Observatório Pastoral
No auge da sua vida pública, Jesus deixa aos discípulos o seu grande testamento que é o mandamento do amor, que Ele vive ao rubro, dando o exemplo «para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa» (Jo 15, 11).
De facto, a alegria é uma característica muito forte da primitiva comunidade da Igreja que encontramos descrita no Livro dos Actos dos Apóstolos. Não seria difícil de compreender esta alegria dos primeiros tempos? A experiência de seguimento e convivência com Jesus Cristo estava muito próxima no tempo. De que seria tecida esta alegria? As palavras que diziam e os gestos que faziam eram um reflexo direto do que tinham ouvido dizer e tinham visto fazer por parte de Jesus, mesmo que este lhes tenha dito: «Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há de converter-se em alegria!» (Jo 16, 20).
Hoje, a alegria parece estar catalogada como um entre muitos sentimentos, como reação emocional a uma panóplia de estímulos contraditórios, fruto da velocidade com que o ser humano vive, sem ser capaz de digerir bem o que experimenta, incluindo no que toca à esfera religiosa. Por isso, não admira que a alegria de certas pessoas, como a do Papa Francisco, de Bento XVI, de São João Paulo II, de Madre Teresa de Calcutá, dos Santos e dos Mártires em geral gere perplexidade a muitos.
A alegria cristã, que tem marcado os documentos pastorais do atual Sumo Pontífice, faz parte do mistério do caminho inédito que Jesus veio abrir e, por isso, é uma alegria que não tem os seus fundamentos nos prazeres aqui da terra. A alegria pascal de que as comunidades da Igreja são chamadas a revestir-se, para perpetuarem o testemunho de Jesus patente na fidelidade dos seus discípulos, é a alegria renovada pelo «encontro com Cristo». É esta experiência que «enche o coração e a vida inteira» de «quantos se deixam salvar por Ele» (Evangelii gaudium, 1).
No final do tempo quaresmal esta alegria ainda é contida, porque peneirada pelo crivo do Evangelho e da purificação penitencial, para não acontecer que apareça “mascarada” nas festividades da Páscoa, por vezes marcadas por euforias que não tem a sua raiz naquela primordial experiência que levava os primeiros cristãos a comungar da mesma fonte e a pôr tudo em comum. Porque a alegria cristã é dom do mistério que não se deixa manipular pelas tendências do mercado ou de hábitos tradicionalistas (por vezes, fundamentalistas porque ignoram o Fundamento), mas alimenta-se exclusivamente na relação com o Deus que nos ama infinitamente como filhos.
Revestirmo-nos da alegria pascal implica purificarmo-nos de tudo o que é contrário ao Evangelho, alegrando-nos por sabermos que só vale a pena servirmos um só Senhor. E não na teoria, mas naquelas coisas práticas que o Papa Francisco sugere que reconstruamos a ousadia da Igreja de Jesus Cristo!