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Sustentabilidade financeira e falta de vocações são desafios em debate no 21.º Capítulo Geral da congregação.

As Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus estão reunidas em Capítulo Provincial na Casa de Saúde da Idanha, em Sintra, e elegem este sábado uma nova Superiora para Portugal, e respetivas conselheiras, para os próximos seis anos.

Em entrevista hoje à Agência ECCLESIA, a atual Superiora Geral da Província Portuguesa das Irmãs Hospitaleiras, na hora de fazer um balanço do trabalho realizado e de perspetivar o futuro, realça o objetivo de “recriar a hospitalidade” perante os novos desafios que vão surgindo, em particular na área de atuação desta congregação, da Psiquiatria e Saúde Mental.

“O sofrimento aparece com várias facetas e nós temos que estar atentas e ver onde é que temos que ir, para sermos esta presença sanadora de Jesus”, realça a Irmã Maria do Sameiro Martins.

A Província Portuguesa das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus está distribuída atualmente por 12 centros assistenciais, no continente e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, que prestam apoio a cerca de 3 mil doentes, graças ao esforço também de aproximadamente 2 mil colaboradores.

Entre as patologias que são acompanhadas e tratadas nas infraestruturas da congregação hospitaleira, uma das que tem merecido atenção crescente é a depressão, considerada a doença do século XXI.

“Vemos que isto é cada vez mais acentuado, porque hoje em dia a sociedade é muito competitiva, em todos os campos, e as pessoas mais frágeis, que não têm tanta capacidade de resiliência, mesmo a nível das famílias, todos estes problemas que temos, de divórcios, não é fácil e as pessoas muitas vezes não aguentam todos estes conflitos e vão-se abaixo”. realça a irmã Maria do Sameiro Martins.

Mas o leque de serviços fornecidos pelas irmãs tem sido, ao longo dos anos, cada vez mais abrangente, contemplando áreas como a reabilitação psicossocial, a psicogeriatria e gerontopsiquiatria, a toxicodependência e os cuidados paliativos.

Neste sentido, um dos maiores desafios que a congregação religiosa enfrenta é o da sustentabilidade económica, uma vez que o crescimento ao nível dos serviços não tem tido correspondência ao nível dos apoios financeiros, por parte do Estado.

 “Nós temos crescido muito ao nível da qualidade assistencial, temos investido muito, mas isto tem um custo, e não temos sido acompanhadas, da parte da tutela, em termos dos apoios”, frisa a Irmã Maria do Sameiro Martins, que dá o exemplo da diária que atualmente é paga por cada utente.

“Neste momento estamos com 39, 17 euros, que nos pagam por dia, por cada doente, o que implica todos os gastos associados, de assistência médica, de enfermagem, de psicologia, de medicação, de alimentação, é uma diária baixa”, admite aquela responsável.

Esta questão tem consequências depois na relação da congregação com aqueles que trabalham nas diversas valências.

“Nós queremos aumentar os salários aos nossos colaboradores e não temos margem para isso. Isto é uma das coisas que mais me tem custado, porque os nossos colaboradores também têm as suas famílias, os seus encargos”, frisa a Irmã Maria do Sameiro, que espera que o aumento dos apoios por parte do Estado “se concretize no próximo ano”, conforme tem sido falado com a tutela.

“Neste momento há essa promessa”, adiantou.

Outra dificuldade com que as hospitaleiras se têm debatido, e vão continuar a debater nos próximos anos, é a da falta de vocações.

Para melhor percebermos a queda que tem acontecido, a ainda Superiora Provincial dá o exemplo da Casa de Saúde da Idanha, que há apenas algumas décadas atrás contava com cerca de 90 religiosas, e hoje esse número resume-se a 14 religiosas, além de outras 18 mais idosas e dependentes, e que por isso já deixaram o serviço mais ativo.

Uma conjuntura que também é visível no plano geral desta comunidade religiosa.

“Nós na Província Portuguesa ainda somos 156 irmãs, mas um grupo grande já são irmãs idosas e reformadas, por isso ainda mais nos preocupa toda esta situação que estamos a viver”, completa a Irmã Maria do Sameiro Martins.

Neste 21.º Capítulo da Província Portuguesa das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, que se iniciou no dia 15 de outubro, estão presentes 20 religiosas, e nos últimos dias mais 24 colaboradores e 3 leigos hospitaleiros.

Uma forma de reforçar o espírito de missão e de envolver todos os agentes no objetivo de ir ao encontro e de ser esperança para todos quantos hoje “enfrentam o sofrimento psíquico”.

Destaque neste encontro para a participação da Irmã Ester Berruete (Espanha), Vigária Geral da congregação e que está a presidir aos trabalhos em Idanha.

 “A realidade atual não é fácil devida à conjuntura de todo o sistema de saúde português, que não apoia muito este tipo de instituições que se dedicam à Saúde Mental, e já são vários os anos que não sobem as diárias. Isto faz com que a gestão não seja fácil”, reforçou também aquela responsável.

Sobre a falta de vocações, a Irmã Ester Berruete lembrou que “este não é um problema português mais sim mundial, o que significa que é preciso adequar as estruturas a esta nova realidade”.

Em Espanha, a redução está em marcha e poderá tocar também outros países como Portugal, Angola e Moçambique, no sentido de otimizar recursos.

No entanto, as dificuldades não retiram à congregação a ambição de estender o seu trabalho a mais territórios, sendo que Timor-Leste tem sido um dos pontos em cima da mesa, mas que ainda permanece por concretizar.

A congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus foi fundada em 31 de maio de 1881, em Ciempozuelos – Espanha, por Bento Menni acompanhado por Maria Josefa Récio e Maria Angustias Giménez, e este carisma chegou a Portugal em 1894, sendo que a Casa de Saúde da Idanha, em Belas – Sintra foi o primeiro Centro Assistencial a ser criado pela congregação no país.

G.I./Ecclesia:JCP

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