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Bênção dos Ramos

É Jesus o nosso Rei! Como as crianças, os jovens e os adultos de Jerusalém, também nós hoje, com os bancos vazios desta catedral e de todas as igrejas, queremos aclamar Jesus como o Senhor, o Salvador do mundo, o nosso Rei. Ele vem montado numa jumentinha para nos mostrar que é o Senhor, mas simultaneamente aquele que serve, o pequenino, o humilde.

É neste espírito de abertura ao mistério de Deus, ao mistério da Igreja na nossa vida, ao mistério da dor e do sofrimento e da nossa realização humana, que demos início a esta Semana Santa. Benzemos os nossos ramos, sinal da bênção de Deus sobre cada um de nós, sobre a humanidade ferida, doente e magoada.

E neste contexto, eu queria estar convosco, caríssimos doentes, internados no nosso hospital, nos nossos hospitais, nos nossos lares, nas Santas Casas da Misericórdia, noutras instituições ou em casa; convosco que estais doentes, vítimas do Covid 19 ou de outras doenças, pobres, marginalizados, refugiados e migrantes; com quantos vos sentis sozinhos e abandonados: não desanimeis.

Cristo entrou como rei em Jerusalém para nos anunciar o seu Reino: «Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade». Nos dias em que vivemos, assolados por esta grande epidemia que nos faz ficar em casa – e devemos ficar em casa, porque essa é a nossa missão para nos defendermos deste inimigo terrível – queremos, com esta bênção de Deus, dada a estes ramos – o que significa ser dada a cada um de nós, à humanidade inteira – aclamar o Senhor Jesus, como verdadeiramente o nosso Rei, o nosso Salvador, o nosso melhor amigo. Ele nunca nos falta.

Neste espírito, gostaria de dar uma palavra de gratidão ao pessoal de saúde, aos médicos, aos enfermeiros, aos auxiliares, àqueles que nos lares e noutras casas que acolhem idosos 24 horas por dia, cuidam dos doentes, que não têm medo de ser infetados, que nos dão o exemplo e o testemunho. Vós também estais aqui. A bênção que foi dada a estes ramos também é para vós, para todos os serviços de saúde, para os nossos governantes, para os administradores hospitalares, para aqueles que têm que tomar decisões, para os pobres, para os que estão a sentir a necessidade do pão. Esta bênção é para todos, é para nós.

Deus, Senhor e Rei, a quem devemos servir e adorar, está connosco e nunca nos abandonará. Nas horas de dificuldade e de provação, saibamos dizer sempre: «Jesus, meu Senhor e meu Rei, eu confio em vós!». Ámen.

Domingo de Ramos na Paixão do Senhor

Depois de termos ouvido a narração da Paixão e Morte de nosso Senhor Jesus Cristo, de termos escutado as leituras, vem-nos ao pensamento uma primeira palavra: Obrigado, meu Deus! Obrigado, porque, no vosso amor infinito, nos enviastes o vosso Filho, como dizia a segunda leitura. Ele, que era de condição divina, fez-se homem em tudo igual a nós, exceto no pecado, para nos dar a verdadeira vida. Contudo, Deus não o privou, apesar de passar a vida a fazer o bem, do sofrimento, da dor e da morte.

Agradecemos ao nosso Deus, pela graça do Espírito Santo, o dom de nos ter enviado o seu Filho, o Verbo feito carne, o Homem Salvador e Redentor, o Homem por antonomásia; aquele que aceita o projeto do Pai para servir a humanidade. Humanidade que agora, através do mistério e do ministério da Igreja, anuncia o mistério da Morte e da Ressurreição de Cristo.

Caríssimos padres, caríssimos cristãos, todos vós que nos acompanhais através desta transmissão, na comunhão com os doentes, vítimas da Covid 19, todos os outros doentes, os utentes dos lares, dos hospitais, das Santas Casas de Misericórdia ou retidos no seu leito, pelo silêncio e pelo isolamento, ao ouvirmos o relato da Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, nós também nos sentimos presentes neste relato. Foi por nós e para nós que ele disse sim a Deus, sim ao Pai: «Eu venho para fazer a tua vontade».

E a vontade do Pai era: no mistério do sofrimento, do serviço e da disponibilidade, da proximidade e do acolhimento, ele que passou a vida a fazer o bem, havia de ouvir, daqueles a quem ele fez esse bem, atitudes de condenação, de mentira, de injúria, de morte. Mas Ele não desanimou: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes», cantávamos nós no salmo.

Mas Jesus não foi abandonado. Nas horas de abandono, de sofrimento, de dor, desta pandemia universal, nós também não estamos abandonados. Deus está connosco, porque o seu amor por nós é infinito. E por isso ele nos enviou o seu Filho para dar a vida por nós, para morrer na cruz.

Por isso, o próprio Jesus diz: dar a vida por alguém que nos fez bem, qualquer um de nós é capaz de o fazer; mas dar a vida pelos próprios inimigos, por aqueles que nos deram a morte e dizer ao Pai: «perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem», só Jesus, o Salvador, o Redentor do mundo foi capaz de o dizer e de o fazer.

E fê-lo por ti, por mim, por cada um de nós, pela Igreja reunida nas suas casas, em família: os pais com os filhos, os idosos, os doentes, aqueles que estão na solidão, mas que, através desta transmissão ou de outras, celebrais o início da Semana Santa.

Com esta solene celebração, em que foram benzidos os ramos e ouvimos as leituras da Palavra de Deus e a narração da Paixão, nós temos que dizer: «Muito obrigado, Senhor! Afinal eu não mereço. Sou tão pobre, tão pecador, tão pequenino, tão simples! Porque deste a vida por mim? Porque me chamaste a este mistério de dor, de sofrimento? Porque me chamaste a contemplar a tua Paixão? E se eu próprio também me deixar Contigo crucificar?

O Papa, no início da Quaresma, citando a Exortação Apostólica ‘Cristo Vive’, dizia, como já tinha dito aos jovens: «Contemplai Cristo crucificado, de braços abertos!». Ele abriu os braços e na Cruz morreu por nós! Por isso, a Igreja quer que, para todos os fiéis, para todos os batizados – e nós estamos a viver um ano que nos convida a este morrer com Cristo, para com Ele ressuscitar; um ano dedicado ao batismo, caminho de santidade – a Eucaristia, agora vivida e celebrada sem a presença física do povo, seja mistério de comunhão, de ação de graças e de louvor, na família, onde nos juntamos, onde nos amamos, onde nos perdoamos, onde rezamos, onde partilhamos o pão, onde sentimos as preocupações, mas também as alegrias e as esperanças.

Aí somos chamados – todos – a ser aquela mensagem da primeira leitura: O Senhor deu-me a graça de ser discípulo, discípulo missionário, para continuar a missão do teu Reino. Porque Tu disseste: «O meu Reino não é deste mundo». Quando Te perguntavam: «Tu és rei?»; «Sim, eu sou Rei», mas o meu Reino não é deste mundo. E é esse Reino que nós queremos construir na justiça, na paz, no amor, na solidariedade, na partilha, tendo bons governantes, com boas leis. Temos pessoas que nos sabem dirigir e orientar para que esta pandemia possa ter, o mais breve possível, o seu fim.

E aqui lembramos todas as administrações dos serviços de saúde, todos os profissionais de saúde, como nós temos ouvido ao longo destes últimos dias; tantos médicos e enfermeiros infetados por cuidarem dos doentes, por se aproximarem deste Jesus sofredor, hoje em cada um de nós. Porque no mistério da sua Cruz e da sua condenação também estamos nós. Quantos dão a sua vida para que outros encontrem a vida.

Ontem, li um pequenino artigo de um médico que dizia: a missão do bispo ou do padre, do diácono ou do leigo responsável na vida da comunidade, é importantíssima. Mas a vida do médico, do enfermeiro, do cuidador dos doentes, quer seja no hospital, no lar ou em casa, também é importante. Porque ser médico ou profissional de saúde também é uma vocação, também é o ministério ao serviço dos outros. E aqui todos encontramos espaço e lugar, e ao mesmo tempo resposta para que em família nos amemos mais e melhor.

Ele deu a vida por ti, por mim. Ele ama-te, ele ama-me. Foi para isso que ele sofreu, que ele aceitou voluntariamente a morte; que ele morreu e que, no alto da Cruz, perdoa: «Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem».

Que nós saibamos viver a liturgia deste Domingo de Ramos, em tempo de exceção, sem presença dos fiéis, do povo santo de Deus, mas na comunhão com eles e estando com eles, em suas casas, na família, ou naqueles que por outras profissões, têm que trabalhar, têm que nos servir, para que não nos falte o pão, para que não nos faltem os bens essenciais. Esses também estão aqui e também vão ser colocados no altar, neste pão e neste vinho. Que o Senhor aceite esta nossa oferta, como nós gostamos de cantar: «Tomai e recebei as obras do meu dia». Eu tas ofereço, Senhor: as dores, as angústias, as esperanças e os trabalhos. Esse é o mistério da Cruz!

Por isso, Jesus na Cruz, abre-nos um livro novo: É a sua própria vida. É a interpretação de todo o mistério da Escritura. Por isso, o Evangelho é Palavra nova: a Palavra da alegria e da salvação. E em Cristo, esta Palavra, no mistério da sua Morte, tornou-se para nós sinal de vida. Assim, a Cruz é o sinal mais. Contemplar o crucificado é abrir o livro que nós devemos ler para sermos melhores e mais felizes.

Muito obrigado à mãe Igreja porque pede aos cristãos ao menos que, duas vezes no ano, possam escutar com fé e viver com esperança a leitura da Paixão e Morte de Jesus: no Domingo de Ramos e Sexta-Feira Santa. Mas não sejamos daqueles que só nesses dias meditam esses mistérios. Que em cada dia, na dor, nos sofrimentos, nas dificuldades, todos sejamos capazes de abrir esta página do Evangelho e contemplar, rezar e meditar a Paixão e a Morte de nosso Senhor Jesus Cristo. Se o fizermos com fé, numa oração verdadeira, e com a esperança, acredito que ressuscitaremos.

Os ramos que benzemos são também fruto da semente que foi lançada à terra e que se tornou um pequenino arbusto do qual colhemos ramos novos, que hoje foram benzidos para sentirmos que a Cruz é a árvore da vida. No Ressuscitado havemos de encontrar a esperança e a interpretação do mistério da dor e do sofrimento, mas também da maldade do mundo. Que nós saibamos também ser reparadores dessa maldade e que todos sejamos construtores de um único e verdadeiro bem, que se sintetiza nesta palavra de Jesus: «Se vos amardes uns aos outros, vós sereis verdadeiramente meus discípulos».

No mistério da vossa Paixão e da vossa Santa Cruz, ouvi-nos, Senhor. Ámen.

 

Sé de Viseu, 5 de abril de 2020

+ D. António Luciano, Bispo de Viseu

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