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Observatório Pastoral

 

Desde há algum tempo, de várias partes, vai-se afirmando que as comunidades eclesiais vivem um momento de grande mudança: uma mudança mais profunda e radical do que qualquer outra renovação vivida nos tempos passados.

Esta convicção é suportada pela retórica da mudança causada pela pandemia – acontecimento atualmente objeto de uma espalhada hermenêutica “apocalíptica” – interpretada como uma cesura epocal, uma aresta da história, quase como se fosse o primeiro acontecimento do género.

Mas o que devemos entender como mudança? Em que consiste? É feita sobretudo de arquiteturas pastorais diferentes das adotadas até agora? De novos setores ou apenas de novos nomes dados a setores que já trabalhavam?

Na realidade, nunca será a mudança das formas estruturais e organizativas a produzir uma verdadeira e estável transformação na consciência de uma comunidade. Aliás, as transformações exteriores poderão induzir à ilusão de se ter dado um passo para o denominado “novo”, mas de facto afastam-no, provocando o fenómeno «da imunidade à mudança», como foi definido por alguns estudiosos.

Como escreveu o padre Spadaro na revista “La Civiltà Cattolica”, «para fazer sínodo é preciso expulsar os comerciantes e derrubar as suas bancas… Mas quem são hoje os “comerciantes do templo”? Só uma reflexão impregnada de oração poderá ajudar-nos a identificá-los… Os comerciantes estão sempre próximos do templo, porque aí fazem negócios, aí vendem bens: formação, organização, estruturas, certezas pastorais. Os comerciantes inspiram o imobilismo das soluções velhas para problemas novos, isto é, o usado seguro que é sempre um “remendo”, como o define o pontífice. Os comerciantes vangloriam-se de estar “ao serviço” do religioso. Muitas vezes oferecem escolas de pensamento ou receitas prontas a usar e geolocalizam a presença de Deus, que está “aqui” e não “ali”».

A verdadeira mudança acontece apenas quando todos aqueles que compõem uma comunidade avançam rumo a um outro e alto nível harmónico: por outras palavras, quando o seu fogo intrínseco («Eu vim lançar fogo sobre a Terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» (Lucas 12, 49)), a sua paixão, se tornam mais vivos e, por conseguinte, a luz que dele emana intensifica-se e atrai; quando tudo aquilo que faz parte da vida de uma comunidade – relações, conteúdos cognitivos, qualidade do pensamento, valores, planos e projetos, e assim por diante – é transportado conscientemente por um nível de luz e de energia mais cativante e mais prometedor.

A verdadeira mudança é aquilo que intensifica a consciência e a missão de cada componente e que envolve todos os membros da comunidade, cada qual segundo as suas possibilidades e a parte de serviço que exerce no interior do conjunto.

Sem visão, porém, a mudança é impossível. Cada programa de mudança precisa de uma visão. O problema principal, por isso, é a visão, uma visão que envolva coração, cabeça e mãos.

A mudança numa comunidade não pode derivar das propostas de formas diversas feitas por alguém, por muito boas que possam ser. Mas deve ser acompanhada por caminhos internos de cada um e de todos, com persistência… O importante é envolver-se, sentir-se parte ativa do processo em concretização. (…)

 

Domenico Marrone
In Settimana News
CategoryDiocese, Pastoral

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