Há dias perguntavam-me o que era isso de ser um ‘hospital de campanha’, recorda D. António Luciano, em entrevista ao Jornal da Beira, e responde:
– Um ‘hospital de campanha’, para mim, que fui militar, significa estarmos no meio das necessidades dando respostas concretas às pessoas. O Papa insiste muito que temos que sair, isso é ótimo, e eu estou de acordo e quero fazer isso. Depois também temos que conjugar as assimetrias que temos para fazer esse trabalho. Eu quando passar na rua, ou noutro lado qualquer, e cumprimentar uma pessoa estou em missão. Quando estiver numa reunião mais eclesial estou em missão, quando estiver numa visita pastoral estou em missão. Por isso, o ser missionário é, no fundo, interpretar a ação de Jesus Cristo, hoje, precisamente junto daqueles que estão connosco. Foi isso que Ele fez, temos muito que aprender com Ele e centrar muito a nossa vida n’ Ele.
Diante da notícia de que tinha sido nomeado Bispo de Viseu, D. António Luciano considerou que “Deus surpreendeu-me com este chamamento para ser Bispo de Viseu e estou aqui com essa alegria, com essa esperança, contando muito com as pessoas que vivem na Diocese, com os cristãos e com os não-cristãos, com o D. Ilídio, com os padres, com os diáconos, com os seminaristas, com os consagrados, com todo o Povo de Deus e com as pessoas de boa vontade”.
Relativamente à proximidade que D. António Luciano revela, em relação às pessoas, ele considera que “sempre fui uma pessoa muito próxima das pessoas. Essa relação trouxe-me sempre muitas vantagens e coisas muito boas. Posso dizer que ao longo da minha vida de Padre nunca tive dificuldades ou se tive foram muito mínimas, porque as pessoas resolvem os problemas estando com as pessoas, amando-as, abrindo-lhes horizontes, falando-lhes da esperança. Há problemas que só se resolvem se ambas as partes quiserem. Eu posso dar o meu contributo como Bispo orientando e iluminando, porque a primeira função do Bispo é ser pai. O Papa Francisco insiste muito no acompanhamento, em ser vigilante, aquele que compartilha a vida. O Bispo tem que ser tudo isso, tem que ser alguém muito próximo, muito amigo. Eu posso ser muito amigo de uma pessoa, mas se ela não quiser mudar um pouco o seu trajeto e o seu caminho é difícil resolver o seu problema. Isto mexe com aquilo que é mais sagrado na vida das pessoas, que é a sua consciência e a liberdade. Temos que respeitar a liberdade das pessoas, esperando que essa liberdade seja feita na responsabilidade e na iluminação que nos vem da oração e da palavra de Deus em cada dia”.
A sua condição de enfermeiro, antes de ter sido ordenado padre também “treinou” o estar próximo das pessoas, como explica:
– Eu vivi desde criança numa casa, dos meus pais e dos meus avós, sempre com muita gente. Tínhamos um pequeno negócio onde estava sempre muita gente e habituei-me a isso. Senti-me sempre muito acompanhado, ou seja, todos tinham lugar à mesa. Portanto, fiz sempre esse caminho de proximidade e quando fui para Coimbra, esse caminho também me abriu novos horizontes, primeiro porque encontrei um bom ambiente na escola [de enfermagem], com muitos colegas e amigos. Por isso, nunca me custou fazer proximidade e relação, o que pode às vezes custar são as decisões que se tomam dessa proximidade de relação. Este meu modo de ser, de saber estar com as pessoas, foi um caminho que achei interessante nesta ligação da saúde com o sacerdócio, até porque as palavras saúde e salvação têm a mesma raiz. Às vezes, os médicos e os enfermeiros metem-se comigo porque dizem que agora eu cuido dos corpos e das almas. Sim, se for preciso cuidar da pessoa integral. São João Paulo II visava muito a saúde integral, porque hoje é muito importante e necessária já que vivemos num mundo muito desintegrado, com muitas dificuldades, com muito stresse entre as pessoas. Às vezes nem imaginamos e só quando paramos um bocado, abrimos o coração e nos debruçamos sobre uma pessoa é que vemos que é preciso ajudar e resolver.
Uma das suas preocupações é contribuir para que todos se sintam bem. E concretiza:
– Eu acho que esse é um bem universal para a Igreja e para o mundo. Sabemos que a Igreja está com falta de sacerdotes em muitos lugares, que conta com o empenhamento dos leigos, mas, por vezes, esse não é um empenhamento perseverante. A Igreja será cada vez mais a Igreja com os sacerdotes, porque precisamos deles. Agora os padres, dentro em breve, serão menos em muitos lugares, não só em Portugal, e se nós não tivermos uma Igreja laical, muito consciente e responsável…
E o entrevistador perguntou a D. António se “podemos chamar-lhe Bispo humanista” e ele respondeu:
– Esta preocupação do maior bem das pessoas é uma coisa que deve ser de toda a gente. Isso nasce de um humanismo. Para quem vive o humanismo à luz da fé, esse é Evangelho vivo incarnado de que fala São João Paulo II, e só depois é que o Evangelho pode ser alegria de viver, pode ser seiva nova em nós. Nós podemos chegar ao fim do dia cansados, mas se tivermos interiormente uma força que nos orienta, se essa força é Deus, e se Jesus Cristo é o motor do nosso ser e do nosso apostolado, chegamos ao fim do dia tranquilos. Isto é que ajuda também as pessoas a serem boas. Nós vamo-nos construindo e a vida vai-se fazendo no dia-a-dia. A vida do amor, da exemplaridade, a vida da santidade de que fala o nosso Papa é um caminho percorrido através de coisas muito simples, mas aproveitadas.
G.I./J.B.:NA-EA-PBA