Observatório Pastoral
No início de cada ano, ao tocarem as doze badaladas da meia noite, deparamo-nos com uma tradição pagã/supersticiosa, que se foi uniformizando na mentalidade e nas tradições sociais, de se comerem doze passas enquanto se pedem doze desejos para o novo ano. A verdade é que, sem se comerem as passas, seria bom que se expressassem doze desafios ou doze desejos para a Igreja no novo ano que se inicia, sempre com a perspetiva coerente e humana de S. Paulo VI: “Homens sede homens”.
Abrir – Em pleno tempo sinodal, em que toda a comunidade eclesial é chamada a caminhar como um todo na construção de uma Igreja que se quer renovada e aberta ao mundo e ao indivíduo, é essencial que se construa uma abertura ao mundo para o transformar a partir de dentro, algo que apenas é possível se se olhar como um todo, numa luta contra a suposta superioridade eclesial.
Escutar – Os problemas do mundo não são problemas externos à vida eclesial, mas fazem parte de um caminho de transformação e de atualização da fé, devendo ser acolhidos de maneira coerente e séria.
Acolher – Num mundo de solidão e individualismo o acolhimento de quem sofre e necessita de um ombro amigo é fundamental para dar dignidade e valorizar a pessoa humana.
Transformar – Não se pode viver numa realidade eclesial estagnada ou presa no passado porque é na transformação de critérios e dinâmicas que se pode atualizar a fé e viver a realidade de Cristo vivo em cada momento e dia.
Celebrar – A liturgia é a imagem visível da Igreja e a sua celebração com dignidade é a entrada primordial na vida divina. Os cristãos deverão olhar para a celebração da liturgia como algo que faz parte de si procurando que a mesma seja desclericalizada.
Contemplar – Num mundo marcado pelo materialismo e pelo mecanicismo cego, a Igreja poderá ser fonte de uma perspetiva de contemplação, não apenas da realidade transcendente e divina, mas também da realidade humana e de todos os desafios ético/morais que as inovações tecnológicas vão lançando.
Renovar – Se é verdade que a Igreja tem muito para dar à realidade humana, mesmo que esta não deseje receber, também é verdade que existe muita coisa a receber e é importante que a Igreja tenha humildade para receber e se renovar.
Converter – A chamada à conversão é essencial para um caminho coerente com o amor de Deus, constantemente oferecido à humanidade. A conversão tem um lugar fundamental na vida do cristão, mas existe sempre o perigo de ser adulterada. A conversão solicitada não é a si próprio, mas à Palavra de Deus.
Participar – Independentemente da sua interação com a vida eclesial ativa todos os cristãos fazem parte do Corpo da Igreja e seria bom que todos sentissem isso para que todos os batizados vivam uma participação ativa.
Comungar – A vida comunitária e litúrgica é fundamental para a proximidade com a pessoa de Jesus Cristo. As restrições sanitárias derivadas da pandemia vivida na atualidade afetaram a normal participação dos fiéis. Comungar deve ser um desejo para o novo ano no desejo da existência de uma participação ativa e presencial dos fiéis na vida litúrgica personificada no gesto eucarístico fundamental da comunhão.
Inovar – Não se pode ter medo da novidade, mas também não se pode perder o tesouro da tradição. A inovação é sempre necessária numa relação harmoniosa entre a novidade e a tradição. No entanto, sem um desejo inovador as consequências podem ser nefastas com a cristalização da pastoral eclesial.
Sair – O verbo sair será um constante desafio para a Igreja deste e de todos os anos, porque quando se deseja a frutificação do Evangelho vive-se “uma dinâmica de êxodo e do dom, de sair de si mesmo, de caminhar e de semear sempre de novo, sempre mais além.» (Papa Francisco, A alegria do Evangelho, 21)