Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Parceria destacada pelo padre José Miguel Pereira e pela psicóloga Margarida Cordo.

O reitor do Seminário Maior de Cristo Rei dos Olivais, em Lisboa, diz que trabalhar de forma especializada, com o apoio de leigos, a vocação ao sacerdócio e suas motivações, é uma aposta cada vez mais firme da Igreja Católica.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o padre José Miguel Barata Pereira salienta um “acompanhamento” que acontece desde o momento “prévio à entrada no Seminário” ou “sempre que possível em Pré-Seminário”, em primeiro lugar para “verificar se o candidato vai fazer uma experiência feliz” e não de “desenquadramento total”.

De acordo com aquele responsável, é essencial “verificar” desde cedo “se a hipótese do celibato não surge como uma fuga a alguma debilidade afetiva ou relacional”, ou mesmo de um sentimento de “frustração ou recusa”.

Pois a entrada no Seminário, a caminhada rumo ao sacerdócio, à semelhança de qualquer vocação, deve ser vista “como uma hipótese positiva e não para a resolução de problemas”, salienta o padre José Miguel Barata Pereira.

A participação dos leigos, nomeadamente de especialistas em áreas como a psicologia, a pedagogia e a sociologia, é considerada como uma ferramenta fundamental, pois ajuda a aumentar as probabilidades de uma vocação bem-sucedida.

Esta parceria estende-se também “desde o ano propedêutico”, um tempo de discernimento prévio ao início dos estudos superiores em Teologia, “à etapa pastoral”, que antecede a ordenação diaconal e sacerdotal.

O reitor do Seminário de Cristo Rei dos Olivais, no Patriarcado de Lisboa, admite que “muitas vezes a ideia de consagração é algo que vem dentro do pacote, não está suficientemente amadurecida”.

Quando questionado sobre que traços é que são decisivos para se poder dizer que estamos perante uma vocação para “continuar a aprofundar”, o padre José Miguel Barata Pereira realça palavras-chave como a “gratuidade” e “universalidade” no que diz respeito à relação dos candidatos com os outros.

“O celibato sacerdotal tem muito uma maneira de ser esposo como Cristo se entregou, essa é a nossa maneira de ser esposos, de amarmos e de sermos amados, de exercermos a paternidade. Comunicar a vida em abundância, nas suas múltiplas dimensões não apenas biológicas, mas na sua totalidade”, salienta o sacerdote, que acrescenta:

“Quando isso se vai tornando já não uma coisa que tem de ser, mas um lugar onde ele (o candidato) se encontra, então há condições para poder assumir o celibato configurado no sacerdócio”, frisa o padre José Miguel Barata Pereira.

Cuidar de uma vocação que está a florescer significa também muitas vezes, para a equipa formadora de um Seminário, lidar com questões que estão muito presentes na sociedade atual, como a homossexualidade e os abusos sexuais.

O reitor do Seminário de Cristo Rei dos Olivais destaca a importância de ajudar no processo de “amadurecimento” afetivo dos jovens, sempre de acordo com o magistério da Igreja.

Aquele sacerdote sublinha também a importância de atender às “feridas” resultantes de “iniciações sexuais precoces ou de abusos sexuais”.

“Se são situações que configuram crimes, é orientar para as autoridades eclesiásticas e civis, se são questões que podem configurar dificuldades ou feridas de aceitação de si, de confiança nas relações, é preciso perceber se há espaço para construir, e o que precisar de ser curado curar”, completa o padre José Miguel Barata Pereira.

A psicóloga Margarida Cordo acompanha desde 2002 o processo de formação de vocações no Patriarcado de Lisboa, tanto junto dos Seminários como de várias congregações religiosas.

Uma experiência que lhe permitiu identificar também várias componentes que devem ser trabalhadas junto dos candidatos ao sacerdócio ou à vida consagrada.

Em primeiro lugar, a mudança que representa para alguém, jovem ou adulto, deixar a sua terra, a família, aquilo que conhece, para entrar num percurso diferente, muitas vezes num território diferente.

“Quando se muda drasticamente o contexto a que a pessoa pertence, é evidente que surgem determinadas dificuldades que também dependem bastante dos mecanismos adaptativos que cada um já tem por si”, aponta a psicóloga clínica, que identifica quatro áreas mais sensíveis a trabalhar:

“O contexto de proveniência, a comunidade de seminário onde vivem, a forma como vão viver se saírem e forem ordenados, e depois o que é que vão encontrar, o que é que a sociedade, as famílias, vão exigir deles”.

“Estamos a falar de quatro realidades em que o papel dos leigos neste processo é um papel de lhes mostrar, de exigir deles entre aspas, a não perda de consciência da realidade e das exigências das realidades com que se vão defrontar”, sustenta Margarida Cordo, que considera a aposta da Igreja Católica nos leigos como uma “mais-valia”.

“Há aqui uma dimensão de fora que, digamos, metida sempre na continuidade, também não os deixa de certa maneira perder esse pé”, defende a mesma responsável, que não tem dúvidas em dizer que atualmente as vocações sacerdotais saem mais bem preparadas e adequadas à sociedade que vão servir.

Uma mudança que “começa na modernidade das equipas formadoras”, cada vez mais interdisciplinares.

“Vejo as equipas formadoras, muitas delas integradas por padres muito novos, algumas com sacerdotes muito mais velhos, como pessoas adaptadas, viradas para o mundo, pessoas novas digamos assim. Claro que não faço generalizações, mas penso que temos sacerdotes para a modernidade”, conclui Margarida Cordo.

Este domingo, no âmbito da Semana dos Seminários, o Programa 70×7 foi dedicado ao contributo dos leigos para a formação das novas vocações, um trabalho transmitido pela RTP2 a partir das 17h50.

G.I./Ecclesia:JCP

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