É fácil deixarmo-nos encantar pela vila e concelho de Fornos de Algodres, situados no sopé da Serra da Estrela e com mais de cinco mil anos de história.
Nestas terras podemos ter experiências de festa e de encontro hospitaleiro com a sua boa gente, de descoberta do património natural, cultural e imaterial, de desporto, de gastronomia de excelência e tantas outras. Mas ouso propor um dia de silêncio e de peregrinação, tendo consciência de que mesmo os lugares mais conhecidos provocam em nós encanto se os soubermos ler e sentir. Entram pelos olhos e atingem a alma!
Gostaria de fazer minhas as palavras de Jesus que, apercebendo-se do cansaço dos discípulos de tanto se darem aos outros, lhes faz este convite: “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco” (Mc 6, 31).
Proponho o itinerário que, como pároco durantes dois anos, fazia normalmente ao domingo. Trata-se de percorrer circularmente as paróquias do arciprestado Fornos de Algodres, que não correspondem totalmente às do concelho: Fornos de Algodres, Infias, Casal Vasco, Algodres, Maceira, Cortiçô e Vila Chã, Muxagata, Sobral Pichorro e Fuinhas, Figueiró da Granja. Seja qual for a estação do ano, haverá muitos motivos para parar o automóvel e contemplar, as paisagens, a natureza e, sobretudo, as pessoas!
Deixo simplesmente algumas sugestões que nos podem proporcionar silêncio e oportunidade de contemplação.
Podemos começar na Igreja Matriz de Fornos de Algodres, agora restaurada e bela. Recordo bem o dia da entrada na Paróquia de Fornos de Algodres em 2013. Para além de agradecer comovido o acolhimento, informei sobre as quatro coisas que não podiam faltar na minha bagagem: o breviário, o telemóvel, a bicicleta e a internet. O breviário liga-nos a Deus, o telemóvel liga-nos aos outros, a bicicleta permite a proximidade e a internet o encontro mesmo com quem está distante.
Nos dois anos de intensa vida pastoral, nunca esquecemos os limites geográficos das paróquias e do arciprestado, mas o mais importante não era a geografia, mas prestar atenção ao “habitat” em que se entrelaçavam relacionamentos, recordações, referências simbólicas e afetivas, ou seja, às pessoas e aos seus problemas concretos.
Estiveram sempre presentes palavras do Papa Francisco: “Os problemas mais graves da atualidade são o desemprego dos jovens e a solidão dos idosos”. Sempre nos interrogávamos sobre qual o contributo das comunidades cristãs na busca de solução para estes e outros problemas sociais?
Prosseguir e parar na Igreja da Misericórdia para oração a Jesus Eucaristia e para contemplar o património artístico. Este templo é do século XVII, tem uma única nave e uma fachada de traça barroca joanina. No interior, sobressaem as imagens e o teto do altar-mor, com 36 pinturas de santos e ainda outros símbolos santificados de mártires da primitiva igreja. Os quadros a óleo, da autoria do mestre Jerónimo da Cunha, remontam ao século XVIII. Destaque também para a talha dourada.
Começamos a subir para Infias, onde é possível deslumbrar-se com a vista do Miradouro de Santa Luzia.
Chegamos a Casal Vasco. Aconselho a contornar a Capela de Nosso Senhor dos Loureiros e a prosseguir para Algodres, onde vale bem a pena um passeio a pé por esta antiga e histórica aldeia.
Continuar, depois, por Maceira. Ao chegar a Vila Chã, visitar primeiro Cortiçô, mesmo se é necessário andar um pouco para trás. Na Muxagata é visita obrigatória o Santuário de Nossa Senhora dos Milagres. Há que não esquecer a visita a Sobral Pichorro e Fuinhas. Em Figueiró da Granja, será bom subir ao Crasto de Santiago.
Será muito bom terminar no Seminário de Fornos de Algodres, sob as sombras das tílias, que tantas recordações nos trazem à memória e ao coração.
Nos primeiros dias da vida paroquial, no fim da tarde, passei por Algodres, Cortiçô e celebrei a Eucaristia em Vila Chã. No regresso, já depois da estação, o carro parou e não mais andou. Era um lugar perigoso, por isso procurei encostar o mais à direita possível e, felizmente, os piscas funcionavam. Não estava longe de casa, mas o telemóvel também não funcionava. Passados poucos minutos, chegaram junto a mim dois homens vestidos de maneira diferente e rodeados de luz intensa, mas que não assustava, nem feria a visão. Com a sua luz começaram a orientar o trânsito e tornaram a situação segura. Em pouco tempo, e com a sua ajuda, chegou o reboque e o carro estava na oficina.
Acreditai! Fui mesmo visitado por dois Anjos da Guarda, da Guarda Nacional Republicana: os agentes Figueiredo e Marques, do posto de Fornos de Algodres. Tinham feito visitas aos idosos isolados (tal e qual como os Anjos) e faltava ainda mais uma missão.
G.I./JB.