Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

O Senhor abençoará o seu povo na paz. Como pessoas humanas de bem, como cristãos recebemos o Sacramento do Batismo em Cristo, tornando-nos Filhos de Deus, no Filho Jesus Cristo, pela graça do Espírito Santo. Como batizados somos chamados a anunciar o Evangelho e a cuidar dos nossos irmãos na prática do Amor, que é sempre um dom maravilhoso de Deus.

No dia em que celebramos a festa do Batismo do Senhor, somos convidados a recordar o dia do nosso Batismo, o testemunho de fé dos nossos pais e padrinhos e a missão do sacerdote, que celebrou o Sacramento. Ao rezarmos por eles, pedimos ao Senhor, que os recompense pela graça de nos tornarmos filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, templos do Espírito Santo, mergulhando na vida e mistério da Santíssima Trindade.

Neste ano em que continuamos a refletir sobre os Sacramentos da Iniciação Cristã e a sua importância na nossa vida, somos desafiados pelo lema: “Batizado, Alimenta-te na Esperança”. É por isso necessário descobrir qual é a nossa identidade cristã e os desafios da nossa espiritualidade trinitária e eclesial. Devemos perguntar-nos muitas vezes: O que significa ser batizado? O que é ser cristão?  O que é ser Igreja? O Papa Francisco disse numa celebração da Festa do Batismo de Jesus o seguinte:  Muitos dos batizados, que se dizem cristãos, a maioria vive como pagão. Uma grande responsabilidade para todos os batizados, uma grande chamada de atenção para o modo como vivemos a riqueza do nosso Batismo e nos sentimos inseridos na vida da Igreja. O Papa Emérito Bento XVI, falando um dia sobre o aumento de cristãos no século XXI, dizia que os cristãos do futuro serão menos, mas devem ser cristãos com mais qualidade.

O Pai criou-nos para sermos seus filhos e com o amor da Santíssima Trindade, convida-nos a sermos felizes e a viver a nossa liberdade com responsabilidade e com uma consciência de “fazer o bem e evitar o mal”, como norma ética mais antiga da humanidade e que encontramos citada no livro dos Salmos” “Evita o mal e faz o bem, procura a paz e segue os seus passos” (cf. Sl. 34 (33), 15).

Na nossa Carta Pastoral sobre “O Sacramento do Batismo, Caminho de Santidade”, chamei a atenção para o seguinte: “A identidade cristã radica na fé que é dom de Deus. Pelo Batismo somos enxertados neste dom, uma verdadeira vida nova, que nos torna participantes na santidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo (cf. Jo,15,5). A Iniciação Cristã é o princípio de uma experiência de vida, que no limiar da “porta da fé”, através do Sacramento do Batismo, faz de cada um de nós um ser livre, consciente e responsável, identificando-nos verdadeiramente como filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo”, (D. António Luciano, Bispo de Viseu, Carta Pastoral sobre o Batismo, nº 5, Ano 2019-2020).

Uma catequese sobre o Batismo é basilar e nuclear na vida dos cristãos e de toda a comunidade eclesial. Estávamos em caminhada batismal, no decorrer do Ano Pastoral 2019-2020, eis que surge em princípios de março, o confinamento total provocado pela pandemia de Covid-19, que nos obrigou a interromper o caminho pastoral, de forma presencial, e alterou o modo de viver e de celebrar os acontecimentos agendados no Programa Pastoral.

Depois de interrompido o programa pastoral, que não fomos capazes de concluir com normalidade, decidimos retomar de novo o tema no novo Ano Pastoral 2020-2021, que estamos a viver agora para nos ajudar a realizar a transição do ano do Batismo, para o ano da Eucaristia, que já devia estar em marcha neste momento.

Devido à contingência da pandemia e para continuarmos o caminho de santidade que foi iniciado anteriormente, escolhemos para tema do ano presente o seguinte tema: “Batizado, Alimenta-te na Esperança”.

O Sacramento do Batismo é a porta, que nos introduz na vida e comunhão com Deus. O Sacramento que nos faz filhos de Deus, membros da Igreja e templos do Espírito Santo. “O Batismo é a porta de entrada na Igreja. Com o Batismo a Igreja mãe gera os seus filhos para a vida de fé, faz surgir os seus membros e assume o compromisso de nutri-los, educá-los na mesma fé individual e comunitária”, (D. António Luciano; Bispo de Viseu, Carta Pastoral sobre o Batismo, nº 6, Ano 2019-2020).

