Excertos da Homilia, refletindo sobre a Semana da Vida…
Na Semana da Vida, que decorreu de 10 a 17 de maio com o tema: “A fragilidade humana” e que na sua expressão, para nós percebermos a grandeza e a riqueza da vida, se expressa deste modo: “A fragilidade humaniza a vida”. Nós estamos a passar tempos de fragilidade, tempos difíceis, decorrentes desta pandemia e ainda neste tempo de calamidade.
“A fragilidade humaniza a vida”. O que é a vida? Uma pergunta muito simples, às vezes de difícil resposta, mas muito séria. O que é a vida? E o que devemos fazer pela vida? Como devemos respeitar a vida? A vida humana vem-nos como dom de Deus, brota no seio também da família, por isso sem verdadeira família não há vida humana por excelência, por isso é que a família também é a guardiã da vida. E nós temos vivido estes dias apercebendo-nos de tantas situações talvez fruto do isolamento, consequências desta pandemia, olhamos para o nosso mundo e vemos violência, fugas, porque parece que temos medo da vida.
A vida humana e a sua fragilidade: devíamos pensar muitas vezes nisto nos dias em que vivemos com todas estas consequências da Covid-19, temos diante de nós um tema que merece uma profunda reflexão, porque é muito atual e também tem que ser bem trabalhado, para depois ser bem vivido. Por um lado, a grandeza e o valor inestimável da vida, como dom de Deus, a vida sagrada e inviolável, os valores da dignidade da própria vida e por outro lado a fragilidade, a vulnerabilidade, a incapacidade muitas vezes de a vida por si própria vencer. E nós tivemos essa experiência com os nossos doentes que foram vítimas deste vírus, que se não fossem os cuidados médicos de enfermeiros e de tantas outras pessoas se as mortes que temos foram bastantes, teríamos muito mais. Por isso refletir sobre a vida e os seus valores não nos pode deixar de fazer olhar para aquilo que são os inimigos astutos contra a destruição da própria vida e aqui temos diante de nós este vírus que ainda não sabemos a sua origem e como combatê-lo, temos que continuar a cumprir as regras que nos são pedidas, o uso da máscara, o distanciamento e também depois a convivência que ela seja também uma regra de saúde pública, mas também de princípios que honrem também cada um de nós e o nosso povo enquanto portugueses. Não podemos deixar que ferozmente a vida humana seja ferida e atacada de morte, seja em que horizonte for. A vida sendo este dom precioso e frágil é para nos algo que devemos cuidar com muito humanismo, com as melhores práticas. Nós que estamos a experimentar as sequelas desta grave pandemia e as dimensões promotoras de tudo aquilo que são consequências daquilo que ela provocou quer seja a nível pessoal, como familiar, dos povos, da convivência uns com os outros e de dimensão económica e financeira. Perante tudo isto que assolou a vida somos chamados a construir uma cultura de vida e a promover a defesa de um mundo global.
A vida desde a sua origem até ao seu fim natural, mesmo quando posta à prova desta maneira encontre em nós acérrimos defensores de tão graves ataques ou ameaças. Por isso nós temos o dever humano, ético e religioso de a preservar, cuidar, promover e defender de todas as agressões seja em que circunstâncias for e só assim a vida é um bem precioso e as fragilidades a que ela está sujeita podem desaparecer.
Ao voltarmos à vida normal de modo gradual, que nos vêm pedindo os nossos governantes e também a nossa Conferência Episcopal Portuguesa, no meio de tantas dificuldades, sérias, sanitárias, humanas, económicas somos chamados a fazer uma travessia do deserto porque este também é um tempo de transição, de uma vida normal para uma paranormal que quase vivemos, por isso tanta gente entrou em stress e dificuldade, mas agora de modo faseado para entrarmos conscientes e com mais liberdade, nós traz mais responsabilidade, na vida que todos nós queremos ter.
Aqui há um exercício que todos devemos fazer: retomar, recomeçar, reiniciar são verbos presentes nas orientações do Governo, da DGS, da Conferência Episcopal, de cada Diocese para que todos possamos cumprir. E cumprir é fazer a vontade de Deus, mas é ao mesmo tempo também obedecer às autoridades é preciso pensar no seguinte: vale mais um pouco de ascese e de sacrifício, não foi isso que Nossa Senhora pediu em Fátima aos pastorinhos. Não queremos perder a batalha, voltar atrás. Eu peço aos pastores e aos fiéis que saibamos dar bom exemplo e cumprir todas as orientações para tornarmos a Igreja de Jesus Cristo cada vez mais imagem de Deus e referencial.
Sejamos testemunhas do bem, da verdade, do amor e da justiça, porque este é o caminho de Jesus que nós devemos também percorrer hoje. Contribua cada um de nós à sua maneira para termos uma vida mais saudável, com mais qualidade quer na Igreja quer no próprio mundo.
† António Luciano,
Bispo de Viseu