jornalista espera que Fátima continue a contribuir para aproximação ao mundo de leste.
São dois fenómenos que para o entrevistado devem ser “muito bem analisados”, principalmente, pelas suas consequências e pelos efeitos na “humanidade”.
A revolução política “marcou o século XX e da pior das formas”, uma “ditadura das mais cruéis da Europa, paralelamente ao nazismo”, com “milhões de vítimas”, e Fátima com uma mensagem “diferente, de paz,” que foi “um dos pilares” e com o Papa polaco São João Paulo II “importante na luta contra o comunismo e na luta pelo fim do regime”.
Segundo José Milhazes, o tema de Fátima na Rússia “era proibido, dava direito a prisão” e, mesmo nos tempos modernos, a mensagem chega de “uma forma maior” por causa da internet.
“Embora muitas vezes com muitas deturpações ou mesmo interpretações contrárias, a Igreja Ortodoxa Russa oficialmente não reconhece as aparições”, explica o historiador.
As referencias a Fátima “aparecem muito esporadicamente” e só depois da Segunda Guerra Mundial em países do chamado bloco comunista, onde “a maioria da população era católica”, como na Polónia, em regiões da União Soviética, como a Lituânia, “embora a religião tivesse uma atividade limitada”.
Para o também jornalista, a referência à conversão da Rússia na Mensagem de Fátima tem uma “importância muito grande” e mostra o caracter universal da mensagem mariana da Cova da Iria.
“A Rússia sendo o único país que aparece na mensagem que reflete muito mais do que o país, mas todo um sistema que tinha por objetivo pôr fim à religião”, realça.
Depois de muitos anos a viver na Rússia, José Milhazes escreveu o livro ‘A Mensagem de Fátima na Rússia’ onde “limitou-se” a “apresentar factos”, nomeadamente quando surge pela primeira vez a temática de Fátima no país, e dá conta que a capa da obra foi “escrita (ilustrada) por um ortodoxo e por um padre católico do Rito Bizantino”.
Ontem começou a peregrinação dos bispos dos países de expressão russa ao santuário; às 18h00 celebraram a Eucaristia na igreja paroquial de Fátima.
De recordar que o arcebispo de Moscovo, D. Paolo Pezzi, vai presidir às celebrações de 12 e 13 de julho no Santuário de Fátima, liderando uma peregrinação com cerca de 70 peregrinos, oriundos de vários países da ex-União Soviética.
G.I./Ecclesia:PR/CB/