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Papa Francisco aborda temas ligados à vocação e à sexualidade, alertando para os que querem «envelhecer» a Igreja.

O Vaticano apresentou hoje a nova exortação apostólica do Papa, ‘Cristo Vive’, dedicada aos jovens, na qual se desafiam as novas gerações a uma entrega “aos outros” e à descoberta da sua vocação.

O documento dá sequência à assembleia do Sínodo dos Bispos que decorreu em outubro de 2018, sobre a relação entre os jovens e a Igreja Católica, antecedido por um inquérito global que envolveu milhares de pessoas, crentes e não-crentes.

O Papa realça que os jovens reclamam uma Igreja que “escute mais” e que não passe a vida a “condenar o mundo”, capaz, entre outros temas, de dar “atenção às legítimas reivindicações das mulheres que pedem mais justiça e igualdade”.

“Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que a querem envelhecer”, acrescenta.

O pontífice fala mesmo aos jovens em tom de confissão, sobre a sua própria vida: “Quando iniciei o meu ministério como Papa, o Senhor ampliou-me os horizontes e ofereceu-me uma juventude renovada”.

Francisco dedica a sua atenção ao discernimento vocacional, defendendo que a Igreja deve ajudar a descobrir “aquilo que Jesus quer de cada jovem”.

“Quando alguém descobre que Deus o chama a alguma coisa, que foi feito para isso – quer para a enfermagem, quer para a carpintaria, a comunicação, a engenharia, a docência, a arte ou para qualquer outro trabalho – será capaz de fazer brotar as suas melhores capacidades de sacrifício, de generosidade e de entrega”, refere.

Em causa, indica o pontífice, não está a preocupação em “ganhar mais dinheiro”, fama ou prestígio social, mas um sentido para a vida, que pode incluir “a possibilidade da consagração a Deus no sacerdócio, na vida religiosa ou noutras formas”.

A vocação laical é, sobretudo, a caridade na família, a caridade social e a caridade política: é um compromisso concreto a partir da fé para a construção de uma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para evangelizar as suas diversas instâncias, para fazer crescer a paz, a convivência, a justiça, os direitos humanos, a misericórdia e, assim, estender o Reino de Deus no mundo”.

A exortação elenca um conjunto de personagens bíblicas que assumiram protagonismo, na sua juventude, e 12 jovens santos e beatos, para mostrar que mais novos são “o presente”, num mundo em que a sua realidade é cada vez mais plural.

“Não sejamos uma Igreja que não chora frente a estes dramas dos seus jovens filhos”, pede Francisco.

O texto observa que o “ser para os outros”, na vida de cada jovem, está normalmente relacionado com duas questões básicas, a família e o trabalho, que exigem a atenção das comunidades católicas no acompanhamento das novas gerações.

“Os jovens sentem fortemente o apelo do amor e sonham encontrar a pessoa adequada com quem formar uma família e construir uma vida juntos, pode ler-se.

“Procuras intensidade? Não a viverás acumulando objetos, gastando dinheiro, correndo, desesperado, atrás de coisas deste mundo. Chegar-te-á de uma forma muito mais bela e satisfatória se te deixares impulsionar pelo Espírito Santo”

O Papa questiona a “cultura do provisório” e espera que os jovens vivam o “amor a sério”, rejeitando o individualismo.

Sobre a questão do trabalho, Francisco considera que o desemprego juvenil é uma questão “muito delicada”, que a política deve considerar como “tema de primeira ordem”.

O pontífice aponta o dedo ao que denomina como “colonização ideológica” relativa à sexualidade, ao matrimónio, à vida ou à justiça social, em vários países.

“Num mundo que valoriza excessivamente a sexualidade, é difícil manter uma boa relação com o próprio corpo e viver serenamente as relações afetivas”, observa.

Retomando o que foi dito no Sínodo 2018, Francisco admite que a moral sexual pode ser, muitas vezes, “causa de incompreensão e de afastamento da Igreja, visto que é percebida como um espaço de julgamento e de condenação” pelos mais novos.

Ao mesmo tempo, prossegue, os jovens manifestam “um desejo explícito de se confrontarem sobre as questões relativas à diferença entre identidade masculina e feminina, à reciprocidade entre homens e mulheres e à homossexualidade”.

A exortação convida a superar “tabus” sobre o sexo e a sexualidade, que são apresentados como “um dom de Deus”, com o propósito de “amar-se e gerar vida”.

“A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé. Fazeis-nos falta! E quando chegardes onde nós ainda não chegámos, tende paciência para esperar por nós”, conclui o Papa.

A Exortação apostólica pós-sinodal ‘Cristo Vive’, dividida em nove capítulos e 299 pontos, foi assinada a 25 de março, no santuário mariano do Loreto (Itália), na sequência do Sínodo dos Bispos dedicado às novas gerações, que decorreu em outubro de 2018, desejando que a Igreja ouça os jovens e os ajude a encontrar o seu caminho de vida.

G.I./Ecclesia:OC

 

 

CategoryIgreja, Papa, Pastoral

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