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Não é peregrino a pé quem quer. É peregrino quem sente o apelo, alimenta a vontade e dá forma ao desejo de tudo deixar e partir.
Fiz pela primeira vez o caminho para Fátima em maio de 1991. Nesse ano, tal como a grande maioria dos peregrinos que se deslocam ao altar do mundo, fi-lo por promessa.
Voltei em 1996, por oferta, para não mais parar até hoje – sendo que houve anos em que parti e cheguei mais do que uma vez. Mas apesar de quase 30 peregrinações a pé, nenhuma é igual. Quer seja pelas condições atmosféricas, quer seja pelas características do grupo, ou, não menos importante, quer seja pelo estado de espírito de cada um nós.
Metermo-nos ao caminho significa acreditar, entregar e confiar. Este ano partimos 5 pessoas. Nos grupos mais pequenos, retiramos o melhor desta experiência espiritual: menor dispersão, maior concentração e crescimento na fé. Quatro dias de emoções fortes.
Eram cinco da manhã e já tínhamos deixado Canas de Santa Maria, caminhando pela ecopista do Dão até Santa Comba Dão. Depois de aconchegar o estômago junto à barragem da Aguieira, lá retomamos mais uma jornada de fé, olhando para trás, tão importante como ter os olhos bem abertos para a frente. A união do grupo é fundamental. Sua segurança preocupação primeira.
A capela de Nossa Senhora da Boa Viagem já perto do Porto da Raiva é o local escolhido para descansarmos um pouco do peso das mochilas. Em Vila Nova fizemos uma pequena paragem em frente à capela de Nossa Senhora da Sorte, afinal quem não a deseja ?!, e, na aldeia a seguir pernoitámos. A simpatia e generosidade de quem nos acolhe não têm preço. Nestes dias a palavra solidariedade sente-se. É vivida por todos nós.
Este ano decidimos “dosear” melhor a caminhada e ficámos nos arredores Penacova. Afinal, somos peregrinos e não “turbogrinos”. É verdade que queremos muito chegar aos pés de Nossa Senhora, mas em condições. Passados todos estes anos ainda não consegui perceber porque é que para Santiago de Compostela vamos o mais devagar possível e, para Fátima, cometemos loucuras de ir a toda a velocidade…
Cinco da manhã e já a estrada nos volta a receber. O frio que nesta época se fez sentir com demasiada intensidade é o nosso companheiro. O sol reflete a sua luz no Mondego que calmamente lá vai caminhando até Coimbra. Também nós.
Uma das grandes preocupações é a ausência de condições, de segurança e conforto para os peregrinos. Quando redigi o texto da criação do Dia Nacional do Peregrino, tinha isso bem presente. Já muita coisa foi feita, mas muita há ainda a fazer. Castelo Viegas, Assafarge e Alcabideque já passaram. E nós parámos para retemperar forças e reconfortar o estômago. O calor aperta, mas a nossa determinação não esmorece e lá vamos nós de novo entre os ciprestes em direção ao Rabaçal. Acabámos de entrar no caminho de Santiago.
Para norte as setas amarelas lembram-nos que o caminho nos leva ao Apóstolo Maior e para sul as azuis dão-nos a certeza de nos levar à Cova da Iria. A entrada na Igreja de Santa Maria Madalena do Rabaçal é sempre um momento desejado, para repor as energias da alma. O corpo irá ter igual sorte com uma sandes do afamado queijo. E assim recompostos lá partimos em direção a Alvorge. Terra simpática e hospitaleira, aqui parámos no segundo dia. Junto do respetivo Centro Social funciona um albergue para peregrinos. Uma dádiva de generosidade e verdadeira obra de misericórdia, mesmo sabendo que um peregrino não exige, agradece.
Quando as cinco badaladas ecoam no sino da Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Alvorge já nós ladeávamos os campos de Sicó. A vila de Ansião é a paragem seguinte. As mazelas do corpo fazem-se sentir. Cansaço e algum sofrimento. Mas afinal se fosse para fazer férias não vínhamos para Fátima a pé, não é verdade?
O rio Nabão foi a nossa companhia durante grande parte do tempo, agora são os pinhais reduzidos a cinzas que nos roubam o pensamento. Rezar em contacto com a natureza é uma das maiores dádivas de qualquer peregrinação. Olhar para o lado e disponibilizar-se para ajudar é o maior do sentimento Cristão. Tudo isto o caminho nos permite e nos ensina.
Ribeira do Fárrio é a localidade que nos acolhe antes de partirmos para Caxarias. Aquela vila de Ourém recebe-nos junto à casa paroquial no terceiro dia de peregrinação. O cansaço é proporcional à nossa vontade em chegar. Afinal estamos a 20km da meta.
Como queremos participar na eucaristia das 11h no Santuário, são 5.30h da manhã e já nós vamos a subir o monte do Olival. O sol nasce e a nossa fé renasce. Afinal lá, ao longe, já se avista a coroa da Basílica. O farol que nos guia dá-nos ainda mais força.
A última subida antes de entrar no espaço urbano de Fátima é feita com os olhos a brilhar. Afinal vamos entrar no Santuário pela parte de trás da Basílica. Descemos as suas escadas ao ritmo das lágrimas nos regam o rosto. De dor? Não, de agradecimento. De um sentimento que não se consegue descrever. Apenas vivenciar. Na capelinha, ao pé de Maria, agradecemos. Confiamos, Entregamos. As nossas preces e a daqueles que trouxemos no coração. Cansámos o corpo, mas renovamos a nossa fé. De regresso a casa não vimos iguais. Vimos muito mais confiantes.
G.I./J.B.:João Figueiredo

CategoryFátima, Igreja, Paróquia

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