O Verbo fez-se carne e habitou entre nós e da sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça. O mistério que estava escondido, foi revelado em Jesus que nasceu para nós como o Salvador.
Vamos ao presépio para encontrar esta luz bendita que brilhou porque “os homens que andavam nas trevas, viram uma grande luz”. A humanidade de hoje mergulhada numa grande pandemia, em problemas e dificuldades sanitárias, mas também de ordem económica e social. Nenhum de nós pode dizer que está de fora, que está isento das consequências da pandemia, afeta-nos a todos. Uma grande alegria e uma grande esperança foi anunciada pelos anjos, contemplada pelos pastores, nasceu o Salvador, por isso nós cantávamos no Salmo responsorial: “Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus”.
E Isaías na primeira leitura faz um novo anúncio: “Como são belos os pés do mensageiro que anuncia a boa nova da paz” (cf. Is 52, 7-10). A boa nova da paz chama-se Jesus, a palavra que encarnou, a mesma Palavra, que hoje nos anima, e fortalece na nossa peregrinação e que enche alegria a nossa vida neste Natal. Somos convidados a guardar a Palavra de Deus, a ficar com ela no nosso coração e na nossa vida, para depois podermos anunciá-la. Felizes os que anunciam a boa nova da paz. Por isso, os pastores ao ouvirem o cântico dos Anjos. “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que Ele ama”, partiram para adorar o Menino e lhe oferecerem as suas prendas, deixando-se extasiar pelo presépio.
A palavra presépio, quer dizer manjedoura e por isso, sendo Belém a cidade do pão, Aquele que nasceu numa manjedoura tornou-se para nós, o Pão Vivo descido do Céu. O Pão da Vida, que nos alimenta e fortalece na Eucaristia, torna Jesus presente que nasce de novo para nós. Por isso, um Filho nos foi dado, dizia a Carta aos Hebreus: Deus revelou-se e manifestou-se para que nós tenhamos a vida em abundância. É neste amor de Deus revelado em Jesus Cristo, que nós temos de aprender também neste Natal, com todas as dificuldades a sermos solidários. Quem partilha a vida, quem partilha o pão, quem partilha o tempo e sabe ir ao encontro da solidão, dos que se sentem abandonados e tristes, esse faz acontecer Natal. E é este mistério do Natal que o autor da Carta aos Hebreus quer atualizar em nós, quando diz: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas. Nestes dias que são os últimos, Deus falou-nos através do seu próprio Filho… para que o adorem todos os Anjos” (Cf. Heb 1,1-6).
Por isso cantávamos na Eucaristia da noite de Belém, que celebrámos também aqui, para dar os parabéns ao Menino Jesus, como estamos a fazer neste momento para lhe dizermos um obrigado. O teu nascimento foi para nós motivo de alegria. Na Carta sobre o Natal que o Papa Francisco no ano passado dizia: “Sinal Admirável”.
Todos nós ficamos extasiados diante de Jesus, porque a figura central do presépio é o Menino, que nasceu como nosso Salvador. Com Maria que O contempla e adora, e com São José, que no silêncio e na humildade olha para aquele Menino, a quem Ele próprio é chamado a dar o nome de Jesus.
Por isso, irmãos e irmãs quando nos encontramos com Jesus e o entregamos aos outros, Ele nasce e é Natal. Jesus veio como a luz, a luz de Deus que estava escondida, mas revelou-se. O Verbo era a luz, porque vindo ao mundo ilumina todo o homem, por isso ilumina também a vida de cada um de nós.
Foi por isso, que os pastores se apressam cheios de alegria a ir ao presépio e oferecer ao Menino os seus presentes.
Também nós hoje, caríssimos irmãos e irmãs, pequenitos e pequenitas, caros jovens somos convidados a ir a Belém a levar-lhe a riqueza da nossa vida, o nosso coração cheio de ansiedade e desolações, mas também de um desejo grande de encontrar o Senhor, e, quando o levamos connosco no coração e na prece, os rejeitados, os emigrantes, os deslocados, os doentes, as vítimas do Covid-19, aqueles que partiram ao longo destes meses, ou aqueles que estão de luto e choram os seus entes queridos, nós tornámos a nossa vida mais próxima de Jesus e também mais sofredora, porque Ele escuta a nossa prece. Ele mesmo nos ensinou: “Pedi e dar-se-vos-á, batei e hão de abrir-vos”. A porta abriu-se, o Natal de Jesus inicia um tempo novo, um mundo novo a que nós chamamos na nossa civilização, a era depois de Cristo.
Por isso, no presépio de Belém quero encontrar-me convosco, com todas as vossas famílias, para descobrirmos a verdadeira vocação humana e cristã, agradecendo a Deus o dom da vida, as crianças que nasceram hoje e todos aqueles que hão de experimentar na beleza e na riqueza de uma família a alegria de celebrar o Natal, mesmo que seja de um modo diferente.
A liturgia deste dia de Natal a partir das leituras que escutámos leva-nos e conduz-nos ao verdadeiro altar, que é o próprio Cristo, esse estábulo e essa manjedoura, torna-se para nós todos o lugar onde diariamente e em cada domingo se celebra a Eucaristia.
