Alerta deixado pelo cónego Pedro Lopes de Miranda, que presidiu ontem à Missa em sufrágio pelas vítimas das chamas de 2017 na região.
O vigário-geral da Diocese de Coimbra presidiu, em Castanheira de Pera, à Missa em sufrágios pelas vítimas dos incêndios de 2017 e incentivou as comunidades afetadas a “reabrirem as portas à vida”.
No segundo aniversário da tragédia que afetou diversos concelhos dos Distrito de Coimbra, Leiria e Castelo Branco, em particular a localidade de Pedrógão Grande, a igreja Matriz de Castanheira de Pera acolheu uma Eucaristia onde marcaram presença o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro António Costa.
“A igreja estava cheia, as pessoas ainda vivem com muita intensidade o que aconteceu”, realça o cónego Pedro Lopes de Miranda, frisando que a celebração “foi muito mais do que um ato protocolar ao qual as autoridades máximas do Estado foram assistir”.
A 17 de junho de 2017, um incêndio florestal na zona de Pedrógão Grande, no Distrito de Leiria, que alastrou posteriormente aos concelhos vizinhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Ansião; também aos concelhos da Sertã (Castelo Branco), Pampilhosa da Serra e Penela (Coimbra) provocou 66 mortos e cerca de 250 feridos.
As chamas deixaram ainda mais de 500 casas destruídas e devastaram pelo menos 20 mil hectares de floresta.
Esta segunda-feira foi também assinado um protocolo de entendimento entre a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrogão Grande e as Infraestruturas de Portugal para a construção de um monumento às vítimas do incêndio.
De acordo com o cónego Pedro Lopes de Miranda, que foi pároco em Pedrogão Grande durante 6 anos, entre 1999 e 2005, dois anos depois a tragédia ainda está muito presente, quer nas pessoas quer na paisagem.
Nas aldeias as pessoas ainda falam “com muita emoção acerca do medo que tiveram, da aflição de perder tudo”, e o terreno ainda está muito marcado pelo “cinzento e negro dos muitos restos de pinheiro queimado, de eucalipto”.
“Não se vê nada a renascer com ordem, do princípio, ainda não se vê uma reflorestação com rigor, portanto o que se presume é que daqui a 10 anos tudo aquilo está crescido outra vez e estará tudo outra vez prontinho para haver um incêndio mais ou menos semelhante”, alerta o sacerdote, aludindo a outras situações que já viveu no passado.
“Logo quando cheguei aqui houve grandes incêndios quer em Castanheira de Pera quer em Pedrogão Grande, não com a gravidade que este teve nem de perto nem de longe. Embora os incêndios de 2017 tenham sido em dias e em condições climáticas de exceção”, acrescenta o vigário-geral da Diocese de Coimbra, para quem é fundamental uma “exploração da floresta de forma ordenada, criteriosa”.
Em termos dos trabalhos de reconstrução, atualmente estão concluídas 90 por cento das habitações, sendo que cerca de um terço dizem respeito a novas construções e as restantes a reconstruções parciais.
No que toca ao trabalho da Cáritas Diocesana de Coimbra, esta participou na reconstrução parcial ou completa de 33 habitações, num investimento total de mais de 1 milhão e 600 mil euros.
G.I./Ecclesia:JCP