Caríssimos irmãos e irmãs:
A todos aqueles que nos acompanhais através da Rádio Renascença e aos que vos encontrais aqui presentes na Sé Catedral de Viseu, sentindo-nos particularmente unidos aos pobres, aos doentes, aos abandonados e aos que vivem na solidão, e também àqueles que nos acompanham pela Internet, a todos desejo um santo ano, abençoado por Deus.
- Santa Maria, Mãe de Deus e Rainha da Paz
Celebramos o primeiro dia do novo ano de 2021, solenidade dedicada a Santa Maria, Mãe de Deus. Por isso imploramos a grande bênção de Deus para a Igreja e para o mundo.
Maria deu à luz aquele que é a verdadeira Luz do Mundo e manteve-se Virgem antes, durante e depois do parto.
A antífona de Laudes de hoje afirma: “Hoje se manifestou um admirável mistério: unem-se em Cristo as duas naturezas; Deus faz-se verdadeiro homem e permanece verdadeiro Deus”.
Neste Dia Mundial da Paz, pedimos a Deus que nos conceda a graça e a bem-aventurança de sermos em cada dia construtores de paz.
O início deste novo ano amanhece iluminado por acontecimentos que, não sendo as luzes habituais que marcam a sociedade na festa da passagem do ano, são as luzes que brilham, apesar de vivermos no contexto de uma pandemia e de uma crise económica e social sem precedentes.
A Luz de Cristo brilha na Igreja e no mundo, e envolve a vida cheia de esperança e de sonhos para toda a pessoa humana.
O aparecimento das novas vacinas são um sinal positivo, onde se revela também o amor de Deus pelo seu povo. É aqui que Maria nos aparece como modelo da primeira discípula de Cristo, Mãe da Igreja e Estrela da Nova Evangelização, que anuncia um novo dia, um novo ano.
“Deus se compadeça de nós e nos dê a sua bênção” (Salmo 66), enchendo a nossa vida de alegria e de esperança. A vida da pessoa humana precisa de ser abençoada e protegida na sua dignidade e defendida nas suas fragilidades.
Então, no início de um novo ano, o Senhor vem em nosso auxílio e olha para o seu povo com compaixão, porque Ele quer abençoar o seu Povo na paz. Fazer nascer Jesus na nossa vida, como aconteceu aos pastores ao encontrarem Jesus e depois levaram-no aos irmãos.
- O Senhor te abençoe e te proteja
“O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável” (Num 6, 22-27), escutávamos na primeira leitura. O ser humano procura constantemente a Deus e a sua bênção. A grande glória é sermos um povo abençoado por Deus, durante toda a nossa vida. Estas expectativas positivas são também manifestações de bênção e de paz, porque o verdadeiro progresso e desenvolvimento só se constrói na paz. Por isso, os povos vos louvam ó Deus, todos os povos vos louvam.
As preocupações que afligem a humanidade de hoje, mesmo em tempo de pandemia, continuam à procura de uma solução, embora colocando Deus em segundo plano.
Jesus Cristo veio revelar ao mundo que Ele é o centro e o ápice de toda a realização humana. A Maternidade Divina de Maria, revela-se como Mãe de Jesus, que, sendo Deus, assumiu a natureza humana no seu seio.
Os Anjos que cantaram a beleza do nascimento do Salvador, anunciam-no, dizendo: “Anuncio-o vos uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10).
No Evangelho e na Carta aos Gálatas, é-nos revelado em plenitude o mistério do Verbo Encarnado, o Filho de Deus, que, “vindo ao mundo, ilumina todo o homem” (Jo 1,9). Por isso lhe oferece a plenitude de todos os seus bens.
Que a Santa Mãe de Deus nos abençoe e nos ensine a ser protagonistas na construção da paz e da tão desejada civilização do amor.
- As trevas foram destruídas pela luz que cuida e brilha
Jesus entregou-nos uma luz que brilha nas trevas: defende-a, protege-a. Aquela luz única é a maior riqueza confiada à tua vida. Esta luz tem um nome e uma história: chama-se Jesus, que é de ontem, de hoje e de amanhã.
Diante do presépio aprendemos a ler os sinais dos tempos à luz da fé, do amor e do cuidado em caridade. As trevas foram destruídas pela luz de Deus, que brilhou na humanidade na noite santíssima de Belém.
