Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Contemplemos Maria, a Virgem Imaculada, a toda pura, a toda santa.

A Imaculada é a mulher nova, a cheia de graça, aquela que celebramos hoje e nos toca pela sua beleza única e singular.

Olhar para Maria, a mulher nova, a “Nova Eva”, a “Ave Maria”, a Virgem Imaculada, a plena de graça, não anula a natureza humana, mas antes a aperfeiçoa e enobrece. “Com o seu “Fiat”, Maria tornou-se o sujeito autêntico da união com Deus que se realizou no mistério da Encarnação do Verbo consubstancial ao Pai” (João Paulo II, A Dignidade da Mulher, 4).

Desde sempre a Igreja acreditou e ensinou que Maria é Imaculada, desde o momento da sua conceção no seio materno de sua mãe, até à glória que goza continuamente no céu, onde intercede sem cessar pelos irmãos de Seu Filho, que ainda peregrinam na terra.

A fé da Igreja proclama a natureza humana de Maria, isenta de pecado desde o momento da sua Conceição Imaculada. Do seio da “toda santa” a “Panaghia” devia vir ao mundo o Salvador prometido. No momento da Anunciação, o Arcanjo Gabriel, enviado por Deus à casa de Nazaré, saúda Maria, dizendo-lhe: “Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres” (Lc 1, 28).

A Igreja proclama assim os louvores de Maria Imaculada, a mãe do Senhor, repetindo a antífona: “Toda sois formosa, ó Maria, e em vós não há mancha do pecado original”.

Na expressão “a serva do Senhor”, transparece toda a consciência de Maria de ser a criatura cheia de graça sobrenatural, que na sua relação e união com Deus a leva a entregar-lhe o seu “Sim”.

A fé dos cristãos, peregrinos da Jerusalém celeste, canta do seguinte modo a glórias de Maria: “Desde toda a eternidade, sois a eleita do Senhor, Virgem Santa, Imaculada, nos te cantamos com fervor: Ave, Ave! Ave Maria!”. O acolhimento na Igreja nascente da pessoa de Maria, da sua missão de proteção e de intercessão, é visto a partir da primeira comunidade como a esperança da mulher, que Isaías apresenta cheia de beleza e alegria: “Exulto de alegria no Senhor, a minha alma rejubila no meu Deus, que me revestiu com as vestes da salvação e Me envolveu com o manto de justiça, como noiva adornada de suas joias” (Is 61, 10).

Esta mulher nova apresenta-se assim diante de Deus como a esposa pura, cheia de beleza e de graça, a jovem disponível para receber o Seu esposo, fonte de amor e de santidade. Neste contexto, são bem aplicadas a Maria as palavras de São Luís de Monforte: “Deus juntou as águas das fontes e dos rios e chamou-lhe mar. Juntou todas as graças e chamou-lhe Maria”. A fé do povo cristão recorre a Maria, invocando-a como a “Mãe de todas as Graças”, o refúgio dos pecadores.

A Mãe da Divina Graça, a Mãe do Divino Amor é a Mãe do próprio Filho de Deus, que assumiu a natureza humana no seu seio de Maria. Por isso, o Arcanjo São Gabriel dirige-lhe as seguintes palavras: “Não tenhas receio, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.  Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo” (…). “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de ti será chamado Filho de Deus” (Lc 1, 26-36).

O fundamento teológico da Maternidade Divina de Maria assenta no privilégio de Ela ser isenta de pecado antes, durante e depois do parto. A Virgem Imaculada, a Mãe de Deus, a que foi santificada pelo Altíssimo, não podia experimentar o pecado, pois dela devia nascer Jesus, o Salvador do mundo.

Tem razão São Lucas quando no cântico do Magnificat afirma: “Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque o todo poderoso fez em mim maravilhas, santo é o seu nome” (Lc 1,48-49). Esta é a beleza da mulher, que a Igreja canta sem cessar, de Maria, a Mãe de Jesus e de todos os crentes.

A devoção a Maria convida-nos a contemplar o título da Imaculada Conceição, que esteve sempre presente na vida e no coração do povo cristão. A instituição desta festa em Portugal, teve a sua origem há 700 anos, em 1320, quando o Bispo de Coimbra, D. Raimundo, assinala na sua Diocese o início do culto e da festa em honra da Imaculada Conceição. Mais tarde associou-se à defesa deste Dogma o nosso rei D. João IV, que proclamou a Imaculada Conceição como Padroeira de Portugal.

O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado no ano de 1854 pelo Papa Pio IX: “A bem-aventurada Virgem Maria foi, no primeiro instante da sua conceição, por uma graça e favor singular de Deus omnipotente, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, salvador do género humano, preservada intacta de toda a mancha do pecado original” (DS 2803). Esta “brilhante santidade singular”, de que foi “enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição” (LG 56), vem-lhe totalmente de Cristo. Para vir a ser a Mãe do Salvador, Maria “foi adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão” (LG 56). Por isso, solenemente a Igreja exalta e proclamar a beleza e a santidade de Maria.

