O documento final do Sínodo 2018, apresentado este sábado no Vaticano, sublinha em vários pontos a necessidade de escutar os jovens e construir uma relação de confiança com eles, nas comunidades católicas.
“Evitando iludir os jovens com propostas minimalistas ou sufocá-los com um conjunto de regras que dão do Cristianismo uma imagem redutora e moralista, somos chamados a investir na sua audácia e educá-los para que assumam as suas responsabilidades”, assinala o texto, aprovado na sua totalidade pela maioria requerida de dois terços dos votantes.
As conclusões da assembleia, que decorreu no Vaticano desde 3 de outubro, evocam as crianças de rua e os jovens presos, além das pessoas com deficiência.
“O mundo juvenil também está profundamente marcado pela experiência da vulnerabilidade, da deficiência, da doença e da dor”, pode ler-se.
Os participantes no Sínodo sustentam que é o “cuidado com as relações” que mede a qualidade das comunidades cristãs e as torna “significativas e atraentes” para os jovens.
O documento está dividido em três partes – 12 capítulos, 167 parágrafos e 60 páginas – e encerra esta fase da XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
Em causa, realçam os padres sinodais, está a necessidade de preparar adequadamente “leigos, homens e mulheres, capazes de acompanhar as jovens gerações”, que, perante fenómenos como a globalização e a secularização, se movem numa direção de “redescoberta de Deus e da espiritualidade”.
Os bispos definem como “insubstituível” o papel desempenhado pelas escolas e universidades católicas, apelando a uma maior integração destas realidades na atividade paroquial, a “Igreja no território” que deve ser missionária e não estática.
As jovens gerações, observa o texto entregue ao Papa, querem ser “protagonistas” da vida eclesial, apelando-se a que sejam “encorajadas” a participar na vida eclesial, e não impedidas, com “autoritarismo”.
A juventude pode estar “mais à frente dos pastores” e, nesse caso, também deve ser acolhida, respeitada e acompanhada.
Numa assembleia que tinha entre os seus temas o “discernimento vocacional”, os participantes assumiram a necessidade de fala de “vocação” como marca de todas as vidas e como chamamento à santidade, para os batizados.
Acompanhar os jovens, observa o documento final do Sínodo 2017, é uma missão a ser realizada a nível pessoal e de grupo.
O documento fala ainda do celibato dos sacerdotes, pedindo que seja um “dom a ser reconhecido e verificado na liberdade, alegria, gratuidade e humildade”.
“A Igreja é o ambiente para discernir e a consciência, é o lugar onde se colhe o fruto do encontro e da comunhão com Cristo”, pode ler-se.
Entre os “desafios urgentes para a Igreja”, o documento final aponta a necessidade de soluções para envolver os jovens na construção de comunidades mais familiarizadas com o digital, promovendo o seu potencial comunicativo e tendo em vista o anúncio cristão.
Do Vaticano saíram votos de que sejam criados secretariados e organismos para a cultura e a evangelização digital que, além de “favorecer a troca e a disseminação de boas práticas, possam gerir sistemas de certificação de sites católicos”.
A presença de mulheres nas equipas de preparação dos seminários e dos cursos pré-matrimoniais é outro assunto abordado, desejando-se que este esforço leve a “superar tendências de clericalismo”.
“As diversidades vocacionais inserem-se no único e universal chamamento à santidade. Infelizmente, o mundo está indignado com os abusos de algumas pessoas da Igreja, mais do que animado pela santidade dos seus membros”, declaram os participantes.
No texto, toma-se o episódio dos discípulos de Emaús, narrado pelo evangelista São Lucas, como “fio condutor”.
O Sínodo 2018 contou com a participação inédita de mais de três dezenas de jovens convidados e foi o primeiro a utilizar o português como língua oficial, nos trabalhos.
G.I./Ecclesia:OC