Cardeal Marc Ouellet, um dos nomes envolvidos por D. Carlo Maria Viganò, assina carta aberta que contraria alegações do diplomata, após anúncio de investigação.
O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, saiu em defesa do Papa perante as acusações do antigo núncio nos EUA, D. Carlo Maria Viganò, de alegado encobrimento de abusos sexuais.
Um dia depois de o Vaticano ter anunciado uma investigação sobre o caso do ex-cardeal Theodore McCarrick, este sábado, D. Marc Ouellet assinou uma carta aberta, dirigida ao antigo responsável diplomático, que desafiava o prefeito da Congregação para os Bispos (Santa Sé) a pronunciar-se sobre a situação.
O cardeal Ouellet fala numa situação “incompreensível e extremamente condenável”, por provocar confusão entre os fiéis e colocar em causa a “fidelidade” ao Papa.
Francisco tem recusado comentar as acusações de quem pede a sua renúncia, na sequência de uma carta divulgada pelo núncio apostólico Carlo Maria Viganò, segundo o qual teria protegido o arcebispo emérito de Washington, o ex-cardeal McCarrick, de acusações de abusos sexuais.
O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, passa em revista os vários factos alegados pelo antigo diplomata, sublinhando que o caso “nunca” foi apresentado em audiência ao Papa Bento XVI ou ao Papa Francisco, precisando que “é um erro apresentar as medidas tomadas” contra o arcebispo emérito de Washington como “sanções” decretadas pelo Papa Bento XVI e levantadas pelo Papa Francisco.
“Faço votos, como tantos, que, por respeito às vítimas e por questão de justiça, a investigação em curso nos Estados Unidos e na Cúria Romana possa oferecer-nos, finalmente, uma visão geral crítica dos procedimentos e das circunstâncias deste caso doloroso, para que acontecimentos deste tipo não se repitam no futuro”, acrescenta o responsável da Santa Sé.
A 28 de julho, o Papa Francisco suspendeu do exercício público do ministério D. Theodore McCarrick, acusado de abusos sexuais, aceitando a sua renúncia como membro do Colégio Cardinalício.
Na sua carta aberta, o cardeal Marc Ouellet recorda que Francisco “não teve nada a ver com as promoções de McCarrick em Nova Iorque, Metuchen, Newark e Washington”, sublinhando, precisamente, que “o destituiu de sua dignidade de cardeal quando se tornou evidente uma acusação credível de abuso sobre menores”.
“Saia da sua clandestinidade, arrependa-se da sua rebelião e retorne a melhores sentimentos em relação ao Santo Padre, em vez de exacerbar a hostilidade contra ele”, apela o responsável da Santa Sé a D. Carlo Maria Viganò.
O prefeito da Congregação para os Bispos sustenta que esta acusação é “uma armação política desprovida de um real fundamento que possa incriminar o Papa”.
O mesmo cardeal Ouellet tinha criticado em setembro o que denominou como “rebelião” contra o Papa, apelando à união de toda a Igreja para superar a crise provocada pelos casos de abusos sexuais.
“Estamos a enfrentar uma crise na vida da Igreja, uma crise ao nível da liderança, dos bispos. E até, em certa medida, uma rebelião, uma rebelião. É uma questão muito séria, que tem de ser abordada de forma espiritual, não só política”, declarou aos jornalistas durante a assembleia plenária do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), acompanhada pela Agência ECCLESIA.
No último sábado, Francisco determinou que se realize um “cuidadoso estudo” sobre “toda a documentação presente nos arquivos dos dicastérios e departamentos da Santa Sé” a respeito do ex-cardeal McCarrick.
A Sala de Imprensa da Santa Sé enumera o histórico dos factos, com origem em setembro de 2017, quando a arquidiocese de Nova Iorque “sinalizou que um homem acusava o então cardeal McCarrick de ter abusado dele nos anos 70”, levando o Papa a pedir uma investigação “prévia aprofundada”.
No final da sua viagem ao Báltico, a 25 de setembro, Francisco tinha dito aos jovens que a Igreja tinha de ser transparente e honesta ao enfrentar os “escândalos” económicos e sexuais que estão a afastar as pessoas das comunidades católicas.
Como tinha acontecido na viagem internacional à Irlanda, quando foi conhecido o caso, Francisco não respondeu diretamente às acusações do antigo núncio nos EUA sobre uma alegada proteção ao ex-cardeal McCarrick.
O Papa, contudo, disse que após o comunicado do antigo representante diplomático da Santa Sé, vários episcopados do mundo lhe escreveram para lhe manifestar “proximidade” e assegurar a sua oração.
O Papa Francisco convocou os presidentes de todas as Conferências Episcopais do mundo para um encontro no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro de 2019, dedicado ao tema da “proteção dos menores”.
O pontífice tem repetido a necessidade de “tolerância zero” para os casos de abusos sexuais e o seu encobrimento, tendo criado uma comissão reúne especialistas e vítimas, além de pedir às conferências episcopais que promovam uma melhor formação para os sacerdotes e implementem diretivas para evitar que estas situações se repitam.
G.I./Ecclesia:OC