Papa Francisco fala em risco de «holocausto nuclear».
O Papa alertou hoje no Vaticano para o crescimento dos nacionalismos, em várias partes do mundo, e para a possibilidade de um “holocausto nuclear”, depois de EUA e Rússia terem suspendido acordos neste campo.
“A Igreja observa com preocupação o ressurgimento, um pouco por todo o mundo, de correntes agressivas com estrangeiros, especialmente imigrantes, bem como o crescente nacionalismo que negligencia o bem comum”, assinalou Francisco, num discurso aos membros da Academia Pontifícia das Ciência Sociais.
O organismo da Santa Sé promove até sexta-feira um encontro dedicado aos populismos e nacionalismos, com especialistas internacionais, sobre o tema “Nação, Estado. Estado Nação”.
O Papa declarou que um Estado que desperta “sentimentos nacionalistas do seu povo contra outras nações ou grupos de pessoas” falharia na sua missão.
“Nós sabemos, da história, para onde conduzem desvios similares”, observou, evocando a história da Europa no século XX, com regimes totalitaristas e duas grandes guerras.
A poucas semanas das eleições para o Parlamento Europeu, Francisco deixou votos de que “a consciência dos benefícios trazidos pelo caminho de aproximação e harmonia entre os povos, realizada pós-guerra, não se perca na Europa”.
O discurso aludiu depois à possibilidade de um “confronto nuclear”, perante a eliminação de progressos no passado recente, quanto ao desarmamento.
“Se, agora, forem colocadas armas nucleares ofensivas e defensivas não só sobre a terra mas também no espaço, a chamada nova fronteira tecnológica terá aumentado e não diminuído o perigo de um holocausto nuclear”, advertiu.
Francisco pediu o fim dos discursos que promovem “a exclusão e o ódio de outros”, bem como do “nacionalismo conflituoso que levanta muros, na verdade até mesmo racismo ou antissemitismo”.
“A forma como uma nação acolhe os migrantes revela a sua visão da dignidade humana e a sua relação com a humanidade. Cada pessoa humana é um membro da humanidade, tem a mesma dignidade. Quando uma pessoa ou família é forçada a deixar a sua terra, ela deve ser acolhida com humanidade”, sustentou.
O Papa destacou que nenhum Estado pode ser considerado uma ilha, sobretudo no atual contexto de globalização, encorajando o caminho de cooperação regional empreendido, por exemplo, pela União Europeia e o “sonho” de Simón Bolivar de uma ‘Pátria Grande’ na América Latina.
“Essa visão de cooperação entre as nações pode fazer mover a história, ao relançar o multilateralismo, opondo-se tanto aos novos impulsos nacionalistas quanto a uma política hegemónica”, observou.
Francisco entende que a crescente tendência de nacionalismos acabar por enfraquecer o sistema multilateral, levando à falta de credibilidade da política internacional e a uma progressiva marginalização dos Estados e populações mais vulneráveis.
G.I./Ecclesia:OC