Iluminados por essa luz, eis alguns sinais positivos no nosso mundo:
– O trabalho intensivo dos cientistas e investigadores para descobrir e aprovar as novas vacinas contra a pandemia do Covid-19.
– O papel dos responsáveis da União Europeia nas medidas tomadas e assumidas a nível sanitário, económico e social para bem do povo que vive na Europa.
– A distribuição dos recursos económicos por todos, sinal de fraternidade e amizade social.
– Decisões políticas tomadas para o bem comum de todos.
– Prioridade na coesão social, para manter a unidade.
– Coragem de minimizar os efeitos negativos das consequências desta crise sanitária, económica e social, sem precedentes na história da humanidade.
– O trabalho concertado para a aplicação de normas comuns, promovendo a justiça social na distribuição das vacinas, enquanto um sinal de esperança do novo ano e de confiança para o mundo inteiro.
– A responsabilidade perante o povo que lhe está confiado, para, num futuro próximo, estarmos mais fortalecidos para vencer novas dificuldades.
– A assinatura do Brexit, que formalizou a negociação das medidas políticas, económicas e sociais entre a Comunidade Europeia e o Reino Unido.
Todos juntos e mais unidos, podemos ser mais fortes nas decisões, que nos pedem sacrifício, em particular, a atenção para ajudar os desfavorecidos, os mais pobres, fazendo tudo para que os mais vulneráveis e idosos recebam brevemente a vacina e ninguém seja excluído.
Sinais negativos: a continuação de tanta gente infetada e que morre diariamente vítima desta pandemia; o aumento da crise económica e social, com tantas desigualdades; assim como o flagelo da pobreza e do desemprego.
Maria, a Senhora dos Cuidados Humanos, nos ensine e ajude a cuidar da humanidade doente, ferida e abandonada. Este é um desafio importante para o mundo de hoje e para a Igreja, cada vez mais empenhada a ajudar a pessoa humana e os outros a encontrar verdadeiramente Jesus, na proximidade e no cuidado concreto das pessoas mais frágeis e necessitadas.
O desemprego e a pobreza lançam um desafio grande à Igreja nestes tempos de pandemia, para que ela, através dos cristãos e das suas instituições, se torne perita no cuidar dos pobres, dos doentes, dos frágeis e dos mais vulneráveis da nossa sociedade.
Jesus identifica-se com os pobres. Por isso nasceu pobre para nos enriquecer com o seu amor e a sua graça. A grandeza do seu convite está no amor, na proximidade e no cuidado: “O que fizestes ao mais pequenino dos meus irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25, 40).
Ajudemos a família a ser uma Igreja mais missionária, mais inovadora, uma Igreja em saída, dirigindo-se às periferias, sem deixar que ninguém fique de fora, ignorando os que estão caídos à beira da estrada.
A Igreja, como verdadeiro hospital de campanha, deve cuidar das pessoas feridas, dos doentes, dos necessitados, com um olhar de empatia, com um coração de compaixão, com os gestos de ternura e o cuidado pastoral de Jesus, o Bom Samaritano.
- Deus tenha compaixão de nós e nos abençoe na paz, para cuidarmos sempre mais e melhor dos nossos irmãos
O Papa Francisco, na sua Mensagem para este Dia Mundial da Paz, recorda como a pandemia revelou as qualidades humanas da cooperação e da ajuda aos outros, mas também revelou os egoísmos, os populismos e a indiferença. Convida-nos a cuidar: “Estes e outros acontecimentos, que marcaram o caminho da humanidade no ano de 2020, ensinam-nos a importância de cuidarmos uns dos outos e da criação a fim de se construir uma sociedade alicerçada em relações de fraternidade. Por isso, escolhi como tema desta mensagem «a cultura do cuidado como percurso de paz»; a cultura do cuidado para erradicar a cultura da indiferença, do descarte e do conflito, que hoje muitas vezes tenta prevalecer” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz).
Esta escolha do Papa Francisco foi muito feliz. Ajuda-nos, neste bonito texto, a encontrarmos horizontes de futuro e razões de esperança para olharmos para a pessoa humana e do outro como o nosso próximo, que em cada dia somos chamados a cuidar.
