Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

“Recebei o Espírito Santo…” (Jo 20, 19-23)

 

1. Com imensa alegria nos reunimos hoje para retomar a celebração pública e comunitária da fé. Nesta Solenidade de Pentecostes, queremos, em clima de alegria e de festa, receber o Divino Espírito Santo.

Pedimos ao Espírito Santo que desça sobre cada um de nós, sobre as nossas famílias, sobre as nossas comunidades e sobre as vítimas desta terrível pandemia: Vinde, Espírito Santo, e renovai a face da terra! Operai em cada um de nós e na Igreja as maravilhas do primeiro Pentecostes! “Senhor, desejo contemplar-vos no vosso amor e na vossa glória” (Sl 63). Desejo encher o meu coração do gozo do vosso Espírito.

Neste dia de alegria, de festa e de esperança, graças a Deus, estamos juntos a celebrar em comunidade. A pandemia ainda não terminou. É preciso cumprir as orientações concretas que, paulatinamente, nos conduzem à nova normalidade.

A alegria da fé de podermos celebrar juntos e de forma presencial a Eucaristia é algo que não podemos esquecer e deixar de agradecer. É um regresso à normalidade que nos traz muitas surpresas. Por isso canto convosco: “Mandai, Senhor, o vosso Espírito e renovai a face da terra”.

Uma saudação especial a todos os que se encontram nesta Sé de Viseu, a toda a Diocese e, de modo particular, àqueles que nos acompanham através da internet. Cumprimento as autoridades presentes, de modo especial o Senhor Presidente da Câmara de Viseu, Dr. Almeida Henriques e outras autoridades presentes.

2. A partir do dia 13 de Março até hoje, celebramos o domingo sem deixarmos de estar unidos na vivência da mesma fé. O tempo da Páscoa, celebrado desde a Ressurreição de Jesus até ao Pentecostes, completados os cinquenta dias, chega hoje ao fim com a graça da presença do Espírito Santo no meio de nós. Celebramos a memória do solene dia de Pentecostes em que o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e Maria reunidos no Cenáculo em oração. Deu-se então o nascimento da Igreja e o amor de Deus derramou o Espírito Santo no coração dos seus fiéis.

Quero pedir para a Igreja, fiéis, pastores, consagrados e leigos, governantes e demais autoridades públicas e sanitárias os dons do Espírito Santo, para servirmos com alegria os irmãos.

Lembrando a Sequência, imploro:

“Vinde, ó Santo Espírito, / vinde, Amor Ardente, / acendei na terra / vossa luz fulgente.

Vinde Pai dos pobres: / na dor e aflições, / vinde encher de gozo / nossos corações.

Lavai nossas manchas, / a aridez regai, / sarai os enfermos / e a todos salvai.

Abrandai durezas / para os caminhantes, / animai os tristes, / guiai os errantes.”

Imploro do céu a graça da vinda do Espírito Santo sobre o nosso mundo. Peço convosco que termine esta terrível pandemia. Venha em auxílio das vítimas que sofrem desta doença para que sejam curados, e conceda aos que partiram para Deus o dom da Bem-Aventurança eterna. A todos conceda: “Virtude na vida, amparo na morte, no Céu alegria”.

3. Jesus disse aos seus discípulos: “Eu estarei sempre convosco. Assim como o Pai me enviou, também vos envio a vós” … Eu vou para o Pai, mas vou enviar-vos o Espírito Santo, o Consolador, que vos há de ensinar todas as coisas e conduzir à verdade total. O Evangelho de hoje lembra-nos as palavras de Jesus no domingo de Páscoa: “´A paz esteja convosco´. Dito isto mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor Jesus (…). ‘Como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós’. Soprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo’ …” (Jo 20, 19-23).

Também hoje, aqui, acontece um novo Pentecostes. Depois deste exílio, estamos reunidos em Cenáculo como aconteceu no dia de Pentecostes em Jerusalém com a Igreja nascente. Também o Espírito Santo desce sobre nós, como desceu sobre os apóstolos.

“Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas…” (At 2, 1-11).

Todos os cristãos, batizados, recebemos o Espírito Santo, o Senhor que dá a Vida, para podermos dizer, pela Sua graça, que “Jesus é o Senhor”, aquele que nos convida a sermos o Corpo da Igreja na diversidade de seus dons.

Peçamos ao Espírito Santo o dom de uma vida de amor, de graça, de perdão, de misericórdia, de paz, de comunhão, de unidade, de obediência, de união, de fraternidade, de relação, de confiança, de esperança, de serviço gratuito, de amabilidade e solidariedade para o maior bem de todos e desenvolvimento da saúde integral.

O Espírito é dado à Igreja para a fazer crescer na santidade e na responsabilidade perante o mundo, num serviço de construção do bem comum aberto às necessidades de todos.

4. A docilidade ao Espírito Santo e a oração em comum na vida dos cristãos é algo que caracteriza a sua vida. Pelo dom da oração e da contemplação, que o Espírito Santo concede a algumas almas, quero agradecer a presença das Irmãs Concepcionistas da Imaculada Conceição na nossa cidade. Celebram hoje os cinquenta anos da sua presença na Diocese de Viseu, vivendo em clausura no Convento de Santa Beatriz, no Viso. Um obrigado pela sua presença, pelo serviço prestado à Diocese e pelo dom do seu carisma de oração oferecido a Deus por todos nós.

5. Nestes tempos difíceis da pandemia que vivemos, neste período entre o dia 13 de março e o dia 31 de maio, ao regressarmos às celebrações comunitárias da Eucaristia, a uma nova vida de normalidade, peçamos ao Espírito Santo que desça sobre nós e a humanidade inteira, cheia de vulnerabilidades e fragilidades e derrame sobre nós os seus dons.

