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Observatório Pastoral

 

A Igreja de Deus convocada em sínodo é um acontecimento prévio a qualquer vocação de especial de consagração, considerada a participação na missão que Jesus Cristo lhe incumbiu neste mundo. As instituições formativas na dimensão da vocação ─ desde os CPMs aos Institutos de Vida Consagrada e os Seminários ─ não ficam fora da observação da realidade, não só quantitativa, mas também e sobretudo qualitativa.

Não é raro vermos manifestações mais ou menos fundamentadas nas redes sociais a questionar aquelas instituições formativas como ultrapassadas, no que toca à formação dos agentes de que hoje a Igreja precisa na missão, nomeadamente dos Seminários como se não tivessem sido atualizados desde Trento. Algumas críticas têm fundamento, outras não, ignorando os passos que se deram nas várias dimensões da formação.

Por outro lado, há um recíproco desconhecimento das mutações, quer sociais, quer pedagógicas, por causa do “jetlag” ou dessincronia das mudanças que acontecem no mundo pastoral e na formação para o ministério. A sinodalidade chama-nos a todos a “atualizar a hora dos relógios”, uma vez que quem tem “uma perna dentro e outra fora” dá-se conta da diferença de “fuso horário” da hora de formar e da hora de viver a missão.

Há, também, uma falta de uma equilibrada gestão de tempos e recursos humanos quanto às etapas da formação, do ponto de vista horizontal: aposta-se tudo nas instituições próximas da consagração, por causa da urgência de ter padres ou religiosos (ex. Seminários Maiores) e menos nas etapas de sensibilização e predisposição (ex. Catequeses vocacionais, Seminários em Família-Paroquiais ou Arciprestais). Esta falta de equilíbrio diacrónico é verificado precisamente na hora de dialogar entre os pares da missão sobre estas instituições, assim como na responsabilização sobre que jovens devem ou não ser admitidos às diversas etapas, ficando o peso só sobre as pessoas nomeadas para as instituições (o que já de si fala de uma Igreja pouco sinodal).

Outro aspeto, não menos importante, é a sincronização das ideias quanto ao que parece (dever) ser a Teologia prática do Sacerdócio Ministerial ─ tema muito caro à Igreja, que em fevereiro do próximo ano 2022 realizará um simpósio “Por uma teologia fundamental do sacerdócio”, pedido pelo Papa Francisco à Pontifícia Congregação para os Bispos.

Num tempo em que o papel dos padres (e maioritariamente os párocos) deixou de ser só o de cuidadores de almas, ficando sobrecarregados com estruturas pastorais em contínuo crescimento, ficando reduzidos à função de gestores, a formação para a liderança ficou aquém do esperado, como se a função/poder da diaconia na Igreja fosse só responsabilidade deles. Não admira que o hoje famoso “abuso de poder” tenha as suas ramificações de causa-efeito mais ou menos nocivas (até aos atos plausíveis de punição criminal).

Não raramente, também, se ignora o protagonista com o qual Deus decidiu caminhar na história da salvação: o seu Povo, que para muitos não passa de uma imagem do passado, por causa da dificuldade em aceitarem a pluralidade das Igrejas particulares e outras (dentro, respetivamente, do catolicismo e do cristianismo), assim como outras representações de fé no Deus de Abraão que nos irmana na fraternidade humana.

É muito feliz o “tripé” em que se apoia o tema deste Sínodo 21-23, «Por uma Igreja Sinodal»: comunhão, participação, missão. Pode ver-se como uma estratégia de restauração das relações humanas que ficaram de tal maneira institucionalizadas e individualizadas dentro da Igreja que, consequentemente, também, por vezes, des- ou sobre-naturalizadas, porque resistentes ou impermeáveis aos ingredientes “vitamínicos” da fé, esperança e caridade (tradicionalmente chamados de “virtudes teologais”), dos quais sempre dependerá a missão da Igreja em cada tempo e que estão acessíveis a todos (e não só a uns “experts”), para que a Salvação seja sempre um encontro recíproco do humano com o divino. Neste sentido, urge pensar a vocação como o chamamento-resposta para que haja cada vez mais acompanhadores de projetos de vida cristã, o que também implica mudanças na forma como se pensam as comunidades.

 

P. António Jorge dos Santos Almeida
CategoryDiocese, Pastoral

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