Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

 

1.

Deus falou… A boa nova foi anunciada! A morte aconteceu… O silêncio pairou sobre a terra. A gratidão é nos pedida agora no silêncio da fé.

Caríssimos cristãos, neste Domingo de Ramos, celebramos a entrada triunfal de Jesus, na cidade Santa de Jerusalém, onde foi aclamado Rei: “Hossana! Hossana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem, o reino do nosso pai David! Hossana nas alturas!” (Mc 11, 10).

Esta celebração quer ajudar cada um de nós, desde as crianças, os jovens, os adultos, os sacerdotes, os consagrados, os leigos, todas as pessoas de boa vontade a encontrarmos na gratidão do silêncio e da fé a graça de um Deus, que morre para nos salvar.  A grandeza do perdão transforma-se em misericórdia e por isso, quero viver convosco esta Eucaristia implorando do Senhor o perdão, a misericórdia, a reconciliação.

Não nos bastaria mais nada, do que ter escutado com fé o Evangelho da Paixão. Ele diz tudo e pergunta tudo. Quem dera que pudéssemos fazer em cada dia da nossa vida esta escuta da Palavra, com a meditação da Paixão. A Paixão de Jesus continua a acontecer todos os dias, como se experimenta nestes dias de pandemia e confinamento.

A narração da Paixão do Senhor, que escutámos segundo São Marcos, inicia com a unção de Jesus em Betânia, para nos dizer que Ele é o Messias, o Ungido do Senhor no qual nós também havemos de ser ungidos, porque Ele veio para dar a vida e salvar. Foi no decorrer de uma ceia, a ceia do amor, da comunhão e da partilha que Ele se entregou aos seus discípulos. Processo longo e pormenorizado, mas cheio de dor e de drama este da paixão. Afinal merecia Jesus de Nazaré este sofrimento? Não é Ele o Justo, mas também o Servo Sofredor, que terminou a sua vida na cruz? Este processo longo da condenação cheio de contradições, de mentiras, de maldades, de injúrias, e injustiças leva Jesus a fazer a sua entrega ao Pai.   Já na Cruz, prestes a terminar a sua carreira entregava-se ao Pai, rezando o Salmo: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?” (cf. Sl 21 (20) e Mc 15, 34). Jesus, “soltando um grande brado expirou” (Mc 15,37). Fez-se silêncio porque Ele morreu por ti, por mim. O centurião observando o sucedido exclamou: “Na verdade, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). É isto que nós hoje devemos professar e anunciar com a nossa fé.

Jesus é o Filho de Deus que sofreu, deu a vida e morreu na cruz para nos salvar. Por isso, Isaías na primeira leitura dizia a seu respeito: “O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dar uma palavra de alento aos que andam abatidos” (Is 50,4). Neste ano de pandemia e de provação quão sentidas foram estas palavras: “O Senhor Deus veio em meu auxílio”. Podemos dizer também nós hoje, o Senhor veio em meu auxílio e fui atendido.  Confiando N`Ele, aprendemos com Ele a “fazer a vontade do Pai”. São Paulo não cessa de repetir as palavras que disse aos Filipenses: “Cristo Jesus, que era de condição divina (…) aniquilou-se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou… (…) E lhe deu um nome que está acima de todos os nomes…” (cf. Fl 2,6 -11). Ele hoje quer entrar no teu e no meu coração, na nossa vida para O adorarmos.

2.

A obediência de Jesus ao Pai e a sua morte na Cruz, preparam o coração dos cristãos para viver os mistérios da Semana Santa, imitando os sentimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio para nos salvar e resgatar do pecado e da morte. Pregou a Boa Nova do Reino, passou a vida a fazer o bem, apresentou-se como o Rei na proximidade, viveu o cuidado do Bom Pastor, do Bom Samaritano, na libertação da escravidão, na proclamação da salvação, por nós fez-se obediente à vontade do Pai, aceitando voluntariamente o sofrimento e a morte na Cruz. Morreu para dar a vida, para nos resgatar do pecado e para nos salvar.

Ninguém pode ficar indiferente, todos somos culpados desta morte, da morte deste inocente, que se retrata neste tempo de pandemia em tantos irmãos e irmãs marcados pela provação, em tantos tormentos e sofrimentos, cuja dor deixa marcas em tantos rostos de cristos sofredores espalhados por tantas instituições de Saúde, nas famílias e nas Instituições Particulares de Solidariedade Social, onde todos os dias os devemos servir. Aí Jesus Cristo continua o drama da sua Paixão e continuam junto dele Maria, as mulheres e os amigos.