A Igreja identifica como sete o número dos dons do Espírito Santo, que simbolicamente significa plenitude e totalidade.

– O dom da Sabedoria

Não se trata simplesmente da sabedoria humana, que é fruto do conhecimento e da experiência. A Bíblia narra o momento da coroação de Salomão como rei de Israel; momento em que ele tinha pedido ao Senhor o dom da Sabedoria (cf 1Rs 3,9). A sapiência consiste precisamente nisto: é a graça de poder ver tudo com olhos de Deus. As vezes nós vemos as coisas e as realidades segundo o nosso prazer ou em conformidade com a situação do nosso coração, com amor ou com ódio, com inveja. Peçamos à Virgem Santa Maria, que é a Sede da Sabedoria, esta graça.

– O dom do Entendimento

Aqui não se trata da inteligência humana, da capacidade intelectual de que podemos ser mais ou menos dotados. Ao contrário, é uma graça que só o Espírito Santo pode infundir e que suscita no cristão a capacidade de ir além do aspeto externo da realidade e perscrutar as profundidades do pensamento de Deus e do seu desígnio de salvação. “Nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam”. É o dom com que o Espírito Santo nos introduz na intimidade de Deus. O dom do entendimento está intimamente ligado à fé.

– O dom do Conselho

“Bendigo o Senhor por me ter aconselhado, até de noite me inspira interiormente” (Sl 16, 7). Sabemos como é importante, nos momentos mais delicados, poder contar com sugestões de pessoas sabias e que nos amam. Através do conselho é o próprio Deus, com o seu Espírito, que ilumina o nosso coração, fazendo com que compreendamos o modo justo de falar e de nos comportarmos, e o caminho que devemos seguir. O Espírito Santo torna-se nosso Hóspede.  O espírito ajuda-nos a crescer e a viver em comunidade. A condição essencial para conservar este dom é a oração. Senhor, ajudai-me, aconselhai-me e dizei-me o que devo fazer agora!

– O dom da Fortaleza

Ele vem sempre para nos apoiar nas nossas debilidades e fá-lo com um dom especial: o dom da fortaleza. Com o dom da fortaleza, o Espírito Santo liberta o terreno do nosso coração (parábola do Semeador). Liberta-o do entorpecimento, das incertezas e de todos os temores que podem detê-lo, de modo que a Palavra do Senhor seja posta em prática, de forma autêntica e jubilosa. Este dom da fortaleza é uma verdadeira ajuda; dá-nos força, liberta-nos também de tantos impedimentos. Tudo posso naquele que me fortalece!

– O dom da Ciência

Quando se fala de ciência, o pensamento humano dirige-se imediatamente para a capacidade que o homem tem de conhecer cada vez melhor a realidade que o circunda e de descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. A ciência é um dom especial, que nos leva a entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua profunda relação com cada criatura. “descobrir como tudo nos fala d`Ele e do seu amor”. O dom da ciência põe-nos em profunda sintonia com o seu Criador.

– O dom da Piedade

Este dom refere-se ao cerne da nossa identidade e da nossa vida cristã. O dom da piedade, muitas vezes, é mal entendido ou considerado de modo superficial. Este dom não se identifica pela compaixão por alguém, a piedade pelo próximo, mas indica a nossa pertença a Deus e o nosso vínculo profundo com Ele; um elo que dá sentido a toda a nossa vida e que nos mantém firmes, em comunhão com Ele, até nos momentos mais difíceis e atormentados. Trata-se de uma relação vivida com o coração: “é a nossa amizade com Deus que nos foi concedida por Jesus (…) que nos enche de entusiasmo e alegria”. Este é o motivo e o sentido mais autêntico do nosso culto e da nossa adoração. Ajuda-nos a derramar este amor sobre os outros e a reconhecê-los como irmãos.

– O dom do Temor de Deus

Não significa ter medo de Deus: sabemos que Deus é Pai e nos ama, quer a nossa salvação e nos perdoa sempre; por isso não há motivo para ter medo dele! Pelo contrário, devemos confiar no Senhor e cumprir a sua santíssima vontade. Mostra-nos que somos pequenos diante de Deus e do seu amor e que o nosso bem está no nosso abandono com humildade respeito e confiança nas suas mãos. O abandono à bondade do nosso Pai, que nos ama imensamente.

6. Quando o Espírito Santo habita no nosso coração, infunde nele consolação e paz. Somos homens e mulheres de Deus, feitos de um barro frágil, que só com o sopro do Espírito Santo se pode renovar e recriar.

Peçamos ao Espírito Santo, fogo de amor que arde na Igreja e dentro de nós, a graça de moldar, na diversidade dos seus carismas, o nosso coração, e de fazer avançar a Igreja, moldando-a na diversidade de dons.

Precisamos de vós, Senhor, como da água Viva para viver. Continuai a descer sobre nós, como descestes sobre Maria, a Mãe do Divino Amor, os Apóstolos, São Teotónio, Santa Beatriz e a Beata Rita, ensinando-nos a todos o caminho da unidade e da santidade. Renovai os nossos corações e afastai do nosso mundo as consequências nefastas desta pandemia Covid-19, que a ciência ainda não consegue controlar.

Vinde Espírito Santo, Senhor que dá a Vida; vinde sobre cada um de nós, a nossa família, a nossa cidade, a nossa diocese, o nosso Portugal e renovai a face da terra. Ajudai-nos a construir um mundo melhor, mais justo e mais fraterno. Ámen!

Viseu, Solenidade de Pentecostes, 31 de maio de 2020

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo do Viseu

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