Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

2 DE FEVEREIRO DE 2021

 

  1. O Dia do Consagrado

O dia 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém, foi o dia escolhido por São João Paulo II, para celebrar o Dia dos Consagrados. Um dia diferente, que marca o ritmo da vida quotidiana de todos os consagrados e consagradas, que deixaram tudo para seguir Jesus, na radicalidade da vocação na prática dos conselhos evangélicos. Um dia por excelência na vida de todos os que foram chamados a viver a vocação de especial consagração na Igreja, entregando o seu sim e a sua vida a Jesus Cristo. Recordo os alvores do meu sacerdócio, quando estudava, em Roma, Teologia Moral. A alegria com que se vivia nesta cidade o dia 2 de fevereiro, “Dia dos Consagrados”, que marcava a vida da Igreja, das comunidades e das universidades, quando no final do dia participávamos na celebração da Eucaristia presidida por São João Paulo II e se fazia a renovação dos conselhos evangélicos, para viver a vocação em pobreza, castidade e obediência.

Quanto eu vivia com alegria esse dia 2 de fevereiro, tão significativo na minha história de vida pessoal e vocacional. No final da década de oitenta do século XX era maravilhoso e galvanizador estar na Praça de São Pedro em Roma, observar as multidões de jovens, de adultos e idosos consagrados, que ali afluíam para celebrar a Eucaristia presidida pelo Papa São João Paulo II na Basílica de São Pedro.

Imagens que marcaram para sempre a minha vida, a minha alma e não serão esquecidas no coração. A multidão de jovens seminaristas, sacerdotes, postulantes, noviços e consagrados, que pareciam bandos de andorinhas a chegar, que tinham antecipado o regresso da primavera do Espírito ao coração da cristandade.

Imagens inesquecíveis e marcantes para toda a vida, cheias de multicolores de raças, de culturas intercontinentais e de carismas fundacionais, que na unidade e na diversidade mostravam a vida pujante e cheia de beleza da Igreja.

2. A Vida Consagrada vive uma Semana peculiar

A vida consagrada exprime-se de várias formas e modos – “eremítica e virginal, monástica e canónica, conventual e apostólica, secular e de nova fraternidade – bebem na fonte da contemplação, aí se restauram e tomam vigor. Aí encontram o mistério que as habita e encontram plenitude para viver o código evangélico da consagração, da comunhão e da missão” (Contemplai. Aos consagrados e consagradas sobre os sinais da Beleza, Ano da Vida Consagrada, 2015-2016, nº 1). Os consagrados são aqueles que como verdadeiros discípulos missionários, vivem intensamente a missão evangelizadora da Igreja.

Viver uma Semana dedicada à Vida Consagrada é uma oportunidade, um desafio particularmente num tempo em que diminuem as vocações sacerdotais e as vocações de consagração em muitos Institutos de vida religiosa, missionária e apostólica. Com os seus membros a sentirem o cansaço e o envelhecimento, faltando em muitos setores da Igreja a novidade e a criatividade na pastoral vocacional e da juventude. Sente-se também o peso de uma vida e vocação em extinção, ou de uma crise profunda de identidade cristã que nos ameaça a todos. Não podemos perder a esperança na missão, pois Cristo Ressuscitado está connosco e só com Ele e com o Seu Espírito seremos capazes de renovar todas as coisas. A missão de Jesus tem muitos rostos, que nesta hora tão grave da nossa história nos conduza pelas mãos de Maria e de São José nos caminhos da fidelidade.

3. Vinde celebrar a beleza da oblação e da entrega, na festa do amor

Convido todos os consagrados e consagradas que vivem ao serviço da Diocese de Viseu, nas mais diversas realidades pastorais, a contemplar a beleza do Senhor espelhada na sua vida de consagração e missão perante os desafios da nova evangelização. O Papa Francisco lembra-nos que a vida consagrada é sempre marcada pela experiência de um amor gratuito e oblativo. “O amor autêntico é sempre contemplativo” (Papa Francisco). Quem ama é invadido por um dinamismo novo do Espírito. “Pelos caminhos e pelas praças, ando à procura do amado do meu coração” (Cant 3,2). Deus convida-nos a viver com alegria a vocação e a contagiar o nosso mundo com este dom.

