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Milhares de peregrinos nas estradas nacionais.

 A frustração de Ricardo Correia é grande, quando chega ao Centro Pastoral da Diocese de Viseu, na manhã de segunda-feira, 6 de maio. Este peregrino de 32 anos, natural de Murça, não vai caminhar mais e não vai chegar ao Santuário de Fátima. Ao fim da terceira etapa (iniciada em Ribolhos), o peregrino desloca-se pelos corredores do Centro Pastoral com dificuldade até a uma cama no sótão. Alguns voluntários do Movimento da Mensagem de Fátima (MMF) prestam-lhe os primeiros cuidados: antes de tratar do corpo há que tratar da mente, ajudar a descarregar a frustração que Ricardo sente por abandonar o trilho iniciado em Vila Real, no sábado (4 de maio). Lentamente, o peregrino reconhece a audácia de ter realizado, com o irmão, uma primeira etapa de 72 km, entre Vila Real e Castro Daire. Com mochila às costas, com um peso de 12 quilos. “Viemos sem apoio”, diz aos voluntários. A segunda etapa foi mais curta: de Castro Daire até Ribolhos, mas as dores nos pés foram-se agravando. “Eu já não consigo andar. Tenho dores muito fortes”, refere Ricardo, já deitado numa cama. “Já liguei à minha mulher para me vir buscar, mais o meu irmão. Para nós acabou aqui”, admite pouco antes de ir ter com um voluntário para ‘tratar dos pés’.  Ricardo não irá chegar a Fátima nesta peregrinação, feita pelas estradas nacionais do país. Não irá estar presente no Santuário e não será um, entre milhares, que diz não conseguir explicar o que se sente ali, naquele “altar do mundo”. O jovem de Murça é um dos primeiros peregrinos que chega naquela manhã ao Centro Pastoral. Mais atrás, centenas de outros peregrinos estão para chegar, como refere Afonso Dias, um dos voluntários que tem passado as últimas horas ao telefone com os responsáveis dos muitos grupos que estão previstos chegarem ao Centro Pastoral. Hoje deverão ali chegar 380 peregrinos, amanhã serão 260 e o número vai diminuindo diariamente até quarta-feira (8 de maio, altura em que o acolhimento no Centro Pastoral terminará, depois de cinco dias de grande entrega por parte dos voluntários do MMF. Nesse dia, os milhares de peregrinos já estarão bem perto de Fátima. Também por meio de um telefonema, Isabel Martins, presidente do secretariado diocesano do Movimento da Mensagem de Fátima, relembra que “o 6 de maio é historicamente o dia mais cheio. Há sempre um grupo que pode chegar e nós acolhemos todas as pessoas, mas pedimos que previamente se inscrevam para facilitar o nosso serviço”. O Centro Pastoral fornece um acompanhamento aos peregrinos que “é reconhecido pelo Santuário de Fátima”, confirma Isabel Martins, onde estão assegurados, de forma gratuita, “cuidados de saúde e de higiene, mas também apoio espiritual, com a eucaristia e o terço”.

“Em peregrinação e não em caminhada”

 A menos de uma dezena de quilómetros de Viseu, um grupo de 45 peregrinos descansa junto ao restaurante Sol da Muna, na freguesia de Lordosa. O grupo internacional (há um francês peregrino presente) está disperso pelo espaço largo do estacionamento e dentro do estabelecimento. À sombra de uma árvore, Lurdes canta uma das canções impressas num pequeno livro. Ao lado, Ângela Alves e Irene Araújo também descansam, não cantam e parecem estar recolhidas nos seus pensamentos. Depois, abrem-se ao diálogo. “Vou a Fátima pela primeira vez, por uma promessa, em agradecimento pelo desejo que foi concedido”, diz Irene. Esta também é a primeira peregrinação de Ângela. “É a quinta etapa de dez e já estou diferente”, admite. “Precisava de me reencontrar, senti que devia vir e estou a conseguir orientar-me, aqui dentro”, confessa, sinalizando o coração. Lurdes, que prefere ocultar o apelido, termina a canção e aproveita para referir que “não há palavras para explicar o que se sente quando se chega a Fátima. Basta ver a torre lá ao fundo. As lágrimas caem-nos e não conseguimos explicar”.  Fernando Moura, presidente da Associação Peregrinos Flavienses (Chaves), está cansado, mas feliz.   Este grupo “que é uma família” está a meio do percurso. Quando chegar a Viseu vai repousar num hotel. “Preferimos o hotel ao Centro Pastoral porque nós caminhamos durante a noite e de dia precisamos de silêncio para descansar e isso é difícil ter lá, como é normal”. Há já 16 anos que Fernando peregrina até Fátima, mas esta associação é mais recente. Nasceu em 2007 e para além da peregrinação anual ao Santuário de Fátima também tem outras ações ao longo do ano.  Por agora, é tempo de reunir o grupo, tirar uma foto e aprontar-se para finalizar a etapa. Em breve estes peregrinos flavienses chegarão a Viseu. De lá, já outros partiram em direção a sul. Até Fátima faltam algumas etapas, feitas com chuva que cai desde dia 7 de maio. No Santuário as celebrações de 2019 já estão a ser participadas por alguns milhares de peregrinos. Até 13 de maio – nos 102 anos das aparições de Nossa Senhora aos pastorinhos Lúcia, Francisco e Jacinta – muitos mais peregrinos chegarão. Este ano, a peregrinação internacional de maio será presidida pelo Cardeal filipino, Arcebispo de Manila, D. Luis Antonio Tagle, num sinal de atenção ao continente asiático, cujos peregrinos têm crescido em número no Santuário de Fátima.

G.I./J.B.:PBA

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