OBSERVATÓRIO PASTORAL
Pode ser extemporâneo escrever sobre este assunto, nesta fase de paixão e encantamento, em que muitos descobriram o digital e a “novidade” das redes
sociais com o seu potencial.
É verdade que é um serviço útil, com múltiplos aspetos positivos, contribuindo para a modernização de práticas que de outra forma, não teriam sido alteradas, ainda que a pertinência da mudança fosse aceite por todos. São ferramentas que ajudam a criar coisas maravilhosas no mundo. Entre os vários aspetos os que se consideram mais relevantes são a aproximação de pessoas que de outra forma estariam distantes sem possibilidade de se encontrarem, permite fazer anúncios, divulgações, expor opiniões, dá visibilidade a problemas e ajuda a solucioná-los, ou seja, promove uma cultura de encontro, bem como mudanças significativas e sistémicas nas organizações. São estas as características que apaixona quem agora descobriu o digital.
Assim, falar de ilusão, de aspetos negativos, dos perigos que o digital representa para a nossa vida em comunidade, sejamos jovens ou menos jovens, pode ser incompreendido e considerado um exagero, mas estes perigos existem e são identificados por especialistas que utilizam o digital há mais tempo. Aspetos negativos relevantes, estão relacionados com a saúde mental e o uso das redes sociais, viciação com a correspondente incapacidade de abdicar do seu uso e aumento do tempo à frente do ecrã, disponibilização de conteúdos sem filtro de idades, notícias falsas, criação de bolhas na forma de ver acontecimentos, ideias, em geral na forma de ver o mundo.
É nessa realidade que atualmente a Igreja, comunidade por definição, decidiu entrar, fazendo-se presente com mais conteúdos. Viu no digital a forma de comunicar, catequizar, evangelizar, contornando assim as restrições, os condicionalismos provocados pela pandemia Covid-19.
A questão que se coloca é: estará a Igreja e os seus agentes preparados para a entrada nessa realidade? Será que dada a facilidade como se consegue criar um sítio, uma página, fazer transmissões em direto num canal numa rede social, se criou a ilusão de que qualquer pessoa está apta a navegar nesse novo continente digital, como nos pede o Papa Francisco, sem se perder nas armadilhas que ele encerra em si mesmo? Este novo continente tem uma linguagem própria, e ilude-se quem pensa que basta transportar para o digital o que se faz no mundo físico. Falaremos deste assunto no futuro.
De momento, importa clarificar que através do digital, se criou uma nova forma de estar no mundo, onde a ligação online se tornou primária, sobretudo para as gerações mais jovens; produzimos assim uma geração global de pessoas que foram e estão a ser criadas num contexto em que o significado da comunicação, o significado da cultura é manipulação, engano e a fraude.
Daí a importância do número 211 da exortação “Christus Vivit” – “A linguagem que os jovens entendem é a de quantos dão a vida, a daqueles que estão ali por eles e para eles, e a de quem, apesar das suas limitações e fraquezas, se esforça por viver coerentemente a sua fé.”.
Estamos a entrar num território desconhecido para muitos e de onde os jovens atualmente desejam sair…, mas disso falaremos também em futuras edições.