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«LabOratório» dos Jesuítas defende «diferentes inspirações» para as composições sacras.
A iniciativa LabOratório, de um grupo de jesuítas aberta a leigos, destinada à formação e criação musical, mostrou como a composição e execução para a liturgia pode reunir “diferentes inspirações” sem excluir ninguém.
“A nossa tese é o que faz litúrgico um cântico não é um estilo mas a sua adequação a um contexto. Nesse sentido, os estilos e diversidade são bem-vindos e necessários, mas é preciso encontrar critérios para criar música de qualidade”, explica à Agência ECCLESIA o padre Rui Fernandes, jesuíta, um dos criadores da iniciativa.
O “sonho” de concretizar um “laboratório” começou há vários anos numa conversa entre amigos que deram conta que se canta “sempre as mesmas coisas, seja num acampamento de escuteiros ou numa catedral”.
Encontrando eco entre diferentes pessoas com diversos percursos musicais, a iniciativa realizou-se pela primeira vez em 2017, procurando oferecer uma “semana de formação e criação de música para a liturgia reunindo pessoas que gostam de música” com diferentes histórias.
A edição de 2019, que se desenrolou durante sete dias, no convento dos Dominicanos, em Lisboa, acolheu os participantes e encheu-se de sons instrumentais, ensaios, experimentação, oração e muito convívio.
“A música é uma das formas de comunicar mais poderosos que existem. E não é ao acaso que existem vários estudos que dizem que cantar em coro, estar com um grupo de amigos a fazer música, é algo que nos deixa melhor, uma coisa muito boa para a nossa saúde mental”, sublinha a professora Ana Isabel Pereira, Professora de música e responsável pelo «LabConjunto», o exercício comunitário de ensaiar as cerca de 60 vozes para o concerto final onde algumas composições criadas para esta iniciativa foram executadas em público.
O «Livro Cinzento» reúne o resultado do desafio lançado a diferentes compositores, no início do ano, para, a partir de textos litúrgicos, comporem músicas.
Após uma “seleção de algumas letras e textos litúrgicos e poéticos, várias anáforas”, chegou-se a esta edição.
“Compõem 80% deste livro sendo o resto composições da 1ª edição do labOratório. Falamos de material inédito que vai sendo cantado e ensaiado ao longo destes dias com a ajuda da Ana Isabel, que nos vai ensaiando e assim, podendo gravar estas músicas, ficam disponíveis não apenas na partitura mas através do mp3 no site”, explica o padre Miguel Pedro Melo, outro dos organizadores.
A par do som ouvia-se também o silêncio na oração e nas celebrações que convidaram os participantes a uma maior relação espiritual.
“Nesse silêncio pode acontecer tudo: por isso é um espaço que não significa vazio mas é muito rico. Os momentos de silêncio são para isso: assentar, parar, rezar, pensar, refletir, voltar a ler uma leitura, voltar à letra de um cântico, escutar dentro da cabeça… o momento de silêncio é um momento muito fértil”, traduz Ana Isabel Pereira.
Mas houve ainda tempo para conferências inesperadas sobre a «Teologia do Fado», «O Natal de Sufjan Stevens», músico e compositor norte-americano, «A mística de Bach» ou conversa com diferentes convidados.
Cristiana Vasconcelos Rodrigues, Professora universitária de Literatura, conduziu uma conferência sobre os pontos de contacto entre a poesia contemporânea e a poesia litúrgica, focando exemplos de poetas com percurso sacerdotal, como Daniel Faria, Frei José Augusto Mourão e D. José Tolentino Mendonça, mas também Rainer Maria Rilke, e.e. cummings ou Sophia de Melo Breyner Andresen.
“A liturgia é um ritual que vive da tensão entre a vivência espiritual individual mas em contexto de comunidade que se revê no que ora em conjunto, na coletividade. Essa identificação coletiva, que se relaciona de uma forma feliz mas tensa com o universo espiritual do individuo, pode ser bem servida por poesia que poderá não ter sido escrita nesse contexto, mas padece de uma mesma experiência radical da busca de qualquer coisa, da elevação do espirito, da busca de qualquer coisa que transcenda a «concretude» dos dias, que nos leve para uma dimensão que não seja só essa”, explica.
Os participantes, vindos de diferentes pontos do país, enalteciam as relações humanas criadas também neste LabOratório e o sentir de uma Igreja jovem e a avançar.
“Uma mostra do que pretende ser a Igreja no século XXI e falo com grande gratidão e não com sentimento de desespero; estamos a viver um tempo privilegiado em que a Igreja é convidada a encontrar as suas raízes e a mensagem central do evangelho. Esta transformação trouxe mais profundidade e maior desejo de encontro com Deus”, traduz Diogo Conceição, participante de Coimbra no “LabCria”.
A professora de Matemática Margarida Corsino, de Braga, assinala que o mesmo gesto de dirigir um coro, e “procurar criar algo belo”, se revela uma sala de aula, “onde a diferença está presente e procuramos alcançar algo belo”.
A experiência do LabOratório vai estar no centro do programa 70×7, no próximo domingo, na RTP2, às 17h45.
G.I./Ecclesia:HM/LS

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