Michel Roy está em Lisboa para participar no Congresso Mundial da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas.
O secretário-geral da Cáritas Internacional defendeu hoje, em Lisboa, a necessidade de enraizar cada vez mais no setor económico e empresarial noções como “economia solidária” e “direitos humanos”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, no decurso do Congresso Mundial da União Internacional Cristã dos Dirigentes de Empresas (Uniapac), que está a ser acolhido pela Universidade Católica Portuguesa, Michel Roy apontou para as estatísticas que mostram que “a desigualdade tem vindo a crescer” a par com o “aumento do número de bilionários”, quando ao lado “cada vez mais pessoas estão em situação de carência”.
Aquele responsável criticou ainda a existência de negócios que “criam mais problemas e danos do que soluções”, quando “um negócio existe para criar recursos” que permitam a cada pessoa “levar uma vida normal e digna”.
Para Michel Roy, é fundamental que os Estados cumpram o seu dever de “redistribuir” a riqueza, “de favorecer, encorajar e dar meios às empresas, às organizações locais que queiram iniciar atividade, com e para os mais pobres”.
“Há um grande trabalho a fazer para uma economia ao lado das pessoas, com as pessoas, para as pessoas”, apontou o diretor-geral da ‘Caritas Internationalis’, que destaca a noção de “solidariedade” na economia como uma das melhores formas de concretizar esse objetivo.
Atualmente está a ser debatido em Genebra um tratado dedicado ao mundo empresarial e aos direitos humanos.
O diretor-geral da Cáritas Internacional realça a importância deste projeto, “que deveria ter um caráter vinculativo para o setor, tendo em conta o respeito pelos direitos das pessoas”.
“Ouvimos muito a importância do impacto social e ambiental, é um mote em muitas empresas, mas geralmente isso é feito com os governos, ignorando as comunidades”, denunciou Michel Roy, que deu como exemplo o sensível setor da “extração de petróleo e de gás”.
Sem um conjunto de regras que garantam os direitos das pessoas que são afetadas por esta atividade, os “estragos podem ser enormes”, e mesmo resultar em situações de “violência e conflito”, como já acontece em vários países.
“O problema é que a ONU não tem esse poder e as multinacionais têm um poder global, são mais poderosas do que os governos e os políticos”, frisou o representante da Cáritas Internacional.
Sobre o Congresso Mundial da Uniapac, que reúne em Lisboa cerca de 450 empresários, cristãos e não cristãos, à volta do tema ‘O negócio como uma nobre vocação’, Michel Roy salienta a oportunidade para “estreitar relações” e de “trabalhar em conjunto por um mundo onde as pessoas tenham uma vida mais digna”.
“Nós, na Cáritas, não temos assim tantas ocasiões para trabalhar com os empresários cristãos, e o que nós aproxima em primeiro lugar é a nossa fé, temos e partilhamos a mesma visão de humanidade, do ser humano”, explicitou.
Michel Roy tomou parte num painel do Congresso Mundial da Uniapac dedicado à “promoção da inclusão no mundo dos negócios”.
“O ângulo que podemos trabalhar e trabalhamos com os empresários é de modo a facilitar o regresso ao trabalho de quem não tem emprego, independentemente da vulnerabilidade que tenham, sejam pessoas portadoras de deficiência ou simplesmente alguém que perdeu o emprego, a sua família, por exemplo”.
Ao mesmo tempo, a Cáritas procurar apostar em “voluntários com experiência no mundo empresarial, dos negócios, que possam acompanhar e orientar as pessoas na recuperação do emprego”.
Um dos oradores presentes no painel ‘Promover a inclusão no mundo dos negócios’ foi Martin Burt, fundador da Fundação Paraguaia, uma organização dedicada à promoção do empreendedorismo e da capacitação económica no combate à pobreza no mundo.
Perante os empresários presentes no Congresso Mundial da Uniapac, Martin Burt defendeu a necessidade de um combate à pobreza centrado nas famílias e não nos indivíduos.
Aquele responsável mostrou um projeto que a Fundação tem vindo a implementar junto das empresas, de modo a que elas tenham em conta a situação real dos trabalhadores, através de vários indicadores sociais, e assim contribuam para o seu desenvolvimento e apoio.
“Quando as empresas permitem aos trabalhadores fazerem este autodiagnóstico, ela pode apoiar, suportar o trabalhador, pode dar-lhe informação, estabelecer certos incentivos, e o que acontece é que quando os problemas dos trabalhadores são reduzidos, a produtividade da empresa sobe, porque há menos absentismo, mais fidelização, maior motivação e coesão”, sustentou.
Ao mesmo tempo, prosseguiu Martin Burt, este processo bilateral de diagnóstico e apoio permite às empresas perceberem melhor aquilo que está por detrás de algum problema relacionado com produtividade ou com a postura dos seus recursos humanos.
“Começa a perceber por exemplo, porque é que o operador de caixa ou a secretária chegam tarde, pode tratar-se de um problema de transportes, pode ser um caso de violência, ou uma questão relacionada com habitação, problemas que são fáceis de resolver. Mas é preciso que a empresa saiba o que está a acontecer”, rematou.
G.I./Ecclesia:JCP