Um Santo e Feliz Natal para todos e para todas!
No mistério do Verbo Encarnado, a vida humana encontra a luz da sua existência e da sua plenitude.
A Palavra eterna do Pai fez-se carne no seio de Maria e habitou entre nós. É esta a vida que celebramos, dois mil anos depois do nascimento de Cristo.
Como ouvíamos nas leituras, quando foi enviado ao mundo como Salvador, o Emanuel – o Deus connosco – veio também em tempos marcados por dificuldades. O mesmo podemos dizer hoje, diante dos sofrimentos que afetam a humanidade.
Este tempo de pandemia, que todos vivemos, não nos impede de celebrar a fé, de celebrar o mistério do Natal, de viver com autenticidade, mas faz-nos tomar algumas atitudes que são muito úteis e importantes para prevenirmos o contágio de um vírus tão nefasto.
Ouvíamos na primeira leitura palavras de Isaías que nos dão serenidade, porque nos trazem a paz. Aquele que estava prometido, veio ao mundo. Ele é o “Conselheiro Admirável”, Ele é o que vem manifestar o amor do “Pai”, Ele é o “Filho Admirável”. É a isto que a Sagrada Escritura chama “plenitude dos tempos”.
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz. Nós também, nesta noite de Natal, contemplamos essa luz. Chama-se Jesus, Luz do mundo! veio para iluminar e ajudar-nos a viver a nossa vida iluminada pela graça da sua Palavra, da Eucaristia, dos Sacramentos e da prática da caridade.
Podemos também iluminar a vida dos nossos irmãos e os caminhos da humanidade. Por isso, as palavras de esperança messiânica, de que falava Isaías, põem termo ao tempo do Advento. Este tempo de esperança que vivemos conduziu-nos a este mistério de amor e de vida. Por isso o nascimento de Jesus é para nós motivo de alegria e de entusiasmo.
As profecias que foram anunciadas cumpriram-se, e agora revelam-se, como dizia Paulo a Tito, neste “insondável amor”. Por isso Ele também diz hoje a cada um de nós, mergulhados na tristeza de não podermos estar mais próximos dos nossos familiares e amigos neste Natal: Não desanimeis… Não podemos celebrar a fé e o Natal com a plena liberdade e com o à-vontade com que o fazíamos em anos anteriores, mas as palavras do Evangelho também são para nós: “Não temais”! Tende confiança: “anuncio-vos uma grande alegria”, que deve desfazer todos os nossos medos e todas as tristezas.
Ao cantarmos o salmo, dissemos: “Hoje nasceu para nós o Salvador!”
Hoje… nesta noite santíssima de Natal do ano 2020, em cada dia, em cada momento, Ele quer nascer para nós… E quando nasce em nós e para nós, fazemos a experiência da noite feliz, da alegria que o Natal oferece à humanidade, a crentes e não crentes. Por isso damo-nos conta de como, à volta das festas de Natal, tudo se enche de vida, de movimento e de esperança.
Os crentes procuram Jesus e colocam-no no centro da sua vida; os outros, nas periferias, procuram descobrir a meta da peregrinação para encontrar o Senhor. Mas tantas vezes o encontramos em coisas que nos prendem a este mundo. Contudo, também essas mesmas coisas, quando vividas na verdade e na fé, nos podem conduzir ao mistério do Natal.
A realidade que celebramos nesta Eucaristia é para todos nós um novo nascimento. Jesus nasceu, há de continuar a nascer e, por mais dolorosas que sejam as consequências desta pandemia, Ele há de continuar a nascer para nós e para todos aqueles que o procuram.
O mundo inteiro não morre por estar fragilizado e vulnerável; o mundo inteiro morre porque não tem Jesus no seu coração e na sua vida.
Por isso, neste tempo de pandemia, tantos irmãos infetados, tantos que adoeceram e outros que partiram. Acreditamos que não morreram, apenas Jesus os transformou para poderem, na plenitude da vida, encontrar a vida em abundância. O mesmo Jesus um dia, durante a sua pregação, anunciava: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. Este é o mistério do Natal, que ainda estamos a procurar e queremos viver e alcançar.
É este o mistério do Natal que fez tantos irmãos e irmãs, em tantas instituições, nos hospitais ou noutros lugares de sofrimento, onde irmãos nossos foram infetados, serem ajudados pela solidariedade e proximidade dos cuidadores, que procuram imitar Aquele que nasceu para nos ensinar a sermos como Ele, o bom samaritano.
A resposta aos apelos dos que estão infetados, dos pobres, ou daqueles que nas suas necessidades pedem ajuda, fez alterar a vida e as rotinas de cada um de nós e da sociedade.
