Eucaristia: dom, mistério e missão!
Caríssimos padres, caríssimos irmãos e irmãs na fé, caríssimos consagrados e consagradas, todo o povo santo de Deus.
Ao iniciarmos o Tríduo Pascal, nesta nossa Sé Catedral da diocese de Viseu, em comunhão com a Igreja diocesana e universal, em tempo de pandemia Covid 19, continuamos com a igreja de bancos vazios, mas em comunhão com todos aqueles que acreditam em Jesus, em Jesus que está presente na Eucaristia.
A Eucaristia, dizia São Paulo VI, é o maior dom do coração de Cristo. Foi no contexto de uma ceia, relatando um outro acontecimento – a Páscoa judaica e a libertação do povo de Israel – que um cordeiro foi imolado. Esse cordeiro ou esse cabrito simbolizava um outro Cordeiro, o próprio Cristo; Aquele que se oferece em Eucaristia, por ti, por mim, pela humanidade.
Por isso, na Eucaristia, nós somos pão e somos vinho oferecidos ao Senhor para que Lhe sejamos agradáveis.
Porém, a Eucaristia acontece através do ministério sacerdotal. Hoje pela manhã, não celebrámos juntos nem individualmente a Missa Crismal. Havemos de celebrá-la em tempo oportuno, porque, na verdade, a Eucaristia nasce do ministério sacerdotal.
A Eucaristia faz a Igreja, mas a Igreja também faz a Eucaristia. Por isso, o sacerdote é importante para que a Eucaristia, Sacramento do amor e da comunhão do coração de Cristo, se torne presente no meio de nós. Presente nesse Pão e nesse Vinho que, pela ação do Espírito Santo, se transforma no Corpo de Cristo que comungamos e que, nestes tempos de pandemia, comungamos espiritualmente.
No sinal do sacrário vazio, está a esperança de que Jesus, na Eucaristia, é Pão vivo descido do Céu para alimentar a nossa vida, a vida da Igreja. Por isso, a Igreja celebra a Eucaristia em ação de graças, em louvor, em atitude de partilha, e também de serviço e de lava-pés, isto é, numa atenção grande aos mais pobres, aos doentes, aos marginalizados, àqueles que ninguém quer ou repudiam na nossa sociedade.
Só há verdadeira Eucaristia quando o sacerdote ou o bispo comungam verdadeiramente a Cristo e, no altar, se sentem com Ele oferta e vítima; e quando o bispo e o sacerdote comungam os seus irmãos.
O relato da primeira leitura falava-nos da Páscoa judaica. Ao iniciarmos o Tríduo Pascal, lembramos esse acontecimento em ação de graças, embora com o coração dorido; um coração, porventura, dilacerado, caindo-nos as lágrimas do rosto. Mas a Eucaristia é também Pão; Pão que é fruto do sacrifício e do trabalho do homem, como nós dizemos.
É esta Eucaristia, sacramento de amor, mistério de vida, missão em serviço de lava-pés, que nós queremos hoje celebrar, tomando também consciência de que talvez seja este o momento em que, privados de a celebrarmos comunitariamente, aprendamos melhor o que ela significa para nós e a falta que nos faz não a celebrarmos em comunidade.
Poderíamos dizer que estamos órfãos. Mas o Senhor não nos deixou órfãos: Eu estarei convosco até ao fim dos tempos; o importante é que vós escuteis a minha palavra e que a vivais com um coração novo e a ponhais em prática…
Por isso, na segunda leitura, da Carta aos Coríntios, Paulo dizia: Aquilo que eu recebi, também é isso que eu vos transmito. O ensinamento de Paulo às primeiras comunidades centra-se precisamente na Eucaristia.
A vida cristã é uma vida eucarística. A Eucaristia é o centro e o cume de toda a vida espiritual da Igreja, ensina o Concílio Vaticano II. É para esse cume, para essa fonte que nós caminhamos nesta tarde, em comunhão uns com os outros, com o sacerdote que celebra 25 anos de ordenação: o Padre Abel; com os que celebram 50 anos: o Padre António Alexandre, o Padre Carlos Maia, o Padre João Martins e o Padre Manuel Fernandes; e o Padre António Encarnação, que celebra 60 anos. Em comunhão com estes sacerdotes, com todos os sacerdotes da diocese e diáconos, com todo o povo de Deus, queremos ser um povo eucarístico. Queremos celebrar, viver, comungar e testemunhar a Eucaristia.
Muitas vezes, eu gosto de dizer a mim mesmo: a Eucaristia dura as 24 horas da tua vida. Não são escassa meia hora ou porventura uma hora. A Eucaristia é o teu dia, porque é o mistério de Deus revelado em Cristo e no seu amor, principalmente pelos mais pobres.
Por isso, Ele nos dá o Mandamento Novo do Amor como regra de vida que nos faz viver a Eucaristia. Assim, quem celebra a Eucaristia, quem vive da Eucaristia, tem que amar, tem que ouvir, tem que estar próximo, tem que saber perdoar, tem que saber dar-se e também receber.
É neste mistério da Eucaristia que nós encontramos também o mistério da vida de Maria, a mulher eucarística, e de tantos santos e santas que encontraram em Jesus Eucaristia, o amigo escondido, como dizia Francisco Marto, aquele que nos acompanha sempre e nunca nos abandona.
É neste mistério, é neste dom e é nesta missão que o Salmo Responsorial que cantámos encontra todo sentido. É cálice de bênção, a comunhão do Sangue de Cristo.
Que nós sejamos cada vez mais dignos de celebrar a Eucaristia, de viver da Eucaristia, de levar a Eucaristia ao nosso mundo e ajudarmos também os nossos cristãos batizados a perceber que é vivendo da Eucaristia que nós somos mais humanos e mais cristãos.
Por isso, a Eucaristia também é serviço. Temos à frente do altar a jarra com a água e a toalha. Não teremos o momento do lava-pés, mas este símbolo é para nos dizer que o sacerdote é aquele que serve, que serve sempre. Serve com amor e sem nunca se cansar.
Termino com um pequenino exemplo: Um dia, um adolescente foi internado num hospital. Era filho de uma família muito pobre. Com certeza, vítima também de uma doença grave, não a pandemia Covid 19, mas de uma outra doença. Foi internado num hospital e ali permaneceu bastante tempo. Nunca teve visitas, mas, desde o primeiro dia em que foi internado, ele dizia à enfermeira que o recebeu: junto da minha cama, deixe sempre uma cadeira vazia. Ela perguntou-lhe: «porquê?». «Eu depois explico-lhe», retorquiu. Passaram muitos dias e naquela cadeira nunca se sentou nenhuma visita. E ela, um dia, dialogando com ele, perguntou-lhe: «Então agora que já está melhor, já é capaz de me dizer para quem era esta cadeira?». E ele responde: «É para Jesus, o meu grande amigo. Aquele que está na Eucaristia, vivo e ressuscitado. Como eu não tenho visitas, nem a minha família pode vir de tão longe visitar-me ou pode até estar impedida por isolamento, assim eu não estou sem visitas, porque Jesus todos os dias se senta nessa cadeira e conversa comigo».
Que também nós aprendamos com Jesus e a caminhar para Jesus, para que, no sacrário, na Eucaristia, dialoguemos com Ele, o amemos e o levemos aos outros, porque o comungamos e o queremos testemunhar.
Ó Sagrado banquete, em que se recebe Cristo e se comemora a Sua Paixão, em que a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória.
Aqueles que participais nesta Eucaristia e não podeis comungar o Corpo do Senhor, fazei a comunhão espiritual e dizei: Ó Jesus, Tu estás vivo por mim na Eucaristia; por amor do Pai, com a graça do Espírito Santo, tornaste-Te para mim o Pão Vivo decido do Céu. Vem ao meu coração. Que eu Te comungue, Te ame e Te adore. Ó Jesus, eu Te louvo, Te adoro e Te amo no Santíssimo Sacramento.
A Vossa Mãe Santíssima, a Senhora da Eucaristia, abençoe a nossa diocese, os sacerdotes, os diáconos, o povo de Deus, os doentes e os seus cuidadores.
Fazei isto, lavai os pés uns aos outros. Servi, porque a Eucaristia é dom, é mistério e é serviço. Ámen.
Sé de Viseu, 9 de abril de 2020
+ D. António Luciano dos Santos Costa