Observatório Pastoral
O conflito de gerações é intrínseco à condição humana. Não há volta a dar. Olhamos admirados para as gerações vindouras, não conseguindo evitar os clichés: ai no meu tempo, ou esta juventude está perdida. Todos estes preconceitos contribuem para um desfasamento na aprendizagem e perda de conquista de um vasto auditório. Desconfio que muitos sacerdotes, religiosas e leigos gostassem de pregar o Evangelho a uma comunidade mais diversificada, nomeadamente no que diz respeito aos escalões etários. Ora, se olharmos ao episódio bíblico da Torre de Babel, percebemos que mais importante que a dominação imperial, é o entendimento do outro, de colocar-se no lugar do outro, em diálogo enriquecedor. Aliás como nos diz o padre, professor e ensaísta Anselmo Borges, numa crónica assinada há um ano, no DN, “o que tem de unir os seres humanos é a justiça, o amor, a solidariedade, a fraternidade, o respeito pela igualdade na diferença e pela diferença na igualdade, os seres humanos”. Se nos fechamos sobre os nossos próprios dogmas, caindo em velhas cismas, não podemos apontar o dedo quando vemos outros concluir que toda a freira teve um desgosto amoroso, ou todo o padre é chato. Suspeito que só a plena verdade, poderá trazer uma comunicação clara, percetível. Sem verdade, não se comunica.
Na estratégia de comunicação, pergunto, quantos na Igreja, costumam recorrer a storiesno Instagram? Porventura, muitos pesquisarão no exato momento, para saber ao que me refiro. Tantos continuam presos ao papel, que recorde-se, surgiu por volta de 105 d.C. (século II) na China, cujo invento se atribui ao chinês Ts’aiLun, ao cozer as fibras vegetais não lenhosas, como o algodão. Pergunto igualmente que aposta fazem as dioceses na comunicação? No limite, o papel de assessor é por vezes atribuído a alguém que já desempenha tantas outras funções que se olvida a responsabilidade de promover e divulgar as diversas iniciativas. Noutros casos, o assessor ou responsável de comunicação nem sequer existe, contribuindo para o encerramento da diocese sobre si própria. Sim, podemos ter muito boas intenções e boas ações, mas nos tempos que correm, falhar na comunicação, é ficar a meio caminho dos objetivos propostos.
Reservo o último parágrafo ao conteúdo proposto no título deste texto. Estratégias para comunicar? Procurar nas paróquias, jovens, leigos que nutram uma predisposição natural pelas novas tecnologias, redes sociais e incentivá-los a criar páginas/plataformas onde a comunicação seja mais célere, ao estilo de: hoje há missa às 19h, na Igreja da Nossa Senhora da Conceição. Vais ficar em casa? Outra estratégia e talvez mais do que estratégia, uma correção, cuidado com os textos demasiadamente longos no digital. A escrita no online assume contornos e apresentação própria, mais imagética e menos exaustiva. Uma outra estratégia: formação. Convidem jornalistas ou outros profissionais do vasto campo da comunicação e percebam o que pode ou não ser canalizado como esforço para uma maior proximidade com o público alvo. E por último, reitero, a verdade, falar a verdade com liberdade. Não se atingem determinados públicos por outra via, que não esta. Assobiar para o lado e dizer que esta juventude está perdida, sem procurar comunicar com ela, só vai aumentar as distâncias, que em alguns casos, já acusam alguns quilómetros.
Liliana Carona
Repórter/jornalista da Rádio Renascença e diretora do Notícias de Gouveia