Preocupação com aumento da taxa de suicídios e do consumo de drogas marcou audiência com membros da Companhia de Jesus.
O Papa sublinhou o apoio aos jovens, muitos deles hoje com um futuro incerto devido a situações de desemprego e exclusão social, como um dos maiores desafios da Igreja Católica nos dias de hoje.
Na receção a um grupo de jovens jesuítas que estão a participar num encontro de formação no Vaticano, desde esta quarta-feira, Francisco frisou que a questão da “dignidade” é “um dos problemas mais agudos e dolorosos para os jovens, porque atinge diretamente o coração da pessoa”.
Espelho disso mesmo tem sido o aumento progressivo das situações de consumo de drogas, de álcool e mesmo de suicídio entre os mais novos.
Números que “os governos – não todos – não publicam” na sua totalidade, “porque são vergonhosos”, criticou o Papa, na Sala Paulo VI.
“Porque é que estes jovens se enforcam e se suicidam? Em quase todos os casos a principal razão é a falta de trabalho. Não conseguem sentir-se úteis e optam pela morte”, realçou Francisco, que considerou o recurso às drogas, as dependências, como uma forma de “alienação” por parte dos jovens, “um modo de escapar a esta falta de dignidade”.
Outro fator que, segundo o Papa, mostra hoje a busca dramática de fugir a uma realidade difícil e dramática, de falta de perspetivas e de futuro, é a crescente adesão dos jovens a grupos extremistas como o Estado Islâmico.
Contrariar este contexto implica “entender o problema dos jovens, mostrar a eles que há alguém que os escuta e compreende, comunicar com eles”.
Para Francisco, a missão da Igreja Católica, e neste caso da Companhia de Jesus, deve passar sobretudo por estar no meio dos jovens, “arregaçar as mangas” e ir ao encontro dos desafios das novas gerações, com “criatividade”, com “coragem”, perceber que o mundo tem “necessidade de uma palavra profética”.
“O problema tem solução, mas precisamos todos de encontrar o modo certo de o resolver”, sustentou o Papa argentino, ele próprio ligado à congregação dos jesuítas, que chamou depois à responsabilidade os líderes económicos e políticos mundiais.
Segundo Francisco, “a economia, que é concreta”, tem dado cada vez mais “lugar à finança, que é abstrata” e “cruel”, pois tem “no centro” uma equação que muitas vezes não tem em conta “o lugar do homem e da mulher”.
“Creio que este é hoje o grande pecado contra a dignidade da pessoa: tirar a pessoa do ponto central”, frisou o Papa, que exortou a Companhia de Jesus a afirmar-se sempre como um contributo para a “solução” destas e de outras questões da sociedade.
“Onde há troca de ideias, de problemas, de desafios, há um Jesuíta”, lembrou Francisco, citando um discurso feito pelo Papa, agora Beato, Paulo VI à Companhia de Jesus, em 1974.
O Papa concluiu a sua mensagem recordando também a memória do padre Pedro Arrupe, 28.º Superior Geral da Companhia de Jesus, e uma figura cujo processo de beatificação está em curso no Vaticano.
“É preciso coragem para ser jesuíta. Não significa que um jesuíta deva ser inconsciente, ou imprudente. Mas deve ter coragem. A coragem é uma graça de Deus”, reforçou o Papa Francisco.
O encontro anual de formação da Companhia de Jesus, que conta com participantes de diversos países da Europa, vai prolongar-se em Roma até dia 20 de agosto.
G.I./Ecclesia:JCP