Na celebração da festa do Batismo do Senhor, somos questionados sobre o sentido do Batismo pregado por João Batista e do Batismo de Jesus, através do qual todos os cristãos entramos na vida da Igreja. Isto confronta-nos, porque o significado do nosso próprio Batismo, leva-nos a perguntar: Porque é que Jesus foi batizado? Porque é que nós fomos batizados? Porque se exige a fé para receber o Sacramento do Batismo? Porque batizam os pais cristãos os seus filhos? Qual a missão dos padrinhos e quem pode desempenhar este múnus? Porque precisamos de fazer uma preparação séria para receber o Sacramento do Batismo e nos fazermos cristãos? Porque é que há muitos cristãos, que vivem como pagãos? Como vivemos nós como cristãos o Sacramento do Batismo? Que consequência e vantagem tem na nossa vida sermos filhos de Deus, sermos cristãos, sermos Igreja?

Sabeis qual foi o dia do vosso Batismo?  Costumais celebrar esse aniversário de nascimento para a vida divina? Sabeis o nome do sacerdote que vos batizou? Uma série de perguntas que são muito úteis, necessárias e oportunas no nosso caminho de batizados, como discípulos missionários, cristãos e membros ativos na vida da Igreja.

Para confirmar a missão de João Batista, que pregava no deserto a conversão, um batismo de penitência e de arrependimento, João desceu ao rio Jordão para batizar os seus discípulos, convidando o povo à conversão e ao perdão dos pecados.

O Batismo de João batista faz a ponte entre a palavra anunciada e a ação vivida na conversão concreta, que se tornou a missão de salvação, que o próprio Jesus veio iniciar com o seu ministério de Messias, Salvador. Jesus, veio ao encontro de João Batista, que estava a batizar no rio Jordão os seus discípulos e colocou-se diante de João Batista, para ser batizado por ele nas águas do rio Jordão.

O Pai revela Jesus, e publicamente diante de todos, enquanto Jesus descia às águas manifestou-se: “Rasgaram-se os céus, desceu sobre Ele o Espírito Santo e ouviu-se a voz do Pai. “Tu és o meu filho muito amado, em ti pus todo o meu enlevo” (Mc 1, 11).

A teofania do Jordão continua a ser reveladora da Encarnação do Verbo de Deus, no seio de Maria. Jesus é anunciado por Isaías como “o servo, aquele a quem Deus protege o seu eleito”. No livro dos Atos dos Apóstolos, São Pedro apresenta Jesus como aquele que “passou a vida a fazer o bem” e a curar todos os que precisavam.

O mistério da vida oculta de Jesus, durante trinta anos no silêncio, na oração e no trabalho escondido na casa de Nazaré, no ambiente familiar com Maria, sua Mãe e São José, são um momento muito importante da sua vida, dando testemunho de Filho obediente, orante, trabalhador, amigo de todos e sempre fiel à vontade do Pai.

O Evangelista São Marcos, confessa esta fé em Jesus, que se revela como o Filho de Deus, logo no início do seu Evangelho: “Jesus Cristo, Filho de Deus”, precisamente aquele que sabe, qual é o centro da fé cristã, refere o Batismo de Jesus de um modo muito rápido chamando apenas a nossa atenção para o essencial. Afirma, que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus, também verdadeiro homem.

No início da vida pública Jesus anuncia o reino de Deus e faz-nos um convite à conversão. Foi para isso, que Jesus aproximando-se de João Batista no rio Jordão, lugar onde ele batizava os seus discípulos, aí receber também o Batismo, santificando as águas, para nos lembrar que a entrada do povo de Israel na terra prometida, ao ser conduzido por Josué, fez-se também no rio Jordão. Assim, como o povo de Israel atravessou o rio Jordão para entrar na terra prometida, convidado por Deus. Chamado a viver o chamamento ao arrependimento e à conversão para mudar de vida, assim também neste momento importante da vida de Jesus, ao encontrar-se com João Batista, dá início ao seu ministério.  Jesus desce às águas para ser batizado e sai das águas do rio para dando início à sua obra de salvação. É esse acontecimento que Pedro recorda no Livro dos Atos dos Apóstolos dizendo: “Depois do Batismo que João pregou, Deus ungiu com o Espírito Santo Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram dominados pelo mal” (At 10,38).