Maria, Mulher e mestra da fé, companheira e discípula de Cristo, Mãe e crente, Senhora do tempo novo, Maria a “Nova Eva”, com a sua obediência na fé desatou o nó que foi dado por Eva com a sua desobediência no início da criação do mundo.

O livro do Génesis relata-nos a resposta que a mulher disse a Deus: “A serpente enganou-me e eu comi” (Gn 3,9). Deus respondeu à serpente: “Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar. O homem deu à mulher o nome de Eva, porque ela foi a mãe de todos os viventes”.

Maria, a “Nova Eva”, tornou-se a Mãe de Jesus, o Salvador. Por isso, Santo Agostinho ensina que Ela tem mais mérito por ser discípula de Cristo, do que por ter trazido Jesus no seu seio durante nove meses. Está aqui a grandeza da fé de Maria, da sua maternidade espiritual e a sua missão de ser a verdadeira discípula de Cristo.

Maria é a Mulher que responde a Deus dizendo: “Eis-me aqui”. Com o seu “Sim”, Ela intercede por nós junto de Seu Filho, que “manifesta plenamente o homem ao próprio homem e descobre-lhe a sublimidade da sua vocação” (GS 22).

A Ela recorremos como intercessora junto de Deus, mas também como modelo do nosso sim e da nossa fidelidade em igreja. Maria guia cada um de nós no caminho espiritual que nos leva a Jesus. Ela convida-nos a dar graças a Deus dizendo com alegria: “Cantai ao Senhor um cântico novo, pelas maravilhas que Ele operou” (Sl 97,1).

A vida e a missão de Maria na atualidade da Igreja são gastas a cuidar de nós, neste “Vale de Lágrimas”. Maria, Auxílio dos Cristãos, Refúgio dos Pecadores e Mãe dos Pobres e Abandonados, nos ajude a começar tudo de novo e a encontrar a beleza da sua santidade na nossa vida. “Em Jesus Cristo, Deus não só fala ao homem, mas busca-o” (João Paulo II, o Terceiro Milénio, 7).

Neste tempo de dor, de angústia e aflição, marcado pelas consequências terríveis desta pandemia, que afeta a humanidade fragilizada, Maria aparece-nos como a Mãe da Consolação, da Confiança e da Esperança, que cuida dos irmãos de Seu Filho que ainda peregrinam na terra no meio de dores, sofrimentos e angústias. Que a bem-aventurada Virgem Maria interceda por nós junto do Pai, para que nos conceda a perfeita saúde da alma e do corpo, conforte todos os doentes, cure os infetados pelo Covid-19, conforte e fortaleça todos os que cuidam dos doentes, ajude os pobres e abandonados, socorra e ajude todos aqueles que ficaram sem trabalho a ter confiança e esperança.

Em Maria, proclamamos as bênçãos de Deus oferecidas à humanidade fragilizada pelo pecado e marcada pelas consequências de uma pandemia terrível, que afeta tantas famílias envolvidas na pobreza e miséria, provocadas por uma crise humana e social sem precedentes.

“Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos céus nos abençoou com todas as espécies de bênçãos espirituais em Cristo” (Ef 1,3). Esta bênção foi dada a Maria, “imune de toda a mancha de pecado, visto que o próprio Espírito Santo A modelou e dela fez uma nova criatura” (LG 56), a Mãe do Amor Formoso, que será para os cristãos a Estrela a guiar-nos com segurança para seguirmos os passos de Cristo, “a luz verdadeira, que a todo o homem ilumina” ( Jo 1,9).

Maria é a Estrela da Manhã, que anuncia o novo dia para toda a humanidade. Jesus “é o homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão a semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que, n’Ele, a natureza humana foi assumida, e não destruída, por isso mesmo também em nós ela foi elevada a sublime dignidade. Porque, pela sua Encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem (…). Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado” (GS 22). Salve, Estrela do Mar, luz que nos guia na escuridão da noite e nos conduz ao mistério da vida de Jesus, o sol divino da graça.

Deus olha para Maria e faz-lhe um convite. O Anjo Gabriel chama-a “cheia de graça” e ela com o seu “Sim” responde ao projeto de Deus, na disponibilidade da sua entrega total de vida ao serviço do Senhor.

Celebrar e contemplar Maria, a Imaculada Conceição é contribuir de modo positivo para ser construtor de uma nova humanidade, de uma Igreja mais bela e renovada em caminho de santidade.

Sigamos os passos de Maria na fidelidade à oração, contemplando o mistério da Sua Imaculada Conceição.

Olhemos para a nossa Padroeira com fé e esperança, neste tempo de Advento, e confiemos-lhe a nossa vida, a Igreja e a nossa Pátria. Ámen

 

+ António Luciano, Bispo de Viseu

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