A ausência de convívio e de uma vida relacional, onde a vida de fraternidade e a solidariedade se manifestavam por afetos, hoje manifesta-se por um coração que ama e que ensina a amar.
Jesus nasceu para nós! Aprendamos com Ele a amar mais e a descobrir o valor da amizade e também da partilha, da confiança. Dizem os hinos deste tempo do Natal que estamos a iniciar: “Ó Comércio Admirável, Misterioso Sinal do Amor Divino! Vinde, adoremos o Salvador do Mundo, contemplando o Mistério insondável da sua presença”. E dizia também o Evangelho que se revelou aos pastores na pobreza, na simplicidade. Revelou-se na autenticidade da vida, naquilo que foi a grande manifestação da noite santíssima de Belém.
Caríssimos cristãos, meus irmãos e minhas irmãs na fé, nós que somos convidados a viver este Natal diferente, sim!…, mas, porventura, mais autêntico, não deixemos, nesta noite de luz e de amor, de olhar para os milhões e milhões de pessoas que, no mundo inteiro, celebram o Natal porque encontraram Jesus ou porque o procuram, muitos, porventura, na extrema pobreza, no sofrimento, nas dores, no abandono, na solidão. Mas Ele é sempre a mesma Palavra, e responde sempre do mesmo modo: Eu amo-te, eu gosto de ti, eu nasci para tu seres feliz e teres a vida em abundância!
É neste mistério do nascimento de Jesus que há pouco cantávamos e bendizíamos o Senhor: “Alegrem-se os céus e exulte a terra”. Noite feliz, de graça, de adoração; noite de paz, de oração e de amor; noite de bênção e de contemplação; noite do nascimento de Jesus, o nosso Salvador. Por isso, na escuridão da noite fria, com o céu estrelado, a cidade de Belém foi iluminada por uma luz. Essa estrela, que brilha sobre a humanidade, também brilha aqui na nossa Catedral.
Veio iluminar o coração e a vida de cada um e de cada uma, e através de nós quer chegar aos lugares mais recônditos da nossa Diocese.
Essa luz e essa Estrela é Jesus Cristo, no qual nos tornámos verdadeiramente filhos de Deus. Por isso, também nós hoje sentimos algumas dificuldades ao olhar para o mundo que nos rodeia. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz”, porque um Menino nasceu para nós, um Filho nos foi dado. É Jesus, o Salvador do mundo que celebramos nesta noite.
Chegamos também, como os pastores, ao presépio. Contemplemos Maria e Jesus, e ofereçamos ao Menino aquilo que é nosso: a nossa vida na pobreza e na riqueza, mas também um desejo muito sincero de o amar e de o fazer amar. A glória que os Anjos cantaram e deram a Deus continue na vida de cada um de nós.
Não quero deixar passar esta noite sem lembrar a minha mensagem de Natal e fazer-vos um grande convite: Nós que celebramos o Natal de Jesus, sejamos semeadores da esperança cristã. Nós que nascemos numa família cristã, queremos amá-la e levá-la também no coração ao próprio Jesus.
Não há Natal sem Jesus, mas o Natal não é verdadeiro sem a família, por isso:
– “Aos pais, às crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos adultos, aos idosos, aos doentes e infetados, na fé, na esperança e na caridade, peço a Jesus que não vos abandone”.
– “Lembro nesta noite os governantes, as autoridades públicas, civis, militares, sanitárias, administrativas, judiciais e prisionais: que o Senhor vos ajude no cumprimento dos vossos deveres” (cf. Mensagem de Natal, de D. António Luciano, Bispo de Viseu).
Àqueles que nos dão o pão e àqueles que o partilham, não falte o amor de Jesus, que, na noite santíssima de Belém, nasceu na cidade do pão, para se tornar, para cada um de nós, o Pão Vivo descido dos céus.
Ao olharmos à nossa volta e ao vermos o aumento daqueles que vivem em pobreza, seja extrema ou envergonhada, queremos ser solidários, partilhando o pouco que temos, para que, com a nossa pobreza, enriqueçamos aqueles que não têm nada.
Que Jesus, Maria e José nos ensinem este caminho de partilha, que é também de louvor e ação de graças, porque o Verbo fez-se carne e habitou entre nós e da sua plenitude todos nós recebemos.
Desejo a todos vós, a todos os diocesanos, a todos os profissionais de saúde, àqueles que perderam a esperança e alegria de viver, umas Santas Festas de Natal.
Levai ao mundo esta boa notícia: Hoje nasceu o nosso Salvador! É Jesus Cristo, o Senhor! Ámen.
† António Luciano, Bispo de Viseu