O ser humano está feito de tal maneira que não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar a sua plenitude a não ser no dom sincero de si mesmo aos outros. E não chega a reconhecer completamente a sua própria verdade, senão no encontro com os outros. Ninguém pode experimentar o valor de viver sem rostos concretos a quem amar. A vida subsiste onde há vínculo, comunhão, fraternidade. Esta é uma das mais fortes ideias que o Papa também coloca no seu texto da “Fratelli Tutti”: de que a morte, que muitas vezes parece tão forte, é destruída pelo amor. Pelo contrário, não há vida quando se tem a pretensão de pertencer apenas a si mesmo e de viver como ilhas: nestas atitudes prevalece a morte, refere o Papa (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti).
- Maria é feliz porque acreditou na Palavra de Deus e a pôs em prática
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42).
Nós devemos abençoar sempre como Jesus, para que continue a nascer na vida de muitos irmãos. Será um bom ano, se cuidarmos do coração e das pessoas como Maria cuidou, na alegria, na disponibilidade e na compaixão. Por isso, “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração” (Lc 2,16-21).
Ao dizer “Sim” a Deus, Maria tornou-se a mulher que escuta a Palavra de Deus e a põe em prática no serviço de cuidadora da humanidade.
Cuidou de Jesus com muito amor e ternura. Assim todos devemos imitar Maria, para cuidarmos também dos nossos irmãos.
No primeiro dia do Ano, quero convosco pedir a Deus, com fé, esperança e amor, “que tenha compaixão de nós e nos dê a sua bênção” (cf. Salmo 66).
À Santa Mãe de Deus, cuja Maternidade Divina hoje celebramos, quero agradecer todos os dons e graças que nos tem concedido.
Cheios de alegria e admirados pela contemplação do Menino, queremos ser construtores da paz. Por isso, nesta oitava do Natal, com Maria, queremos voltar-nos para o presépio para contemplarmos Jesus, “o Príncipe da Paz”.
Jesus trouxe a paz de Deus à humanidade. Não uma paz que é ausência de guerra, ou de violência, mas a paz verdadeira que brota do coração misericordioso de Deus. Jesus mostra-nos o caminho da ternura para sermos felizes e ajudarmos os outros na construção do dom da paz, convidando-nos a ter um coração pacífico. O exemplo e o testemunho da vida de Maria é um dom e uma bênção para a Igreja e para o mundo.
São José, o Pai que cuida da Igreja e da família, ensina-nos, no silêncio interior, na oração e no trabalho, a sermos cuidadores dos nossos irmãos na simplicidade e humildade.
No Ano da “Família Amoris Laetitiae”, convocado pelo Papa Francisco, no passado domingo da Sagrada Família, e que irá iniciar no próximo dia 19 de março de 2021, no acolhimento de Jesus, Maria e José, ajudemos as famílias a viver a sua vocação e missão.
O Menino Jesus nasceu como o “Príncipe da Paz”, mas, no mundo em que vivemos, muitos teimam em viver em violência, na guerra e no ódio. O amor que nos anima na missão é sempre um amor que vem de Deus e nos ensina a cuidar dos outros.
Quero agradecer a todos os investigadores e cientistas que se empenharam na criação da vacina contra a Covid-19.
Rezo pelos grandes flagelos do nosso mundo, pelas vítimas da pandemia, do sismo na Croácia, dos conflitos do Iémen ou de Cabo Delgado e de outros lugares do mundo. Para eles nós queremos pedir ao Senhor a sua bênção e a sua paz.
No novo ano de 2021, coloquemo-nos nos braços do Pai e rezemos com abandono e confiança:
“À vossa proteção nos acolhemos Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos de todos perigos, ó Virgem gloriosa e bendita”.
Que Jesus, Maria e José nos conduzam pelos caminhos da esperança.
Agradeço à Rádio Renascença, e, em comunhão com todos aqueles que nos acompanham nesta transmissão, peço-vos que tenhamos disponibilidade como Maria.
E a partir da sede desta Igreja de Viseu, quero desejar a todos um ano com muitas bênçãos de Deus. Que Deus conceda às famílias e ao mundo a sua bênção, e a todos nós, neste novo ano, nos conceda o dom da paz. Ámen!
Sé de Santa Maria de Viseu, 1 de janeiro de 2021
+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu