José Ribeiro e Castro e Manuel Carvalho da Silva realçam necessidade de envolver cidadãos na construção da paz e da justiça social.
O Papa decidiu dedicar o 52.º Dia Mundial da Paz, com que a Igreja Católica assinala o início de 2019, ao tema da boa política, uma opção saudada por José Ribeiro e Castro e Manuel Carvalho da Silva, face à desconfiança crescente na sociedade.
Num documento intitulado ‘A boa política está ao serviço da paz’, Francisco reflete sobre as “virtudes” e os “vícios” da política.
Ribeiro e Castro, antigo líder do CDS e presidente da Associação Por uma Democracia de Qualidade, manifesta à Agência ECCLESIA as suas preocupações com o que considera uma “certa decadência” do debate político, com predomínio do “espetáculo” sobre a “substância”.
Perante os perigos decorrentes da “subida do tom da linguagem” nas redes sociais, entre outros, é necessária uma forma diferente de fazer política.
“O Papa é bastante severo ao apontar o dedo ao enriquecimento ilegal, à corrupção”, observa o entrevistado, lamentando a promiscuidade” entre o poder económico e o poder político, com pessoas a enriquecer “à custa dos que pouparam”.
Manuel Carvalho da Silva, ex-secretário-geral da CGTP e coordenador da delegação do Centro de Estudos Sociais em Lisboa, alerta para um contexto, “a nível europeu e mundial, de muitos sofrimentos e muitas guerras”, com uma “pulverização de conflitos”
“Pode estar em desenvolvimento todo um conjunto de mecanismos que alimentam ódios e alimentam medos”, adverte.
Para o antigo sindicalista, é de salientar que “a política está no centro” da mensagem do Papa, que a valoriza e não a vê como “algo fraco, podre”, mas como serviço à humanidade no seu todo e em todas as suas dimensões.
“A paz é uma conquista muito, muito difícil”, acrescenta.
José Ribeiro e Castro reforça a ideia de que a paz é “muito frágil”, alertando para o que tem sido o “enorme potencial de conflito” na história da humanidade e a necessidade de “aprender” com as guerras”.
“Há perigos, há incertezas que se têm acastelado nos últimos tempos”, observa.
Projetando as Europeias de 2019, o ex-deputado centrista recorda que o principal valor do projeto comunitário é “a paz”.
Entre as preocupações manifestadas por Ribeiro e Castro estão o desafio da “fronteira Leste da Europa” e a “questão não-resolvida” do Islão, a quem se deve exigir que “combata os seus radicais” e repudie essas pessoas.
O entrevistado sustenta que existe um “lastro de descredibilização” da política que pode degenerar em violência ou extremismos.
“Os cidadãos estão inquietos”, assume.
Carvalho da Silva assinala, a este respeito, que os 12 “vícios” da política elencados pelo Papa incluem a questão do “enriquecimento ilegal” ou o “equilíbrio de direitos e deveres” por exemplo, que devem ter consequências concretas no debate político.
“A política não pode permitir que exista um quadro em que os poderosos se apropriam da lei”, defende.
Para o coordenador da delegação do Centro de Estudos Sociais em Lisboa, as reflexões do Papa devem ser acolhidas no debate sobre a defesa do Estado de direito democrático, em temas como a cidadania, a defesa do ambiente ou o diálogo entre gerações.
O responsável admite que os cidadãos têm motivos para uma “análise crítica” do poder político, mas realça que devem escrutinar também “os poderosos”.
Ribeiro e Castro destaca, por sua vez, o papel da Comunicação Social na verificação de factos e no “desmontar” de falsidades.
“A preocupação com a verdade, hoje, é muito importante”, declara.
Carvalho da Silva reforça a necessidade de “mediações” na vida em democracia, além de apelar à criação de “caminhos alternativos”, num momento em que “não faltam meios à sociedade para responder aos problemas”.
A entrevista sobre a mensagem do Papa vai ser emitida no Programa ECCLESIA na RTP2 (dia 1 de janeiro de 2019, pelas 15h00) e na Antena 1 (dias 1 a 4 de janeiro, às 22h45).
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 pelo Papa Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia do novo ano.
G.I./Ecclesia:PR/OC