Papa Francisco defende passagem de «cultura da ameaça» para «cultura do encontro», evocando experiência em Hiroxima e Nagasáqui.
O Papa Francisco alerta na sua mensagem para o 53.º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2020), divulgada ontem pelo Vaticano, para o perigo de “aniquilação” nuclear da humanidade, apelando ao fim deste armamento.
“Não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença”, refere o texto, intitulado ‘A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica’.
Francisco evoca a experiência vivida na sua viagem ao Japão, aquando da passagem pelos memorias de Nagasáqui e Hiroxima, a 25 de novembro, onde rezou pelas vítimas dos bombardeamentos atómicos de 1945, durante a II Guerra Mundial.
“Os sobreviventes aos bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui – denominados os hibakusha – contam-se entre aqueles que, hoje, mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu”, refere.
Desconfiança e medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória”.
O Papa desafia a comunidade internacional a romper a “lógica do medo”, passando da “cultura da ameaça” para a “cultura do encontro”.
“É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades”, apela.
Francisco recorda os “sinais das guerras e conflitos” que a humanidade transporta consigo, num momento de “crescente capacidade destruidora”, afetando especialmente os mais pobres.
“Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa”, denuncia.
A mensagem sublinha o valor da memória, do respeito, da solidariedade e da reconciliação, para “depor toda a violência” e “reconhecer no inimigo o rosto dum irmão”.
“O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações”, indica o pontífice.
O Papa fala da paz como um processo, um “trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas”.
“Este caminho de reconciliação convida-nos a encontrar no mais fundo do nosso coração a força do perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs”, pode ler-se.
Francisco observa ainda que “nunca haverá paz verdadeira” sem a construção de um “sistema económico mais justo”.
“Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda. Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação. E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si”, conclui.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 pelo Papa Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia do novo ano.
G.I./Ecclesia:OC