A Palavra de Deus apresenta-nos neste Domingo duas realidades importantes para a vivência da fé cristã e também para a fé que o povo de Israel procurava viver: a importância dos Mandamentos, o cumprimento da Lei do Senhor, o reconhecimento do “Deus único e verdadeiro” e a importância do Templo de Jerusalém no tempo de Jesus, como um lugar central na vivência da religião judaica e da sua comunidade.
O verdadeiro Templo é Jesus Cristo morto e ressuscitado. Com Ele e n`Ele, nós somos convidados também a ser o Templo do Senhor.
Da narração do Evangelho conhecemos que Jesus subiu a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Conhecemos também como se associava às peregrinações anuais ao templo (cf. Dt 16,16; Lc 2,14) e o episódio da purificação do templo de Jerusalém (cf. Jo 2,13-25), que indica de certo modo a missão de Jesus como ouvíamos hoje no Evangelho. Inflamado de zelo pelas coisas do Pai e pela sua Casa, irá purificar aquele lugar de oração e resgatá-lo da visão materialista, mundanista e pecadora, em que se tornara a Casa de Deus. A Casa do Pai é uma casa de oração. Daí entendemos as palavras de Jesus na expulsão dos vendilhões do Templo e de pedir para fazerem da Casa de seu Pai, uma Casa de oração.
Um dia, Jesus havia de dizer à Samaritana: “em todo o tempo e lugar em espírito e verdade, adorarás o Senhor teu Deus”. Deus mora no seu Templo e é preciso recuperar e purificar esse lugar sagrado. Tudo o que é sagrado pertence a Deus. Hoje na nossa caminhada quaresmal, Jesus Cristo convida-nos como cristãos a viver à luz da Palavra de Deus, a fazer um itinerário novo de fé, para que entendamos as suas palavras: “Destruí este Templo e Eu em três dias o reedificarei”. Jesus falava do seu próprio Corpo, da sua Morte e da sua Ressurreição, porque aí inauguraria a vida nova, um tempo novo. O Vivente tornar-se-ia o testemunho do Templo novo que é o Seu Corpo. Por isso, o Templo Santo de Deus é Jesus Cristo e com Ele nós a Igreja, somos chamados a ser as pedras vivas deste Templo do Senhor.
Podemos apresentar-nos diante de Deus de muitos modos. E também aqui a sua mensagem na diversidade de experiências de coração mostra a primeira exigência da Lei dada por Deus a Moisés. “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto (Ex 29,2). Chamados a adorar e a seguir o único Deus verdadeiro e a fugir da tentação do pecado e da idolatria.
A segunda realidade mostra-nos a importância e a centralidade do Templo para a vida do povo judeu, pois era aí que o povo se reunia para louvar o Senhor. Agora
a novidade do novo Templo assenta na pessoa de Jesus Cristo o crucificado, que sobe a Jerusalém para aí morrer e ressuscitar. São Paulo na primeira Carta aos Coríntios afirmava: “Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens (cf. 1Cor 1,22-25).
Por isso é em Jesus Cristo morto e ressuscitado, que no caminho quaresmal devemos encontrar a força para a nossa conversão e renovação interior.
A Igreja tem a missão de reconstruir em cada dia em cada um de nós este Templo, que começou a ser edificado também no dia do nosso batismo. Nós somos o novo Templo de Deus, chamado neste tempo quaresmal a ser reedificado pelo convite à conversão e pela graça do Sacramento da Reconciliação à qual Deus nos convida.
Se a liturgia de hoje nos convida a sermos um Templo novo, a termos uma vida nova, com uma fé renovada no Deus único e verdadeiro, cumprindo os seus mandamentos e a fazer deles o programa da nossa vida, desviando-nos de toda a espécie de mal e idolatria. Só com um coração convertido e renovado teremos um coração novo, uma vida nova, característica do novo Templo. Nos dez Mandamentos, a Palavra de Deus apresenta-se como uma Palavra criadora e libertadora, que nos ajuda a interpretar o verdadeiro sentido da nossa fé cristã à luz do mistério da Aliança. Um estilo de vida nova, purificada e renovada pela graça dos Mandamentos, mas também pelo Sacramento da Reconciliação, que deve limpar o templo do coração de cada um de nós de todo o apego ao pecado. Como nos diz o Papa Francisco, o Sacramento da Reconciliação é para perdoar os nossos pecados e limpar a nossa vida de toda a miséria do pecado para recebermos a misericórdia de Deus.
Ao vivemos hoje o Domingo da Cáritas, não quero deixar passar despercebido o seu lema: “É o amor que nos transforma”. Nestes tempos difíceis e de provação e neste Domingo sem a possibilidade da celebração comunitária da Eucaristia e de partilhar o nosso pão, como o fazíamos habitualmente para socorrer as necessidades dos nossos irmãos mais pobres e mais necessitados, não deixemos de o fazer por outros meios, vivendo a nossa fé aberta às necessidades dos nossos irmãos.
Convido-vos também a olharmos para o exemplo do Papa Francisco, a rezarmos pelos bons frutos humanos e espirituais da sua visita ao Iraque, a terra do Patriarca Abraão e da sua família. Olhemos para o testemunho daqueles cristãos que no meio de tantos sofrimentos e provações continuam a ser fiéis aos Mandamentos do Senhor e à Aliança.
As 24 HORAS PARA O SENHOR, proposta do Papa Francisco para 12 – 13 de março de 2021, próxima sexta-feira e sábado, vividas este ano num contexto eclesial diferente, em confinamento por causa da pandemia, convido todos os cristãos da Diocese de Viseu e aqueles que me escutam a viver esta jornada com muita fé, muita esperança, muita caridade e muita confiança, no desejo de nos desviarmos do mau caminho, convertendo-nos a Deus de todo o coração “Ele perdoa todos os teus pecados” (Salmo 103 (102),3).
Esta Jornada faz-nos um convite a fazer uma verdadeira catequese sobre o Sacramento da Reconciliação, para que logo que seja possível façamos uma confissão bem feita e com arrependimento dos nossos pecados. Que a vivência destas vinte e quatro horas para o Senhor nos ajudem a valorizar os passos da celebração do Sacramento da Reconciliação: Exame de consciência bem feito, vontade firme de me confessar bem, de acusar as faltas com arrependimento, de fazer um ato de contrição perfeito, com arrependimento e dor dos pecados e de satisfazer ou cumprir a penitência. As vossas palavras Senhor, são mais doces que o mel. Procurarmos viver na graça de Deus um caminho de santidade, de perseverança e de fidelidade. Nunca nos esqueçamos que Cristo veio para os pecadores. Os pastorinhos de Fátima de tudo ofereciam sacrifícios a Deus pelos pecadores. A misericórdia de Deus é infinitamente maior do que os nossos pecados. Deus ama o pecador, mas detesta o nosso pecado, porque ofende a Deus, contudo ama-nos sempre.
Acolhamos este dom na pessoa de Jesus Cristo, o Templo novo, que todos nós desejamos ser. O Templo de Deus é Santo e nós somos esse Templo. Que Nossa Senhora, a Senhora do Sim, que celebramos neste mês e São José neste Ano que lhe é dedicado, nos ajudem sempre a dizer sim a Deus e a fazer a sua vontade. Ámen.
Viseu, 7 de março de 2021