Pedro proclama a exigência de fazer o bem, afirma que devemos destruir o mal, consequência do pecado Não há dúvida de que a Igreja chama a nossa atenção para a experiência do nosso Batismo, o seu significado e a grandeza do dom de sermos filhos de Deus. O Batismo é a porta de entrada na Igreja, um caminho de santidade, no qual somos chamados a ser verdadeiros discípulos missionários.

Jesus é então agora o servo, o eleito, o escolhido, aquele que se fez solidário com o seu povo, que sofre as suas dores e oferece a sua vida derramando o seu Sangue pela remissão dos pecados. O Pai confirma que Jesus é o seu Filho querido e amado, aquele que faz a Aliança entre o Pai e a humanidade. Naquele momento ouviu-se a voz do Pai: “Tu és meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência” (Mc 1,11). “Escutai-O”.

Estas palavras dão-nos conforto e esperança na proteção da nossa vida e verdadeira confiança em Deus. Nós fomos batizados em Jesus Cristo, na sua morte e na sua ressurreição. Através da Igreja. que é nossa Mãe fomos chamados, escolhidos, somos prediletos de Deus pela graça e pela força do Espírito Santo, que faz de nós novas criaturas para podermos renovar a humanidade.

Como Jesus e na graça do Batismo, devemos saber escutar a voz do Pai, que se dá a conhecer a todos, como o Filho de Deus. Aceitando ser batizado como os outros, Jesus confirma assim a obra a que todos somos chamados, sermos verdadeiramente filhos de Deus.

João Batista apresentou Jesus aos seus discípulos dizendo eis: “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, manifestando assim a relação realizada pela reconciliação, pelo diálogo, pela paz e não apenas pelo confronto de ideias. O messianismo de Jesus é diferente dos outros, porque o Espírito do Senhor está sobre Ele, e envia-O a anunciar a boa nova aos pobres, a libertação aos cativos e a anunciar um ano da graça do Senhor.

“Todos os cristãos são missionários em virtude da graça batismal. E enquanto  batizados, todos somos chamados a viver a alegria do Evangelho e a sermos verdadeiros discípulos missionários: ”batizados e enviados” ao mundo de hoje complexo e desafiante para nos tornarmos uma autêntica “Igreja e saída”, uma Igreja próxima e acolhedora, disponível para ser um hospital de campanha para todos” ( cf. D. António Luciano, Bispo de Viseu, Carta Pastoral, sobre o Sacramento do Batismo, nº 7, Ano, 2019-2020).

Portanto, o Sacramento do Batismo que deve ser entendido na reciprocidade de uma riqueza sobrenatural que nos é oferecida para dar, receber, partilhar, comunicar, anunciar e esperar os frutos do reino de Deus” (cf. António Luciano, Bispo de Viseu, Carta Pastoral, sobre o Sacramento do Batismo, nº 7, Ano, 2019-2020). Pelo Sacramento do Batismo o cristão recebe a graça santificante, como dom sobrenatural de Deus que “será visível a partir de um novo impulso missionário, da conversão do coração e da renovação espiritual que nos torna missão nesta terra” (cf. Ibidem, nº 7).

Ser batizado é uma experiência única na nossa existência humana e torna-se fonte de vida para todos nós. O Sacramento do Batismo é uma experiência de vida, que nos leva a beber da única fonte da vida e a buscar o alimento, a graça de Deus e a força, que perdura até à vida eterna. “O Sacramento do Batismo é fonte de todas as vocações. Como já vimos, a identidade do ser cristão radica no dom do Batismo e no seguimento da pessoa de Jesus Cristo e, nessa condição, a vocação inicial é sempre o chamamento à santidade: Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar” afirma o Papa Francisco (GE 15)”, (cf. Ibidem, nº 8).

A verdadeira vocação cristã radicada no Batismo deve ser sempre vivida como caminho de santidade, fonte que jorra sempre água viva e gera novas vocações cheias de vitalidade e zelo apostólico para a Igreja, empenhada na transformação do mundo. Mesmo que tenhamos sido batizados em criança, hoje é o dia de tomarmos consciência da nossa vocação batismal e da grande missão que nos foi confiada. Somos chamados a ser cristãos, criados à imagem de Deus, irmãos de Jesus Cristo. templos do Espírito Santo, servos cuidadores dos irmãos e verdadeiros discípulos missionários.

 

Convento de Santa Beatriz, 10 de janeiro de 2021
† António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
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