“Ide por todo mundo e pregai o Evangelho” (Mc 16,15)
Jesus disse aos seus discípulos: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância.” É um desejo de cada um possuir esta vida em abundância, esta vida que Jesus oferece aos seus amigos, a todos os que desejam ser seus discípulos e realizar a missão da Igreja. O mandato de Jesus é ir por todo o mundo pregar o Evangelho a todas as criaturas, a todas as famílias, eis o desafio que nos faz o Papa Francisco para este ano “Família Amoris Laetitia”.
A família é uma nascente sempre a jorrar de onde brota a vida e o amor, que estrutura todo o ser humano e enriquece a sua personalidade como pessoa e como crente. A família é um tesouro que se revela para o maior bem da humanidade e da Igreja. Escrevi estas palavras no Jornal da Beira, quando anunciei a celebração do “Dia Diocesano da Família” (cf. Voz do Pastor, 13 de maio 2021).
Esta Eucaristia que celebramos leva-nos a entender com confiança as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, antes de subir ao Céu, quando prometeu aos seus apóstolos enviar o Espírito Santo, o Consolador, o Paráclito, aquele que nos havia de recordar todas as coisas. Disse que não se esqueceria de nós, não nos deixaria órfãos, nem abandonados, porque prometeu-nos estar sempre connosco, todos os dias até ao fim dos tempos. “Foi elevado ao Céu e sentou-se à direita de Deus” (Mc 16,15-20). Agora junto do Pai prepara-nos um lugar, porque na casa do Pai há muitas moradas. A nossa morada está nos céus, de onde nos espera Nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim como Jesus derramou sobre a comunidade primitiva da Igreja os seus dons e benefícios, derrama agora a sabedoria da Trindade sobre nós ao celebrarmos a Solenidade da Ascensão do Senhor ao Céu, a nós que vivemos a “Semana da Vida” e o “Dia Diocesano da Família”, ensinando-nos a aspirar sempre às coisas do alto, a desejar a glória do Céu. Neste lugar sagrado, a nossa Sé, a Igreja Mãe da nossa Diocese imploramos para todos nós, para os Leigos, as Famílias, os Membros dos Movimentos e Obras aqui presentes, os Meios de Comunicação Social, a graça de sermos um verdadeiro sinal positivo, uma “âncora” de esperança para as famílias da nossa Diocese e do mundo de hoje. Tocados pelo Espírito Santo imploramos para todos nós e para as nossas famílias os maiores dons espirituais, que são fonte de graça, de bênção e de salvação divina, pois Jesus disse: “Quem acreditar e for batizado será salvo”.
A vida que é preciso acolher, respeitar, amar, promover e educar em todos os momentos da nossa peregrinação é a vida de cada um de nós. A vida que nós somos e todos queremos ser mais, encontra em Jesus “a vida em abundância”. Precisamos de criar uma “cultura de vida” e dizer não a uma “cultura de morte”, dizer não às agressões à vida humana, minimizar os efeitos da pandemia cumprindo as orientações sanitárias, olhar para o confinamento e desconfinamento com esperança e confiança num mundo melhor, procurando voltar a uma nova normalidade possível com regras e responsabilidade. Não fazer do livre arbítrio a decisão de uma autonomia, que não respeita a heteronomia diante da vulnerabilidade dos outros e do mundo em que vivemos. A partir da nossa interioridade, saibamos caminhar pelo deserto da nossa vida e do mundo em busca do oásis da Páscoa e do Pentecostes para recebermos o Espírito, procurando não abandonar a experiência da fé e do amor.
É preciso incentivar a todos a caminhar na esperança, porque só a esperança nos libertará e nos fará verdadeiramente testemunhas de Jesus. O mundo em que vivemos marcado pelas suas fragilidades, atrocidades, grandezas e desafios precisa de encontrar na Mensagem do Papa Francisco para o 55º Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social, que celebramos a mensagem da esperança e da alegria: “Vem e verás” (1 Jo1,46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. Olhar com esperança para o futuro, sair à rua para ir ao dos outros, eis a missão dos jornalistas e também de todos nós, as famílias e os leigos, estarmos disponíveis para “gastar a sola dos sapatos”. Devemos convidar outros a participar: “Vinde e vereis” (Jo 1,39), este chamamento ao qual devemos responder para permanecer na relação da intimidade com Jesus.
Isto é importante para todos nós, para os que trabalham nos Meios de Comunicação Social, para as Famílias, os Movimentos e Obras podermos ser estes novos areópagos, que neste tempo de pandemia precisam de ser muito bem cuidados para comunicar um maior bem à sociedade e à Igreja. As tecnologias digitais são um instrumento formidável, que nos responsabiliza a todos como utentes e desfrutadores, porém nada substitui o ver e contactar pessoalmente os factos. Santo Agostinho dizia: “nas nossas mãos, temos os livros; nos olhos os acontecimentos”. Por isso, o desafio que nos espera é “o de comunicar, encontrando as pessoas onde estão e como são”, como lembra a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais.
Todos os Leigos aqui presentes, as Famílias e os membros dos Movimentos e Obras, principalmente o CPM, as Equipas de Nossa Senhora, Movimento por um Lar Cristão e os membros dos movimentos aqui representados aprendamos a contemplar Jesus que se elevou aos céus. Em Jesus temos o grande desafio da espiritualidade específica de cada movimento que deve ajudar a sociedade e a Igreja com ajuda dos Meios de Comunicação Social a construir boas famílias, as células base da sociedade e as verdadeiras Igrejas domésticas.
Jesus disse aos seus discípulos, que veio ao mundo para trazer a plenitude da vida, “para que todos tenham a vida em abundância”. A vida divina é a nascente de toda a vida humana, que no seio da família é gerada, nasce, cresce e desenvolve comunicando a todo o ser humano a sua individualidade, a unicidade, a identidade pessoal com uma natureza “única e irrepetível”.
A vida humana possui, portanto, um carácter sagrado e inviolável, no qual se reflete a própria inviolabilidade do Criador” (Evangelium Vitae, nº 53). Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1), como um dom de Deus para fazer da família a comunidade de vida de amor, chamada a uma vocação de serviço em favor do “santuário da vida”.
A Semana da Vida que vivemos com o tema: “a vida que sempre cuidamos”, convida-nos a cuidar da vida do próximo e a anunciar o próprio Cristo, o “Evangelho da Vida”, que devemos levar à vida e ao coração de todos, como verdadeiros evangelizadores que levam ao seio da família o Evangelho da alegria e do amor.
“Somos o povo da vida, porque Deus, no seu amor generoso, deu-nos o Evangelho da vida e, por este mesmo Evangelho, fomos transformados e salvos. Fomos reconquistados pelo “Príncipe da vida” (Act 3,15), com o preço do seu sangue precioso (cf. 1Cor 6,20; 7, 23; 1Ped 1,19), e, pelo banho batismal, fomos enxertados n’Ele (cf. Rm 6,4-5; Col 2,12) como ramos que recebem seiva e fecundidade da única árvore (cf. Jo 15,5). Interiormente renovados pela graça do Espírito, “Senhor que dá vida”, tornámo-nos um povo pela vida, e como tal somos chamados a comportarmo-nos” (EV nº 79). Somos enviados “até aos confins do mundo” (Act 1,8) a anunciar a Boa Nova de Jesus e a“estar ao serviço da vida” (EV nº 79). Os discípulos de Jesus receberam a missão de levar o Evangelho a todas as criaturas do mundo. “Jesus é o único Evangelho: Ele é tudo o que temos para dizer e testemunhar. O próprio anúncio de Jesus é anúncio da vida. Ele de facto, é o “Verbo da Vida” (1 Jo 1,1). N’Ele, a vida manifestou-se” (1 Jo 1,2); melhor, Ele mesmo é a “vida eterna que estava no Pai e que nos foi manifestada” (1 Jo 1, 2). Esta mesma vida, graças ao dom do Espírito foi comunicada ao homem” (EV nº 80).
A pessoa humana não é dona de si mesma, mas sim um dom do Criador para os outros, por isso devemos administrar e desenvolver a vida humana com amor, dignidade, respeito, liberdade, responsabilidade, empatia, fraternidade, solidariedade, criatividade e proximidade humana e evangélica. Só na amizade verdadeira com Jesus e com os irmãos, nos é dada a graça de saborear de modo sadio o dom da vida e do amor que nos vem de Deus. Como dizia em Fátima no dia 13 de maio de 2021, o Cardeal D. Tolentino Mendonça, “o amor é o mais verdadeiro, o mais perfeito, o mais desnecessário desconfinamento”. “A vida deve, pois, ser salvaguardada com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o infanticídio são crimes abomináveis” (Evangelium Vitae nº 62; cf. GS 51).
Neste “Dia Diocesano da Família” no contexto da “Semana da Vida” que estamos a viver, a vida que nos toca deve transformar a vida de cada um de nós, o nosso coração, a nossa família, a nossa sociedade e construir uma Igreja mais bela, mais santa, com a missão de anunciar, de “sair”, de construir pontes, de derrubar muros, de estabelecer relações novas de fraternidade, de solidariedade, de paz com todos os povos e pessoas de boa vontade.
A vocação da família humana é fundamental no nosso mundo, e, torna-se a fonte da vida, do amor, da comunhão, da beleza de novas relações entre os seres humanos. A família é a nascente natural e privilegiada da vida de onde brotam todas as vocações para o serviço da humanidade e da Igreja. A Ascensão de Jesus ao Céu representa-nos uma nova etapa na vida da nossa comunidade de discípulos de Cristo. Agradeço o trabalho realizado pelas equipas anteriores, de modo especial a cessante constituída pelo Padre Manuel António da Rocha Fontes Santos, recentemente falecido com a sua equipa de casais. Este acontecimento hoje, marca também a vida da Diocese com o relançamento da Pastoral Familiar, através da equipa nomeada para o Departamento, Laicado, Família, Movimentos e Obras constituída pelo Padre António Victor Amorim Portugal Martins da Congregação dos Missionários Filhos do Coração de Maria, Claretianos e pároco de Tondela, o casal Hélio da Silva Domingues, Diácono Permanente e sua esposa Gina Maria Figueiredo Marques Pereira e o casal Pedro Miguel Tavares Barreto Magalhães Crespo e Vera Lúcia Casqueiro Romão, a quem desejamos as maiores felicidades para este projeto. Obrigado por terem aceite este compromisso e desafio pastoral em tempos de dificuldade, que Deus abençoe o vosso trabalho e o sacrifício colocado em benefício das famílias.
Lembramos a narração dos homens vestidos de branco, que no Livro dos Atos dos Apóstolos diziam aos discípulos: “Homens da Galileia porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que o vistes ir para o Céu” (Act 1,11). Que “o Pai da glória vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração para compreenderdes a que esperança fostes chamados” (cf. Ef 4,1,13).
Eis o desafio missionário colocado à Igreja e a todos os batizados: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). É este o desafio que faço a todos vós nesta hora. Ide, mãos à obra e com a proteção de Nossa Senhora, Rainha das Famílias, de São José seu esposo e de Jesus Cristo, que está no Céu sentado à direita do Pai a interceder por todos nós e pelos bons frutos do nosso trabalho pastoral. Vamos viver este ano “Família Amoris Laetitia” com alegria cristã e com testemunho de fé.
Sé de Viseu, 15 de maio de 2021