Nuno Lacasta abordou os resultados da recente cimeira da COP24 com Margarida Alvim, da Plataforma Portuguesa das ONGD, e Pedro Franco, da Fundação Fé e Cooperação.
O presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) olha com apreensão para os resultados da recente cimeira do clima na Polónia, que reforçou a pouca atenção que as grandes potencias mundiais estão a dar à ameaça das alterações climáticas.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Nuno Lacasta, que marcou presença na COP24, em Katowice, frisou que a humanidade “nunca teve perante uma ameaça desta natureza”, que requer que “cada um faça a sua parte”, sejam “os países, as regiões, as cidades e comunidades, os cidadãos e cidadãs”.
“Existe tecnologia, existe financiamento, tem que haver vontade política e sistemas de governança que nos permitam resolver o problema (…) Cada um pode ter a sua opinião, mas esta ameaça é global e todos temos que para ela contribuir com respostas”, defendeu o presidente do conselho diretivo da APA.
Nuno Lacasta alertou que “as alterações climáticas já não são uma ameaça para a geração dos nossos filhos, são desta geração”, com algumas projeções a falarem de “uma janela de oportunidade na casa dos 10 a 12 anos” para inverter o paradigma de destruição dos recursos e de agressão ao planeta.
“Há zonas do planeta que estão a ter enormes problemas do ponto de vista do ecossistema”, sublinhou aquele responsável, que dá como exemplo o número “crescente” de “refugiados climáticos”, provenientes de territórios como “o sudoeste asiático”.
Os Estados Unidos da América são uma das potências mundiais que mostram “reticências” na participação neste esforço de “redução da emissão dos gases poluentes”, tendo inclusivamente anunciado a sua retirada do Acordo de Paris, que comprometia os Estados a trabalharem em medidas de melhoria ambiental até 2020.
“Os EUA já não é a primeira vez, saíram do Protocolo de Quioto, e agora anunciaram a saída do Acordo de Paris”, recordou o presidente da APA, que lamenta o “grande paradoxo que tem marcado estas cimeiras internacionais do clima”.
De por um lado termos “os cientistas a dizerem que os impactos das alterações climáticas são cada vez mais gravosos”, e por outro a passividade daqueles que deviam levar a situação muito a sério.
Nuno Lacasta destacou, pela positiva, o exemplo da União Europeia, “que tem sido sem sombra de dúvida a região no mundo mais à frente nestas matérias, quer por perceção social quer por políticas públicas”.
UE que se comprometeu na Polónia a aumentar o nível de ambição, em termos da implementação de medidas a favor da redução dos gases poluentes, até 2020.
O presidente da APA enalteceu também o caso de Portugal, que colocou em marcha o chamado “roteiro de naturalidade carbónica”, um projeto feito para as próximas décadas e que visa que “o país consiga ser neutro em carbono”, mas mantenha ao mesmo tempo “o crescimento económico, a coesão social”.
Em 2015, o Papa Francisco publicou a encíclica ‘Laudato Si – Sobre o Cuidado da Casa Comum’, onde apelou a uma maior responsabilidade social a favor do meio ambiente, do planeta e de todos os seres humanos, naquilo que apelidou de uma “ecologia integral”.
Para o presidente da APA, trata-se de um documento essencial que ainda não foi suficientemente abordado e tido em conta.
“Estou preocupado quando a comunidade internacional não começou ainda a escutar e a ler com atenção esta encíclica”, disse Nuno Lacasta, que recordou que “combater as alterações climáticas é o outro lado da moeda, de combater a pobreza, a desigualdade e as injustiças que o mundo conhece”.
“Essa mensagem precisa de ser cada vez mais percebida por todos”, completou.
A cimeira do clima COP24, que teve lugar em dezembro na cidade de katowice, na Polónia, contou com a participação de representantes de várias organizações portuguesas não governamentais de apoio ao desenvolvimento.
Para Margarida Alvim, da Plataforma Portuguesa das ONG, “a ambição tem que ser também grande do lado da sociedade civil, na articulação com as políticas e com os acordos a que se chegaram e com o ponto da situação em que estamos”.
“Talvez o que seja mais importante agora, para além da ambição, dentro do quadro que temos que é bom, se o levarmos a sério como a UE e como Portugal o estão a levar, é ter a preocupação entre os diferentes níveis, local, nacional, global, e também entre os diferentes temas, porque o clima devia estar transversalmente em todos os nossos ministérios e setores. E na cooperação também”, apontou aquela responsável.
Outro representante português na COP24, Pedro Franco, da Fundação Fé e Cooperação que tem mantido vários projetos em países lusófonos, ligados ao desenvolvimento, mas também à preservação ambiental, sustentou que “para lá dos compromissos que todos podem assumir, enquanto cidadãos”, há também a componente de capacitar “o cidadão para dar voz aos excluídos”.
E nesta parte, Pedro Franco defendeu a necessidade de “dar voz” a faixas sociais como “os pequenos agricultores”, que muitas vezes têm o fruto do seu trabalho ameaçado pelas consequências das alterações climáticas, ou por situações como “a expropriação de terras” a favor das grandes multinacionais que exploram matérias primas como o gás ou o petróleo.
G.I./Ecclesia:JCP