Open/Close Menu A Diocese de Viseu é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal

Observatório Pastoral

 

Para garantir o sucesso da mudança são necessárias uma visão e um envolvimento ativo de todos os membros da comunidade, através de uma liderança participativa e uma clareza operativa, no momento de colocar a mudança em prática. Trata-se, do mesmo modo, de especificar uma equipa visionária, reconhecendo a qualidade e o talento das pessoas, dando-lhes confiança.

Sim, porque antes ainda de soluções e programações precisamos de visões. Afirmava Antoine de Saint-Exupéry: «Se queres construir uma barca, não juntes homens para cortar madeira, dividir as tarefas e distribuir ordens, mas ensina-lhes a nostalgia pelo mar vasto e infinito». Mudar quer dizer olhar em frente, avançar rumo ao futuro…

Cada comunidade eclesial, paroquial e diocesana, em sintonia e dentro do caminho da Igreja universal, é chamada a ter a sua visão, um sonho que tenciona realizar através da sua prática pastoral.

A primeira coisa que o papa Francisco nos entregou foi um sonho: “Evangelii gaudium”. «Eu sonho uma Igreja…». Descreve-nos o que sonha, diz-nos a sua visão, e é essa que arrasta as pessoas, que as coloca em movimento dentro de um processo generativo… capaz de orientar, de indicar a direção de marcha, de estimular à mudança.

Qual é o sonho que queremos realizar? Qual é a transformação real que queremos gerar no mundo como comunidade? A pertença à comunidade não é gerada por algo que se faz, mas pela partilha de uma visão, de um sonho.

Uma verdadeira nova visão é precisamente um diferente ponto de vista sobre as coisas, e, portanto, um modo diferente de ser homem e mulher, de se ser crente, que emerge num dado momento da história para a iluminar de uma outra maneira.

A visão deve ser capaz de evocar com suficiente clareza a imagem de um futuro possível, credível e desejável. Trata-se de sonhar em grande. E sonhar juntos. Como Igreja não percamos tempo em coisas inúteis, sonhemos! Precisamos de um impulso forte, honesto e eficaz rumo ao futuro.

As “visões” não vêm à superfície se nos dobrarmos obsessivamente sobre nós próprios, continuamente a considerar feridas, fragilidades, limites, bloqueios, medos, transformando grupos e comunidades numa espécie de grupo permanente de autoajuda. Se continuarmos nessa direção… acabamos por produzir “crentes-catos”. Por onde passam, deixam feridas. Crentes que se alimentam diariamente de desconfiança e se defendem de todos e consideram sempre o outro como a causa das suas feridas. Ou, então, acaba-se a produzir “crentes-bola”, crentes inchados, cheios de si, orgulhosos das suas tradições, das suas práticas, que não precisam de nada nem de ninguém.

A Igreja precisa de crentes livres. Livres do medo, do preconceito, homens e mulheres de pensamento livre, com ideias fortes porque temperadas pelo confronto (“sinodalidade” não como conceito teológico, mas como estilo permanente), para fazer experiência autêntica de um pensamento inovador e, portanto, abrir passagens à luz de visões inéditas na história.

A Igreja é um laboratório onde, como no oráculo provocatório de Joel (3, 1), os nossos filhos e filhas profetizam, os nossos idosos têm sonhos e os nossos jovens constroem novas visões, não só religiosas, mas também novas compreensões culturais, económicas, científicas e sociais?»

 

Domenico Marrone
In Settimana News
CategoryDiocese, Pastoral

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