OBSERVATÓRIO PASTORAL
No passado mês de abril, quando vivíamos a primeira vaga Covid-19, saiu a publico um breve ensaio do padre e teólogo Tomás Halik, intitulado O Sinal das Igreja Vazias. No seu diagnóstico a propósito da imagem desoladora das igrejas esvaziadas, que temos à frente dos nossos olhos em cada celebração da eucaristia, Halik interrogava-se se não se trataria da antecipação de um fenómeno já em curso e que poderia vir a acontecer num futuro próximo: igrejas vazias ou encerradas definitivamente.
A triste evidência dos templos esvaziados e das assembleias envelhecidas é um “sinal dos tempos”, que se converte numa espécie de espectro que paira sobre a Igreja Católica e que a pandemia somente veio antecipar e acelerar. É um desafio com que nos temos de confrontar pela via do discernimento e que ameaça, dentro de poucos anos, tornar-se uma realidade incontornável se não mudarmos o rumo, os métodos e o estilo da nossa atuação pastoral, nomeadamente, na Diocese de Viseu. Subscrevendo a opinião do padre Halik, os cristãos têm de fazer “uma séria tentativa de mostrar ao mundo um rosto do cristianismo completamente diferente” se não quiserem que este tempo de igrejas vazias coloque “simbolicamente em evidência o vazio escondido nas igrejas e o seu possível futuro”.
A este respeito, será necessário darmo-nos conta que encerrámos um capítulo da história do Cristianismo e estamos a inaugurar um outro capítulo que reclama uma nova inculturação, isto é, abertura à renovação e ao realismo que os tempos atuais exigem. Argumento consubstanciado pelo teólogo A. Fossion ao afirmar: “hoje assistimos tanto ao fim de um mundo, como ao fim de um certo Cristianismo. Contudo, este não é o fim do mundo nem o fim do Cristianismo”.
Assim, num tempo em que a sociedade estática e tradicional (cristandade) dá lugar a uma sociedade dinâmica e em constante transformação, a evidência das assembleias reduzidas e sem jovens, trás à discussão teológico-pastoral o confronto que a Igreja terá de fazer com o dilema da sua revitalização ou da sua decadência. Neste pressuposto, o afastamento da prática dominical e a perda de sentido de pertença à comunidade paroquial, a que se soma o “Inverno Demográfico”, são apenas a “ponta do iceberg”.
As mudanças a operar têm de ser pensadas e rezadas já, neste tempo no qual somos chamados a fazer crescer o bem e a separar o essencial do acessório, aquilo que se deve manter ou deixar na participação da missão da igreja. Questionamo-nos: para superar este cenário, o que é que a Igreja de Viseu deve fazer aqui e agora?
Não existem respostas feitas nem “receitas pastorais” prontas. Existe sim um discernimento conjunto que nos apontará caminhos a seguir. Para fenómenos novos, requerem-se respostas novas. O importante é não ceder ao derrotismo nem ficar reféns das formas do passado, apegados a uma atitude pastoral de manutenção e conservação, repetindo aquilo que sempre se fez. O primeiro passo poderá passar pela mudança de mentalidade e aposta numa Cultura do Encontro.