O Servo Sofredor continua a Sua Paixão, daí as palavras de São Paulo que nos confortam: “Completo na minha carne o que falta à Paixão de Cristo em benefício do Seu Corpo que é a Igreja”. O sofrimento, as dores e a morte, nunca são indiferentes à pessoa de Jesus Cristo, também não o serão para nós cristãos. Em tantos lugares do mundo onde podemos chegar como a Cabo Delgado, ao Myanmar, ou à catástrofe da Madeira, ou a outros lugares mesmo desconhecidos onde há ódio, violência, revolta, perseguição e de um modo particular ao Myanmar, ou a Cabo Delgado para quem hoje partilhamos a Renúncia Quaresmal. Queremos ajudar com o nosso pão para que espiritualmente e de modo anímico eles vivam este caminho da Cruz.

A Igreja como Maria, continua a ser a Mãe junto à Cruz, junto daqueles que sofrem, por isso oferece ternura e compaixão aos moribundos e aos defuntos, confortando e consolando os que estão de luto e choram os seus entes queridos.

Nós somos este Corpo de Cristo, que vive a experiência do mistério da Paixão e da Morte de Cristo durante esta pandemia que tão graves problemas trouxe à humanidade como a injustiça, a perseguição, a violência e a morte.

3.

Adoremos o nosso Rei e Senhor, entregando-lhe com disponibilidade, generosidade e caridade a nossa vida. Sigamos o seu exemplo no caminho da dor, do sofrimento e da morte para com Cristo esperarmos a hora gloriosa da sua Ressurreição. Somos todos chamados a pregar Cristo Crucificado, o Ressuscitado, que na grandeza do Mistério Pascal nos oferece a fonte da vida. Vivamos com fé esta Semana Santa, imitemos o Pastor, o Sacerdote, o Cordeiro e a Vítima, que no altar da Cruz perdoou os nossos pecados e nos concedeu o dom da Redenção e da Salvação Eterna.

Senhor Jesus, neste Domingo de Ramos e da Paixão, pórtico de entrada na Semana Santa, vislumbramos o mistério da Tua Paixão de da Tua Morte.

A Quaresma que vivemos, foi este tempo forte para mergulhar no nosso interior e fazer um tempo de revisão de vida, de conversão e de reconciliação.

Ensina-me Senhor, a descer sempre e cada vez mais ao lugar onde Tu te encontras intimamente comigo: no meu coração, no teu coração, Cristo o Ressuscitado quer viver.

Como “descer” até esse lugar tão íntimo, tão profundo, a consciência, o “santuário íntimo” onde Tu me habitas?

Num mundo cheio de dramas, de paixão e de silêncio quero encontrar tempo para rezar, para parar e escutar a Tua Palavra. Deixa Jesus que a narração da tua Paixão e Morte me cure pela graça da fé das minhas fraquezas e pela celebração dos Sacramentos, particularmente o da Reconciliação me perdoes os meus pecados e pela celebração da Eucaristia, Sacramento do Amor e da Comunhão, nos dê o Alimento que perdura até à vida Eterna.

Ajuda-nos Senhor a aceitar as contrariedades da vida, o peso das cruzes, as circunstâncias do mundo atual, as adversidades da pandemia Covid-19, com um número exponencial de infetados e tantos irmãos que morreram e sentiram como moribundos, que muitas vezes aquilo que lhes fez companhia é o abandono e a solidão.

4.

Jesus morreu na Cruz para nos salvar, para nos dar a vida em plenitude e abundância. Morreu para dar sentido, novidade e originalidade à nossa peregrinação Pascal. Este é o caminho da fé, que nos leva ao nosso interior e na tua Igreja a descobrir, que valeu mesmo a pena dar a tua vida para regatar o género humano, prisioneiro da miséria e do pecado.

Por isso, descestes da Cruz ao encontro de toda a pessoa humana para num encontro único e definitivo te encontrares connosco. Pelos méritos da Tua Paixão e Morte, conforta cada um de nós e dá às famílias, a todos os cuidadores, aos profissionais de saúde, aos voluntários e a todas as forças de segurança e serviços a recompensa pelo bem que fizeram. Entreguemos a Jesus os nossos jovens para que sintam que Jesus os ama e convida a seguir, a caminhar com Ele rumo à JMJ em Lisboa em 2023. Que a Igreja se renove nesta Semana Santa e todos sejamos mais jovens para que a Igreja se renove com o testemunho dos jovens, dos seus animadores e com o testemunho das famílias. Que todos pelos méritos das Tuas Santas Chagas sejamos curados e sintamos a força da solidariedade salvífica.

 

Que Maria, a Senhora da Piedade, a Virgem das Dores, que de pé junto à Cruz sofreu, acompanhada por João o discípulo fiel, as santas mulheres e os amigos, que sepultaram Jesus nos estimulem a sermos verdadeiros discípulos missionários, nos caminhos da dor e da esperança em busca da Luz Pascal. Ámen!

 

Viseu, 28 de março de 2021

† António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu
CategoryBispo, Diocese

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