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Semana de oração pela unidade dos cristãos vista por João Luís Fontes, católico, e Tiago Cavaco, pastor batista.
Os cristãos de todo o mundo vivem entre 18 e 25 de janeiro uma Semana de Oração pela unidade das várias Igrejas e comunidades. A ECCLESIA juntou um católico e um batista para uma conversa: o tema da semana e a sua importância, as oportunidades de intervir na área social e até a música e os salmos foram temas coincidentes.
Há mais de um século que se assinala esta semana que este ano tem o tema “A tua destra, Senhor, esplendorosa de poder”. João Luís Fontes sente que esta semana foi ganhando importância mas ainda há muito a fazer.
Este ano a proposta de oração, preparada pelas Igrejas do Caribe, “foca muito a dignidade humana, a palavra de Deus como fonte de libertação do outro e a unidade tem de partir da conversão pessoal, sem querer moldar o outro à minha imagem.
Trazer o ecumenismo e a reconciliação entre as Igrejas Cristãs nestas lutas pela dignidade humana é necessário e nunca se faz o suficiente”, aponta.
Atento às explicações Tiago Cavaco concorda com esta dimensão mais lata do ecumenismo, dizendo que “os batistas não têm tradição ecuménica” mas que entende o peso do ecumenismo pela forma como este se assume e pode dizer “perante os que não têm fé, mais do que como consenso interno”.
“A minha maior preocupação não é o que conseguimos concordar, eu até valorizo a discórdia, mas na capacidade de concordar que temos de fazer coisas em comum”, refere o pastor batista.
E acrescenta: “Quando penso em unidade penso nas coisas que envolvem a perda da herança cristã; no ocidente, há questões como o aborto, outras ligadas ao casamento, esse é o ecumenismo que eu sinto mais urgente”.
As urgências da unidade dos cristãos
No que Tiago Cavaco e João Luis Fontes concordaram foi na prioridade que tem de ser dada a determinados temas atuais e na necessidade de trabalhar em conjunto.
“Por exemplo no caso do acolhimento dos migrantes…, aponta João Luís Fontes.
“Entendo que nesta área da dignidade de cada ser humano estou de acordo, há tanto para fazer, coisas que os cristãos unidos já deviam estar a fazer, mais unidos e empenhados, menos refastelados na ideia de que não vale a pena fazer”, defendeu, por sua vez, o pastor batista.
Tiago Cavaco avança na conversa de forma prática afirmando que as “questões realmente importantes raramente são fáceis, há lutas que pedem o nosso sacrifício e que esta ocasião sirva para estar onde devemos estar”.
Mas o que falta?
“Faz falta uma partilha mais pragmática de objetivos em comum, o que acreditamos, e sabemos que é difícil… e que tem um custo, mas também acredito que a vida de Cristo teve um custo”, refere Tiago Cavaco.
“Se quisermos levar isto a sério há coisas em que nos devíamos comprometer, declarações comuns, trabalhos em conjunto, começar por sinais concretos e agir em conjunto”, aponta ainda João Luís Fontes.
Uma linguagem universal
Tiago Cavaco é no meio artístico conhecido como Tiago Guillul, um pastor batista que também é músico e acredita “que não dá para separar” as duas facetas.
“Quando fazia música em adolescente acabava sempre por falar do que acredito e da minha fé; continuei sempre a fazer música, mas há diferença quando faço música de igreja tem de ter um efeito direto de promover a adoração.
Estão unidas porque a pessoa que a faz continua a ter fé mesmo quando está a gravar discos”, diz entre sorrisos.
João Luís Fontes, por sua vez, também está ligado à música e participou no lançamento dos dois CD do grupo ecuménico jovem, “uma experiência enriquecedora” para a juventude.
“Destaco a importância da musica na mensagem cristã e é uma linguagem que unia os jovens; neste desafio que foram os dois CD os jovens experimentaram a beleza e harmonia desta diversidade reconciliada através da música”, explica.
Com dois convidados ligados à música foi inevitável pedir uma sugestão que fosse também espelho de unidade e o livro dos salmos foi a escolha, o “grande hino dos cristãos”, designado por Tiago Cavaco.
“Neste livro está expresso tudo o que é possível uma pessoa sentir; os salmos mostram os momentos em que não sentimos a fé e levamos os desesperos a Deus; há sempre um salmo para qualquer momento e sentimento”, disse o pastor batista.
E João Luís Fontes concordou com a escolha do livro dos salmos designando-o como “a primeira escola de rezar sem máscaras”.
O lugar da religião na sociedade
Fala-se do tempo de emissão das confissões religiosas na televisão e na rádio. Os tempos, os intervenientes e a importância deste espaço para quem assiste e ouve.
“Há uma necessidade de insistir que o religioso faz parte da existência humana, nesta procura de sentido do religioso, é elemento fundamental da procura de sentido que estrutura a vida e que tem um direito de cidadania das pessoas”, defende o membro do grupo ecuménico jovem.
Tiago Cavaco responde de imediato que “enquanto concordarmos que uma representação na televisão ou na rádio é uma maneira boa de cidadania não podemos ter justificação da expressão religiosa não estar aí…”
O Amor é outro tema que a sociedade deixou banalizar e que, para estes intervenientes, se aprende também no caminho conjunto das igrejas cristãs.
“Ele quer que sejamos um para que o Mundo creia”, a frase bem conhecida destes encontros, surgiu como mandamento de Cristo aos discípulos, para que “fossem reconhecidos por se amarem uns aos outros”
“Isto é a grande razão de procurar esta reconciliação, seja de via institucional, doutrinal ou mais por via de ação concreta; temos todos como mandato fundamental o amor, e por isso temos de ser reconhecidos por isso”, diz João Luís Fontes.
Uma conversa que abriu portas ao encontro entre igrejas cristãs, descobriu pontos comuns e urgências de diálogo; aconteceu no âmbito da semana de oração pela unidade dos cristãos que se vive até ao dia 25 de janeiro. Em Emissão, pelas 22h45, de segunda a sexta-feira da próxima semana, na Antena 1 da rádio pública.
G.I./Ecclesia:SN/OC

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