Não é por acaso, que o nosso lema pastoral nos convida a refletir e a meditar sobre a Iniciação Cristã, nos convida ao longo deste ano a “Alimentar-nos na Esperança, Caminhando para a Eucaristia”. Só assim aprenderemos a dizer uns aos outros, Cristo nasceu para ti, para mim, para a humanidade, para sermos felizes. Ele é, e será sempre o Emanuel – o Deus connosco – que na provação, mas também na esperança cristã nos serve de abrigo e nos alimenta para que não fiquemos no desânimo, para que transformemos o desemprego em oportunidade e façamos da provação um caminho de santidade.
A Igreja não cessa de cantar: “Felizes as entranhas da Virgem Maria, que trouxeram o Filho do Eterno Pai”. Este que nesta hora queremos acolher e adorar. Maria “envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura” (Cf. Lc 2, 1-14). Ela deu à luz o Primogénito. Ele hoje continua a nascer em nós quando acolhemos Jesus, quando como Ela dizemos a Jesus, sim, e passamos a fazer o bem.
Que nem os sofrimentos causados por esta pandemia, ou as consequências dos nossos pecados nos afastem da luz santíssima que brilhou na noite de Belém. Em tempos de desafio e de oportunidade devemos olhar para o nosso mundo como os pastores, podemos ver neles a imagem dos primeiros evangelizadores, esta missão importante, que a Igreja precisa de fortalecer e também na nossa Igreja Diocesana.
Se dizemos que a catequese tem a missão de ajudar os cristãos a promover o encontro com a pessoa de Jesus Cristo, também os Anjos proporcionaram o encontro dos pastores com Jesus na presença de Maria e de José.
Esforcemo-nos todos por contemplar Jesus no presépio e deixemo-nos seduzir pela sua ternura e pelo seu amor, imitando a fé e o silêncio de Maria e a humildade de São José.
Guardemos como Maria o mistério divino no nosso coração. O exemplo de Maria nos leve a criar uma espiritualidade e uma mística de luz que destrói tudo aquilo que é o erro e a maldade do nosso mundo.
Com São José aprendamos a fazer o silêncio interior, a vivê-lo com simplicidade e humildade no serviço a Deus, à Igreja, à família e ao mundo. Aprendamos verdadeiramente a ser discípulos missionários, como dizia Isaías na primeira leitura, que levam a boa nova de Jesus ao coração de muitos irmãos sedentos de uma palavra de amor e de verdade.
Por isso, o Papa Francisco ao escrever uma Carta em honra de São José, neste Ano que lhe é dedicado, ele chama a São José o “Pai amado”, o “Pai na ternura”, “Pai na obediência”, “Pai no acolhimento”, “Pai com coragem criativa”, “Pai trabalhador”, “Pai na sombra”, que sofre, mas que sabe comungar o mistério de Deus, como nós hoje sejamos anunciadores da “Alegria do Evangelho”.
É preciso semear a Palavra de Deus no coração de muitos irmãos, que continuam a caminhar pelas estradas da vida à procura da luz de Belém, tanta gente com vidas apagadas, embora com candeias na mão. É preciso que nós acendamos essas luzes. Recordamos as palavras da Sagrada Escritura no livro dos salmos: “As vossas palavras Senhor, são farol para a minha vida”. Quando esta luz de Belém brilhar no coração de todos, então sim sentiremos o Emanuel, o verdadeiro Filho de Deus que está connosco
Por isso o nosso Papa, cita na Carta dedicada a São José, um texto que ele tinha escrito na noite escura da pandemia aos: “médicos, enfermeiras e enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosos e muitos outros que compreendeis que ninguém se salva sozinho” (Cf. Carta Apostólica, Papa Francisco, Patris Corde).
“O Natal cristão está ainda longe de atingir a sua meta, pois o mistério da Encarnação ainda não foi verdadeiramente assumido por nós. O ideal evangélico da Sagrada Família de Jesus Maria e José, é ainda um sonho por concretizar. Neste Ano dedicado a São José, no 150º Aniversário da Declaração de São José como Padroeiro Universal da Igreja”, queremos pedir-lhe para ajudar as nossas famílias a viverem o espírito da Sagrada Família de Nazaré no testemunho de vida, de trabalho, de oração e de serviço” (Mensagem de Natal, D. António Luciano, Bispo de Viseu).
Com o Papa Francisco, termino citando a mesma Carta, onde ele cita Santo Agostinho: “Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde vos amei”.
“Só nos resta implorar, de São José, a graça das graças: e a maior é a nossa conversão.
Dirijamos-lhe a nossa oração:
Salve, guardião do Redentor
E esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
Em vós, Maria depositou a sua confiança;
Convosco, Cristo tornou-se homem.
Ó Bem-aventurado São José,
Mostrai-vos pai também para nós
E guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem, e defendei-nos de todo o mal. Ámen”.
Que este ano dedicado a São José, seja para todos um ano de grande esperança. Desejo a todos os batizados da Diocese de Viseu e suas famílias um Santo Natal de Jesus e também a todas as pessoas de boa vontade com muitas bênçãos espirituais.
Votos de Santo Natal de Jesus para vós, com Maria, São José, São Teotónio e a Beata Rita Amada de Jesus, sejamos mensageiros, que anunciam a boa nova da paz. Ámen!