Presidente da associação ambientalista «Zero» comenta mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2020.
O presidente da associação ambientalista ‘Zero’ disse que o desenvolvimento sustentável só se atingirá se forem conjugados cinco «P», “pessoas, planeta, prosperidade, parcerias, e paz”, aludindo à conversão ecológica proposta pelo Papa Francisco.
“Quando discutimos as alterações climáticas, nós estamos a discutir toda a sustentabilidade, tudo o que se relaciona com os direitos humanos, a paz e não apenas a componente mais ambiental; as questões sociais, económicas, de governação, estão obviamente patentes”, referiu Francisco Ferreira à Agência ECCLESIA.
O ambientalista afirma que o desenvolvimento só estará assegurado quando se salvaguardarem os “recursos que o planeta tem” e se quando conseguir “uma conversão ecológica” que proteja as futuras gerações.
O Papa Francisco escreveu a tradicional mensagem para o dia 1 de janeiro de 2020, indicando o diálogo, a reconciliação e a conversão ecológica como caminhos para a paz.
O presidente da ‘Zero’ sublinha a intervenção de Francisco, “em especial desde a publicação da encíclica ‘Laudato Si’, em 2015”, insistindo que “um desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento que tem a capacidade de unir muitas vertentes” e que, apenas assim, “consegue dar uma resposta integrada à felicidade”, gerindo corretamente “um planeta que está sobre explorado e onde o consumo e o aquecimento global e as alterações climáticas têm de ser olhados de frente e de forma ambiciosa”.
Francisco Ferreira lamenta a falta de compromisso efetivo dos Estados, depois de duas semanas de cimeira das Nações Unidas sobre o clima, que decorreu em Madrid, entre 2 e 13 de dezembro, notando “um divórcio” entre os vários países e, simultaneamente, entre a sociedade civil.
Temos um divórcio entre países e entre a sociedade civil que sente a necessidade de agir e não tem resposta por parte dos políticos; deveria ter saído uma reafirmação de urgência climática, de emergência para a humanidade que nos últimos anos tem sido motivo de alerta, de forma quase ecuménica com bases científicas muito claras a alertarem para a necessidade de fazer muito mais porque os custos serão muito mais elevados mais tarde, em comparação com o que viermos a fazer desde já”.
Em Madrid estiveram presentes observadores provenientes de diferentes religiões: “cristãos, árabes, hindus” e também católicos, com a participação do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin.
“É impressionante percebermos uma comunhão de ideias e perspetivas e todos, em Madrid, queriam mais ação, compromissos muito mais firmes, para passar à ação do que são os textos consensualizados neste tipo de reuniões”, indicou Francisco Ferreira.
O entrevistado lamenta a falta de vontade política, patente na Cimeira, e a falta de acordo, “à escala das Nações Unidas”, para “uma real ambição de redução das emissões de gases com efeito de estufa, procurar apoiar os países que não têm meios para lidar com a catástrofe climática, e proteger e salvaguardar valores essenciais”.
Criticando o bloqueio do Brasil para se conseguirem acordos sobre a região amazónica, Francisco Ferreira assinalou esta região como “repositório” de oxigénio e biodiversidade, mas também a área onde vivem “povos indígenas” que mostram a sua “ligação com a natureza, a sua cultura e visão, a comunhão com o ambiente”.
A entrevista sobre a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz pode ser ouvida hoje no programa Ecclesia, na Antena 1 da rádio pública, pelas 22h45.
G.I./Ecclesia:LS