“O Papa Francisco chama-nos com solicitude a dirigir o olhar da nossa vida para Jesus, mas também a deixar-nos olhar por Ele para “redescobrir”, cada dia, que somos depositários de um bem que humaniza, que ajuda a levar uma vida nova. Convida-nos a treinar o olhar do coração, porque “o amor autêntico é sempre contemplativo.” (Ibidem, nº 1).

A vida consagrada, caracterizada pela procura constante de Deus, na busca de Jesus e do Seu Reino, é uma contínua revisitação da nossa identidade, que nos leva a respirar as instâncias interiores e o clima cultural deste mundo, que tendo perdido a consciência de Deus e da sua presença eficaz na história, corre o risco de não se reconhecer a si mesmo.

4. O tempo da vocação, da consagração e da missão na esperança da Páscoa

Neste tempo em que a Igreja e a vida consagrada vivem um momento marcado pela pandemia, não nos falte a esperança na “experiência dos novos céus e da nova terra” chamados de modo particular a testemunhar que “Deus É real, Está vivo, É pessoal, É providência, é infinitamente bom; nosso criador, nossa verdade, nossa felicidade, a tal ponto que nos convida a fixar n`Ele o olhar e o coração. “Esta é a missão confiada à vida consagrada – testemunhar neste nosso tempo – que Deus é a felicidade. Fixar n`Ele o olhar e o coração que nos permita viver em plenitude” (Ibidem nº 4). “As pessoas consagradas são chamadas – talvez hoje mais do que nunca – a serem profetas místicas e contemplativas para descobrirem os sinais da presença de Deus na vida quotidiana, serem interlocutores sapientes que sabem reconhecer os desejos que Deus e a humanidade põem nos sulcos da nossa história. O grande desafio é a capacidade de “continuar a ver deus com os olhos da fé num mundo que ignora a sua presença” (Ibidem nº 6).

A nós consagrados, faz-nos bem recordar, que nenhuma ação eclesial e pastoral é evangelicamente fecunda sem permanecermos intimamente unidos a Cristo que é a Vide (cf. Jo 15,1-11).

5. Chamados a sermos “odres novos” através do cuidado e do serviço pastoral

Nestes tempos difíceis e vulneráveis para a vida da Igreja e do mundo, no contexto da pandemia Covid-19, que infetou com este vírus tantos irmãos e irmãs das nossas comunidades, alterando o seu ritmo de vida, onde muitos foram infetados e ficaram doentes, sofreram a dor e a solidão, e muitos partiram para a casa do Pai, imolando as suas vidas em martírio como a do Mestre, pelas necessidades e santificação da Igreja e do nosso mundo.

Por isso, nestes dias de provação e de tempestade, o Papa Francisco encoraja-nos: “Jesus quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova não apenas com palavras, mas sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus. […] Evangelizadores com Espírito significa Evangelizadores que rezam e trabalham, que cuidam… […]. A Igreja não pode fazer nada sem o pulmão da oração” (cf. Ibidem, nº 6). Esta é uma missão fundamental da vida consagrada e do testemunho dos carismas que Deus concedeu à sua Igreja.

Procuremos na noite escura da pandemia, nas densas trevas que envolvem a humanidade, o amanhecer de um novo dia marcado pela fé, esperança e caridade, pela fraternidade, pela empatia, pelo cuidado humano e espiritual e pela experiência da resiliência.

Renovados e felizes pela fidelidade, levemos na nossa vida, o “tesouro escondido em vasos de barro”, o “vinho novo” da graça de Deus em “odres novos”, vivendo a vida nova de consagrados como dom na alegria, na paz, na perseverança, no testemunho do horizonte de fé.

Como muitos santos fundadores testemunharam a vida consagrada é sinal do jardim florido da Igreja, que Jesus quis semear e plantar neste mundo, através da construção do seu Reino de justiça, de paz e de amor. Somos chamados a construir com a nossa vocação, consagração e missão este jardim na Igreja.

 

Memória de São Timóteo e São Tito,

Viseu, 26/01/2021

 

† António Luciano
Bispo de Viseu
CategoryBispo, Diocese

© 2016 Diocese de Viseu. Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento: scpdpi.com

Siga-nos: